Inteligência ou burrice artificial?

Inteligência ou burrice artificial? Por Aldo Bizzocchi

Inteligência ou burrice artificial? Seria cômico se não fosse trágico. Basta imaginar a quantidade de estudantes de todos os níveis utilizando esses aplicativos de IA para fazer trabalhos escolares…

Inteligência ou burrice artificial?

 Meu leitor Maurício Terra Dias pediu ao ChatGPT que escrevesse uma matéria crítica sobre a minha obra. Alguns excertos da resposta são os seguintes:

Aldo Bizzocchi, embora não seja amplamente reconhecido no circuito artístico mainstream, representa uma figura de significativa importância dentro do contexto da arte contemporânea, principalmente no que diz respeito à arte brasileira. Sua obra, marcada por uma abordagem multifacetada, transita entre o abstrato e o figurativo, o pictórico e o tridimensional, explorando as potencialidades da forma, da cor e da textura. No entanto, sua produção não se limita apenas ao campo visual: Bizzocchi insere questões filosóficas e existenciais em seu trabalho, criando um diálogo constante entre o concreto e o metafísico. […] Uma das características mais marcantes da obra de Bizzocchi é a reflexão sobre a condição humana. Ele utiliza suas peças como uma espécie de laboratório visual para investigar a fragilidade da existência, as tensões entre o ser e o não ser, e a busca por sentido em um mundo muitas vezes marcado pela incerteza e pelo caos. […] A técnica adotada por Bizzocchi também é digna de destaque. O artista se utiliza de materiais inusitados, entre eles a escultura e o desenho, para construir peças que provocam tanto a percepção tátil quanto a visual. […] Ele não tem medo de mergulhar no experimental, desafiando o espectador a sair da zona de conforto e repensar sua percepção estética. […] Uma crítica que pode ser feita à obra de Aldo Bizzocchi é a sua complexidade. […] O trabalho do artista exige paciência, atenção e um certo grau de envolvimento do espectador, o que pode ser desafiador para quem está acostumado com a superficialidade da arte de consumo rápido. […] Ele não está preocupado em agradar ou em se encaixar em tendências; sua arte é antes um reflexo de sua própria visão de mundo. […] Aldo Bizzocchi, com sua arte imersiva e muitas vezes desconcertante, é uma figura essencial no panorama da arte contemporânea. Sua capacidade de transformar o abstrato em algo visceral e de forçar o espectador a uma experiência sensorial e filosófica ao mesmo tempo é o que faz sua obra relevante. […] Mais do que um artista que se insere em uma tradição ou tendência, Bizzocchi é um criador de universos, um reflexo da busca constante pela transcendência e pelo entendimento de um mundo em constante transformação.

Confesso que fiquei lisonjeado com resenha tão elogiosa — exceto pelo fato de que eu não sou nem nunca fui artista plástico e minha única incursão no mundo das artes foram alguns poemas que escrevi muito tempo atrás.

Segundo Maurício, a resposta da Meta AI à mesma pergunta foi ainda mais estranha. E, ao trocar o meu nome pelo dele, saiu uma lenga-lenga enorme sobre sua influência como artista revolucionário.

Mas ele também fez testes pedindo uma análise crítica sobre a obra do neto de um amigo que tem três anos de idade. E pediu ainda uma comparação entre as ideologias de Karl Marx, Groucho Marx, Roberto Burle Marx, Armando Marques e Gabriel García Marques. Resultado: mais um monte de blá-blá-blá sem nexo e, pior, sem relação com a realidade.

Evidentemente, como assinala Maurício, existe uma enorme quantidade de inteligência envolvida na produção de respostas por esses aplicativos. O problema é que eles deliram e inventam informações que absolutamente não correspondem à verdade. Seria cômico se não fosse trágico. Basta imaginar a quantidade de estudantes de todos os níveis utilizando esses aplicativos de IA para fazer trabalhos escolares.

Em tempos de pós-verdade, em que o que importa não são os fatos e sim as versões, tese defendida tanto por Trump e os bolsonaristas quanto pela esquerda identitária, programas como o ChatGPT e a Meta AI caem como uma luva. Diante de tão honrosa análise crítica de minha obra, agora só falta eu expor meus quadros em alguma galeria famosa — quando eu pintar algum, é claro.

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ALDO BIZZOCCHIAldo Bizzocchi é doutor em linguística e semiótica pela Universidade de São Paulo (USP), com pós-doutorados em linguística comparada na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e em etimologia na Universidade de São Paulo. É pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Etimologia e História da Língua Portuguesa da USP e professor de linguística histórica e comparada. Foi de 2006 a 2015 colunista da revista Língua Portuguesa.

Acaba de lançar, pela Editora GrupoAlmedina,

“Uma Breve História das Palavras – Da Pré-História à era Digital”

Site oficial: www.aldobizzocchi.com.br

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