Enfrentamos, no Centro-Sul, uma das maiores secas da história. E como desgraça pouca é bobagem, a recessão impôs um corte da ordem de R$ 20 bilhões no orçamento das Forças Armadas.
Enquanto a solução definitiva não cai do céu, e as políticas públicas para a gestão dos recursos hídricos caminham a passo de tartaruga, a maior parte da solução imediata fica nas mãos de quem paga a conta. A ação foi consequência direta do quase colapso do Sistema Cantareira, que antes do agravamento da estiagem chegou a abastecer cerca da metade da população da região metropolitana de São Paulo (o pico foi de 9 milhões de pessoas), e também municípios adjacentes como Jundiaí, onde também está a sede do 12º Grupo de Artilharia de Campanha.
“Todo o trabalho começou com uma proposta de parceria entre o 12º Grupamento de Artilharia de Campanha e o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo, em Jundiaí”. Foi marcada uma reunião entre o comandante da organização militar, o tenente-coronel Mendes, e um dos diretores do CIESP, na própria sede do 12º GAC. Também acompanhou o encontro o especialista em gerenciamento de recursos hídricos e coordenador de meio-ambiente da FIESP”, relata Roberto Mario Polga, coordenador do CIESP de Jundiaí.
Acertados os detalhes iniciais, foi realizada uma palestra para todo o efetivo do quartel, cujo objetivo era sensibilizar a tropa para a necessidade de preparar um fluxograma de distribuição da água na organização militar, visando elaborar um plano de contingência para enfrentar eventual racionamento de água em Jundiaí.
Primeiro, foi feito um diagnóstico sobre a eficiência do uso da água na OM, identificando todos os pontos de distribuição, visitando instalações, banheiros, cozinha, para constatar como a água era utilizada diariamente, além de levantar os hábitos de consumo dos militares. Para tanto, foi criada uma força-tarefa constituída pelo efetivo de manutenção, liderada pelo comandante da OM e o especialista técnico.
O elemento-chave do projeto é o Redutor de Vazão. Trata-se de uma simples peça circular de plástico, criada pelos alunos do SENAI-SP, de 1/2 polegada de diâmetro, com um orifício concêntrico. Segundo as instruções de instalação, esse dispositivo pode reduzir o consumo de água em até 50% quando instalado em torneiras, sem comprometer a eficiência do abastecimento. Foram entregues cerca de 5.000 dessas peças ao 12º GAC, para as torneiras da OM e na vila onde residem os 600 militares da corporação. Em caráter complementar, foram ensinadas as técnicas e explicados certos procedimentos que reduzem o uso da água ao mínimo necessário para realizar as tarefas domésticas do dia-a-dia, sem comprometimento da rotina de trabalho.
A instalação de redutores nas linhas de água não se limitou à sua colocação nas torneiras. Foi necessária uma análise técnica de todo sistema de adução, caixas d`água e avaliação da pressão hidrostática na rede, para que não ocorressem vazamentos ocasionados pelo aumento de pressão.
Fazendo uma analogia muito do agrado do coordenador Polga, é como ocorre no corpo humano: o sangue flui através de uma artéria com uma pressão de 2 atmosferas, mais ou menos. Se ali aparece um obstáculo, como um coágulo, a pressão do sangue naquele ponto aumenta, ocasionando seu rompimento e um derrame. Em termos hidráulicos, acontece a mesma coisa: se diminuirmos o diâmetro do cano na saída, a pressão da água aumenta, podendo ocasionar um rompimento e, como consequência, um vazamento.
No 12° GAC, não foi diferente: a capacidade de reservação da caixa d’água foi reduzida em 50% para a instalação de todos os redutores e, gradativamente, foi trazida de volta ao volume pleno. Depois de cheia, foi aberta aos poucos para que a pressão da água aumentasse devagar. Mesmo assim, houve rompimentos em alguns pontos, por conta da tubulação antiga, em alguns pontos ainda de ferro fundido, com mais de cem anos de instalação. Mas nada de que a equipe de manutenção do quartel não pudesse cuidar de pronto.
Com a orientação técnica do Departamento de Meio Ambiente da FIESP e o apoio do CIESP local, o 12° GAC elaborou um plano de contingência, trocou canos antigos de ferro por novos de PVC, localizou e consertou vazamento e criou uma rotina de acompanhamento das leituras dos hidrômetros e da conta de água. Na fase de prognóstico, foram instalados todos os redutores, reguladas as válvulas de descarga e, o mais importante: todo o contingente foi conscientizado e abraçou a causa para uma mudança de hábitos que geravam desperdícios. Todo esse conjunto de procedimentos e atitudes redundou em uma redução de consumo na ordem de 63% – muito acima da meta projetada, de 20%.
Esse foi o terceiro projeto realizado. Os dois anteriores foram realizados no SENAI de Americana e no SESI de Jundiaí, ambos executados pelos próprios alunos. Nesses casos, a meta era de 20% de economia, e o resultado final alcançou a média de 30%. O 12º GAC foi a primeira (e até agora, única) instituição militar a adotar o modelo, mas a experiência valeu como um “Projeto-Piloto”, e deve ser reproduzida em outras unidades das Forças Armadas. Todavia, qualquer cidadão ou empresário interessado pode entrar em contato com a FIESP ou a CIESP local, para receber gratuitamente os redutores, além de orientação técnica.
————————————————————————————————————————————————————— Jarbas de Barros é aviador e jornalista. Colabora com revistas especializadas desde o final da década de 1980. Traduziu para o Português textos e artigos sobre o assunto, dentre eles o livro “Sur Les Traces du Aeropostale”. Trabalhou em rádio e foi editor de projetos especiais da revista “Forças de Defesa”, onde passou a escrever também sobre Defesa e Segurança Pública.