Edição para os jornais de Domingo, 21 de fevereiro de 2016
Faz muitos, muitos anos – muitos anos mais que o episódio Fernando Henrique – Mirian Dutra. Um poderoso dirigente militar, viúvo, tinha um longo caso com uma senhora viúva. Ele, dirigindo seu carro, driblava a segurança e ia para o apartamento da referida senhora. A segurança, é óbvio, o acompanhava de longe. E pedia discrição aos repórteres. Todos, inclusive os mais radicais adversários do regime, discretos foram. O que havia ali era um caso particular, sem nada que afetasse a política do país.
Os presidentes muitas vezes tiveram amantes – de Virgínia Lane, a Vedete do Brasil, a Maria Lúcia Pedroso, milionária, uma das maiores anfitriãs do Rio; de estrelas do teatro de revista a proprietárias de hotéis. De professoras cultuadas a militantes políticas. Isso nunca foi assunto para a imprensa. Jornalismo é jornalismo, fofoca é fofoca. Diz Ricardo Kotscho, grande jornalista, que foi secretário de Imprensa do presidente Lula: “Tenho por norma de conduta como jornalista não tratar da vida privada de políticos nas análises que faço (…) Limito-me a relatar e comentar fatos de interesse público”. Normalmente, discordo de todas as ideias de meu amigo Kotscho, até quanto a futebol; mas temos o mesmo conceito de jornalismo, o que muito me honra. Quem não tem esse conceito jornalista não é.
Quem não tiver pecado que atire a primeira pedra, disse Jesus, num caso de adultério. A cultura popular criou outro ditado: Macaco, olha teu rabo.
De agora em diante
O episódio, enquanto problema pessoal de indivíduos adultos, não será mais tratado nessa coluna. Pessoas bem-educadas fazem fofocas, adoram fofocas, mas em particular. Só gente grosseira as usa como arma política.
E, dando fim ao tema, em www.chumbogordo.com.br, seção Mira na Imprensa, duas testemunhas oculares dos tempos de namoro, dois ótimos jornalistas, Tão Gomes Pinto e Hugo Studart, contam o que observaram.
O recorde de roubo
Pensa que é só no Rio que seis vigas de 20 toneladas cada uma somem sem que ninguém consiga achá-las? Não! Em São Paulo, numa área rigidamente guardada – o aeroporto internacional de Guarulhos – sumiu um avião Airbus A-300, que pertenceu à frota da Vasp, e pesa 142 toneladas.
Como no caso das vigas, é um roubo que exigiu máquinas. E ninguém viu.
Compensa, sim
O ministro Teori Zavascki determinou a libertação do senador Delcídio Amaral, líder do PT no Senado, preso desde 25 de novembro após a gravação de uma conversa em que oferecia ao ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró a possibilidade de uma fuga para a Espanha, onde receberia uma quantia suficiente para ir tocando a vida.
Delcídio, na verdade, não foi libertado: está em prisão domiciliar. Mas pode sair de casa para trabalhar no Senado, cuidando de nossas leis. Nas folgas, fica em casa, segundo a ordem do ministro, De acordo com seu advogado, Figueiredo Basto, não há hipótese, agora que deixa a prisão, de que haja delação premiada.
Processo paulista
O Tribunal de Justiça de São Paulo ordenou que seja aceita a denúncia contra cinco executivos de quatro grandes empresas, acusados de participar de cartel e fraudar a concorrência na extensão da linha 2 do Metrô. A denúncia tinha sido rejeitada em abril de 2014, já que o juiz havia considerado que o crime de formação de cartel estava prescrito. As empresas envolvidas são Bombardier, Alstom, Balfour Beatty e T-Trans. O Metrô tinha fixado preço de R$ 135,9 milhões A proposta vencedora foi de R$ 141,4 milhões, que chegaram a R$ 162,5 milhões com os aditivos.
Pátria educadora
Está bom, todos sabemos que slogan do Governo vale tanto quanto estar cheio de propriedades no Banco Imobiliário. Mas não precisava exagerar: desde 2009 um projeto já aprovado pelo Senado, que reduziria drasticamente para as famílias o custo da volta às aulas, está nas gavetas dos deputados governistas, contrários a qualquer redução de impostos. O projeto 6.705/2009 elimina a tributação sobre o material escolar (hoje, como exemplo, uma caneta paga 47% de impostos; um lápis, 34,99%; um caderno, 34,99%). E 25% dos alunos não completam o ensino básico.
Pátria deseducadora
A Câmara dos Deputados gastou R$ 118 milhões na reforma dos apartamentos funcionais – aqueles que Suas Excelências ocupam, no máximo, de terça a quinta, isso quando não há recesso, recesso branco, festas regionais em qualquer região do país, ou eleições.
Agora é preciso cuidar dos apês renovados: a Câmara contratou sem licitação, por R$ 5 milhões, uma empresa para cuidar da portaria e fazer a limpeza dos prédios. A propósito, a mania do “sem licitação” está se espalhando pelo país: procure em São Paulo alguma licitação para obras de ciclovias.