Cuidado com o acento

CUIDADO COM O ACENTO

por Josué Machado

… seria bom alguém trocar a placa com acento no caminho para o jaburu, palácio onde moram por enquanto Michel Miguel e Marcela, a “Bela, Recatada e do Lar”.

O lugar onde têm vivido nos últimos cinco anos o vice-presidente Michel Miguel Elias Temer Lulia e senhora em Brasília foi batizado com o nome de “Palácio do Jaburu”. Mas numa placa azul de sinalização indicativa do caminho da felicidade está grafado “Palácio Jaburú”, assim mesmo com acento agudo no “u”.(Essa é uma placa que a TV Bandeirantes costuma exibir nos noticiários em que mostra o caminho para a morada da paz e do amor.)

Jaburu é o nome de um grande pássaro pernalta também conhecido como tuiuiú, tuiuguaçu, tuiú-quarteleiro, tuiupara, rei-dos-tuinins, tuim-de-papo-vermelho (Mato Grosso e Mato Grosso do Sul), cauauá (Amazonas) e jabiru (na região Sul do Brasil). Elegante apenas quando voa. Como voava o petê nos velhos tempos.

Mas isso não importa aqui e, sim, a razão do acento no “u”.

Porque não há razão para esse acento em palavras oxítonas terminadas em “u”, a menos que precedido de vogal com que não forma ditongo. Assim: baú, Esaú, Grajaú, jaú, maú (ave e árvore); crateú, pajeú; guaiú, tuiuiú. Ocorre um hiato, portanto, porque a vogal que precede o “u” fica numa sílaba, e o “u”, em outra.

Em caso contrário, nada de acento no “u” final de oxítonas, convém repetir:

      Monossílabos (*):   BU, FU, GU, MU, NU, PU, SU, TU, VU.

Dissílabos: BAMBU, BILU, EXU, LULU, NHAMBU, TABU, TATU,  ZEBU, ZULU.

Trissílabos: CAPITU, JABIRU, JABURU, URUBU, URUCU.

Polissílabos: GUAPURUBU, PIRANAMBU, TUIUGUAÇU.

Sendo assim, seria bom alguém trocar a placa com acento no caminho para o jaburu, palácio onde moram por enquanto Michel Miguel e Marcela, a “Bela, Recatada e do Lar”.

 

(*)NOTA: Na relação de monossílabos terminados em “u”, faltou apenas um que não convém citar em veículos de respeito porque usado em expressões deselegantes e situações extremas, como o fez Luizinácio numa daquelas edificantes conversas gravadas noutro dia em que mandava o juiz Sérgio Moro lá introduzir investigações e mandados.

Não fica bem.

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JOSUE 2Josué Rodrigues Silva Machado, jornalista, autor de “Manual da Falta de Estilo”, Best Seller, SP, 1995; e “Língua sem Vergonha”, Civilização Brasileira, RJ, 2011, livros de avaliação crítica e análise bem-humorada de textos torturados de jornais, revistas, TV, rádio e publicidade.

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