As ações e omissões. Por Edmilson Siqueira
…O Parlamento Europeu, por exemplo, não tem dúvida do culpado. Ali, uma sessão inteira foi dedicada a falar do “pária” mundial, acusando Bolsonaro de algo muito próximo de um genocídio que estaria sendo cometido não por ignorância, como se fosse uma selvagem ditadura tribal, mas sim por pura teimosia de não abrir mão de um pensamento fixo, de não mudar de opinião, enfim, de ter todas as características de um “serial killer” com uma poderosa caneta na mão…
O presidente Jair Bolsonaro, não sei se por conta própria ou por influência do bando de puxa-sacos que o rodeiam (e são puxa-sacos por exigência dele, pois se não forem são demitidos), vive num mundo paralelo, completamente alheio à realidade do país que ele deveria presidir.
Uma declaração recente sua prova, mais uma vez, esse distanciamento do que ocorre debaixo de suas narinas, mesmo com o fétido odor virtual de mais de 400 mil cadáveres de brasileiros produzidos, em boa parte, pelas “ações e omissões” de seu governo. Disse Bolsonaro ao se referir à recém criada CPI da Covid: “Eu não temo essa CPI. Ela foi criada para investigar ações e omissões do governo. Ou seja, nem tem nem um fato determinado.”
Como se vê, o “mundo da Lula” do ex-tenente reformado capitão, é coisa de louco. E aqui não é força de expressão: é coisa de louco mesmo. Pois o seu próprio governo se incumbiu, antes da primeira reunião da CPI, de listar 23 ações e omissões que, durante a pandemia da covid-19, foram responsáveis por muitas das mais de 400 mil mortes, por falta de leitos normais e de UTI, por compra e distribuição de remédios que mais matam do que curam e que não são indicados para a doença, por recusa de comprar vacinas quando lhe foram oferecidas por um grande fabricante e que poderiam minimizar a pandemia, pois seriam entregues ainda no fim do ano passado e a vacinação hoje, estaria muito mais adiantada, por espalhar milhares de fake news que levaram muitas pessoas a recusar vacinas e a se automedicar erroneamente, agravando a própria saúde (e até morrendo por isso), enfim, são tantas as “ações e omissões” que Bolsonaro e sua gangue praticaram, que ele vai acabar sendo condenado não por uma delas e sim pelo conjunto da obra, já que todas são gravíssimas e contribuíram enormemente para o Brasil chegar onde chegou.
E o Brasil chegou onde nunca esteve antes.
Hoje, nosso país é considerado uma espécie de leproso no globo terrestre e, consequentemente, são muitos os países que ou fecham suas fronteiras para viajantes brasileiros ou exigem atestado de vacinação, teste feito na véspera da viagem e quarentena de uma ou duas semanas ao chegar no destino.
Além disso, organismos internacionais importantes já se debruçam sobre o “fenômeno” brasileiro, tentando entender como chegamos a essa situação. O Parlamento Europeu, por exemplo, não tem dúvida do culpado. Ali, uma sessão inteira foi dedicada a falar do “pária” mundial, acusando Bolsonaro de algo muito próximo de um genocídio que estaria sendo cometido não por ignorância, como se fosse uma selvagem ditadura tribal, mas sim por pura teimosia de não abrir mão de um pensamento fixo, de não mudar de opinião, enfim, de ter todas as características de um “serial killer” com uma poderosa caneta na mão.
Segundo reportagem do Estadão, o debate no Parlamento Europeu nesta quinta-feira, 29, “se transformou em uma sessão de críticas a Jair Bolsonaro, que foi chamado de “negacionista” e de adotar a “necropolítica” na resposta à crise sanitária.”
E a reunião nem tinha como objetivo falar mal do governante brasileiro. O objetivo era “discutir ajuda da União Europeia (UE) aos esforços dos governos nacionais para enfrentar a covid-19 e a relação entre o elevado nível de desigualdades sociais e econômicas no continente e o avanço fora de controle da pandemia.”
Sim, os deputados de esquerda foram os mais eloquentes, mas o xis do problema aqui não é a ideologia e, sim, saber se o que eles disseram é verdade ou não.
Miguel Urbán, espanhol e de esquerda, disse: “Por ação ou omissão, a necropolítica de Bolsonaro constitui um crime contra a humanidade que deve ser investigado.”
Jordi Solé, também espanhol e também de esquerda, disse: “A gestão da crise de saúde pelo presidente brasileiro pode transformar o país em uma incubadora de novas cepas do coronavírus.”
A portuguesa Isabel Santos disse: “A situação no Brasil é mais difícil por causa do irracional negacionismo de Bolsonaro, que fez de tudo para que a população não seja vacinada. Não é um erro, e sim uma irresponsabilidade deliberada.”
Outro português, Paulo Rangel, disse: “O impacto da pandemia foi agravado por erros políticos e por visões negacionistas, como é o caso do Brasil.”
Como se vê, a barra do Brasil está bem suja lá pelas bandas da Europa e a culpa, obviamente, passa pelas “ações e omissões” de Bolsonaro e sua turma de milicos que pensam que podem ser médicos.
E a CPI das “ações e omissões”, que começou lavando roupa suja em frente às câmeras, tem tudo para se transformar no palco ideal para que esse governo seja levado às barras dos tribunais. Porque não é possível que, diante de tantos crimes praticados diariamente, esse genocida não só escape das leis como ainda tenha chance de se candidatar novamente ao cargo de presidente da República.
Se eleito outra vez, será muita desgraça para um país só.
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Edmilson Siqueira– é jornalista
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