OS VOTOS E A PROMESSA: “VOU VOLTAR!”

Josué Machado

Por que eles votam assim? Por que Cunha ainda manobra nas sombras ou nem tanto e ameaça voltar? E Temer aceita a ralé porque gosta ou porque não pode recusar, como no governo anterior?

Será cedo demais para esquecer?

Como o processo contra Dilma ainda está em curso, e Cunha prometeu voltar ao seu gabinete sem medo dos supremos juízes de votos rococós cheios de erudição discutível, vale a pena lembrar.

Por falar em votos, inesquecível foi o do estupendo deputado Heráclito Fortes (PP/PI) na Câmara contra a presidentA.

Nem é preciso lembrar o do deputado Boçalnato (PSC/RJ) pela homenagem que fez ao torturador Ustra, por ser pessoa (pessoa?) fora de série. Sub-seres ambos, ninguém duvida.

Mas Heráclito, um senhor robusto com o qual a natureza não foi piedosa do ponto de vista estético e parece falar com uma batata quente na bocota, levou um papel com o nome dos familiares e começou a nomeá-los um a um, começando pela patroa, dona Mariana, a primeira filha, também Mariana, e por aí foi até chegar ao neto por nascer, pobrezinho.

Foi de fato um voto comovente.

Enquanto isso, Cunha ouvia todos aparentemente imperturbável, sem esquecer de anotar o nome dos 47 que o chamaram de corrupto sem mais nem menos, por dá cá aquela palha, como diria Temer.

E assim se manteve Cunha-Vou-Voltar! até o fim, impassível, com ar de paisagem suíça congelada cheia de montanhas e de bancos.

Sim, porque ele não tem conta bancária na Suíça como garantiu pela 26.ª vez na comissão de ética (Por que maiúsculas iniciais?), mas continua com seus tentáculos compridos. Agora estendidos subterraneamente no governo de Temer Lulia, que parece não ter outro jeito de conseguir apoio da ralé do baixo clero manobrada pelo indestrutível polvo do mal:

“Que venha para nosso aprisco o tal de André Moura-ficha-sujíssima como líder do governo na Câmara; tratá-lo-ei como bem o merece!”, há de ter pensado Lulia com seus zíperes.

É o que dizem os otimistas.

Uma glória geral.

Nota: André Moura (PSC-SE) é alcunha: o nome do pau-mandado de Cunha é André Luís Dantas Ferreira, réu em três ações penais e investigado em pelo menos mais três inquéritos.

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Josué Rodrigues Silva Machado, jornalista, autor de “Manual da Falta de Estilo”, Best Seller, SP, 1995; e “Língua sem Vergonha”, Civilização Brasileira, RJ, 2011, livros de avaliação crítica e análise bem-humorada de textos torturados de jornais, revistas, TV, rádio e publicidade.