Viva Dom Sebastião! Coluna Mário Marinho
Viva Dom Sebastião
Coluna Mário Marinho
Durante quase um século, o povo português acorreu às margens do Tejo e olhava esperançoso em direção ao mar na esperança de que Dom Sebastião estivesse de volta.
De 1578 a mais ou menos 1640 o Sebastianismo tomou conta de Portugal. Era a esperança de que o rei que havia tombado em guerra no território africano voltasse para tirar do trono um réu usurpador.
Pois bem, em tempos mais modernos, há meio século Portugal sonha com uma conquista mundial no futebol.
Em 1966, dirigida por Oto Glória, a Seleção Portuguesa ficou em terceiro lugar na Copa do Mundo. Um feito e tanto – mas ainda não era a volta de dom Sebastião.
Mais recentemente, em 2004, a Eurocopa foi disputada em Portugal. Agora sim, esfregaram as mãos e os bigodes e prepararam pratos e mais pratos de bacalhau que seriam seguidos de uma quantidade enorme de pasteis de Belém.
No dia que seria de festa, a Seleção da Grécia levou a taça.
Eis que neste domingo, 10-07-2016, Portugal pôde, enfim, fazer sua comemoração. Dom Sebastião não voltou, mas a Copa Europa 2016 é portuguesa.
Esperava-se que o belo estádio Saint Denis, nas cercanias de Paris, fosse palco de um inesquecível duelo entre Cristiano Ronaldo, o Belo, e Antoine Griezmann, o Pequeno.
Mas o destino, que sempre nos dá os mais incríveis dribles, tirou o Belo do campo de batalha com apenas 20 minutos de jogo. O Pequeno talvez sentindo a falta do oponente sumiu em campo.
E o que se viu foi um time que atacava, a França, e outro que se defendia, Portugal.
Com exceção de algumas boas jogadas de Pogba, os ataque franceses se mostraram destituídos de beleza, do romantismo francês. Foi necessário que a plebe entoasse diversas vezes a Marselhesa, cujo ritmo épico e letra incendiária é capaz de por fogo em qualquer montanha glacial. Nem assim.
Portugal, sem poder contar com o Belo, passou a se defender com a vontade e a garra própria dos grandes guerreiros.
Assim, o que se viu foi um jogo fraco, morno em seu primeiro tempo.
No segundo, os franceses atacaram um pouco mais e encontraram do outro lado ainda mais resistência. No gol português, como se fosse o lendário Costa Pereira, considerado o melhor goleiro de Portugal no final dos anos 50 e começo dos anos 60, Rui Patrício fez todas as defesas, segurando todas as bolas que ousaram passar pelas muralhas portuguesas.
Portugal, confiando em seu goleiro Rui Patrício, tocava a bola à espera da decisão por pênaltis. Afinal, a derrota nos pênalti é sempre gloriosa. E o que dizer então da vitória?
Mas foi aí que apareceu Éder.
Éder é Ederzito António Macedo Lopez, nascido em Guiné Bissau. O garoto chegou a Portugal aos três anos de idade e pouco depois foi entregue a um orfanato que dava abrigo a crianças cujos pais não conseguiam sustentar.
Foi ali que Ederzito deu seu primeiros chutes e até quebrou algumas vidraças. Aos 19 anos já se profissionalizava passou por alguns times até chegar à Inglaterra, onde não se deu bem. Atualmente – olha o destino aí outra vez -, ele joga no francês Lille.
Eder não é, ou pelo menos na era, uma unanimidade entre os torcedores portugueses.
Talvez agora seja. Mas e os franceses do Lille?
Enfim, Portugal venceu com justiça. O futebol é um prédio que pode ser planejado por arquitetos os mais famosos e badalados; pode ter artistas com seus toques e retoques finais; pode ter finas cores, decoração. Pode tudo isso.
Mas pode também ser derrubado por uma equipe de pedreiros disposta a trabalhar e que acredite que é possível. Como os portugueses fizeram.
Dom Sebastião não voltou, mas, a Eurocopa está lá.
Ouça a narração do gol de Eder pela rádio Renascença, de Lisboa
https://youtu.be/KIbQyPN59uo
Os melhores momentos com narração da Globo
https://youtu.be/_311s7F3tOY
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Mario Marinho – É jornalista. Especializado em jornalismo esportivo foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, nas rádios 9 de Julho, Atual e Capital. Foi duas vezes presidente da Aceesp (Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo). Também é escritor. Tem publicados Velórios Inusitados e O Padre e a Partilha, além de participação em livros do setor esportivo
A COLUNA MÁRIO MARINHO É PUBLICADA TODAS AS SEGUNDAS E QUINTAS AQUI NO CHUMBO GORDO.
E SEMPRE QUE TEM NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR.
Excelente matéria Amigo Mário Marinho, parabéns pelas palavras !!!
Fraterno abraço.
Xandão (CPC).
Ederzito começou a dar nas vistas, na “minha” Académica de Coimbra, (antes do Lille) viu ?
Beijos,
Milai,
Coimbra
Olá, Milai.
Você tem razão, antes do Lille o Ederzito jogou na Académica de Coimbra.
Então, duplo parabéns para Você: pelo título da Eurocopa e pelo gol do Ederzito, revelado pelo seu seu time.