
Europa decide pelo rearmamento diante da ameaça russa. Por Rui Martins
Europa…O problema é o custo que representará todo esse rearmamento defensivo. Mas como acentua o alemão Merz, prestes a ser confirmado como novo chanceler, “custe o que custe” deverão ser feitos esses investimentos maciços na defesa da Alemanha, mesmo que as contas fiquem deficitárias.
Imitando de certa forma, o discurso de Churchill de maio de 1940, Emmanuel Macron falou em ameaça russa, necessidade de reformas e de uma nova era, no seu discurso no meio da semana, de quinze minutos, pela televisão. Trump foi mais prolixo no seu discurso diante do Congresso, que se prolongou por duas horas.
Enquanto o presidente estadunidense Donald Trump provoca a união dos países europeus com a suspensão de ajuda na luta da Ucrânia contra a progressão da invasão russa, os 22 países da Liga Árabe estiveram reunidos no Cairo para fazer frente à transformação de Gaza numa Riviera do Oriente Médio.
A primeira impressão para quem vê o noticiário na tevê francesa com o discurso do presidente Macron, depois do discurso de Trump, em Washington, é de um estranho clima de pré-guerra, no qual se fala em se defender o território europeu com um aumento nas despesas de um rearmamento de urgência.
Essa impressão se reforça, com a chegada da notícia de um maciço rearmamento da Alemanha, comunicado pelo futuro chanceler Friedrich Merz, e a convocação de todos os países europeus sob a liderança da Inglaterra, França e Alemanha para se prepararem à proteção da Ucrânia, no caso de um acordo de paz. Inclusive com o envio de tropas, destinadas não ao combate mas a vigiar o cumprimento pela Rússia do esperado acordo de paz.
Tudo muito estranho porque a inesperada e incompreensível aproximação dos Estados Unidos de Trump com a Rússia de Putin, deixou os países europeus sem a costumeira proteção dos Estados Unidos. Embora Trump pareça confiar no russo Putin, os europeus demonstram desconfiança com base em experiências de compromissos não respeitados pelos russos.
O problema é o custo que representará todo esse rearmamento defensivo. Mas como acentua o alemão Merz, prestes a ser confirmado como novo chanceler, “custe o que custe” deverão ser feitos esses investimentos maciços na defesa da Alemanha, mesmo que as contas fiquem deficitárias.
Em síntese, a Europa passou a sofrer de russofobia, medo do urso russo, tão logo Donald Trump declarou retirar sua proteção à Ucrânia.
Enquanto isso, os países árabes procuram contornar a ameaça de Trump, esperando manter os palestinos em Gaza, no processo de reconstrução da região previsto por cinco anos com um custo de 55 bilhões de dólares. Para não provocarem Israel e os Estados Unidos, já parece decidido, o movimento islâmico Hamas, governando Gaza desde 2006, terá de ceder seu lugar para a Autoridade Palestina, da concorrente OLP, movimento palestino laico, criado por Yasser Arafat.
Entretanto, no encontro no Cairo, não se falou num desarmamento do Hamas. Mas ficou evidente a desconfiança dos países árabes com relação ao Hamas, responsável pelo ataque do 7 de outubro sem consulta prévia.
Tão logo Trump teve conhecimento da decisão dos países árabes, já a considerou irrealista, afirmando ser inabitável a Faixa de Gaza e necessitando uma evacuação coletiva. Quase ao mesmo tempo, na sua rede Truth Social, Trump ameaçou os palestinos de Gaza, caso não devolvam rapidamente todos os reféns israelenses.
Algumas referências:
https://www.letemps.ch/monde/les-etats-arabes-presentent-leur-alternative-au-projet-trump-sur-gaza
https://truthsocial.com/@realDonaldTrump
- Rui Martins também está em versão sonora no Youtube, em seu canal –
https://www.youtube.com/@rpertins
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Rui Martins – Direto da Suiça – é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu Dinheiro sujo da corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, A rebelião romântica da Jovem Guarda, em 1966. Foi colaborador do Pasquim. Estudou no IRFED, l’Institut International de Recherche et de Formation Éducation et Développement, fez mestrado no Institut Français de Presse, em Paris, e Direito na USP. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI