Medicina psicossomática: bytes e emoções. Por Meraldo Zisman
ENTRE BYTES E EMOÇÕES: A PSICOSSOMÁTICA NA REVOLUÇÃO
A Medicina Psicossomática é um campo interdisciplinar que investiga a relação profunda entre mente, corpo e emoções, reconhecendo que esses elementos estão intrinsecamente conectados. Diferentemente de abordagens médicas tradicionais, que frequentemente tratam corpo e mente como entidades separadas, essa área parte do princípio de que fatores psicológicos, emocionais e sociais desempenham um papel fundamental na saúde física. Assim, emoções como ansiedade, estresse, tristeza ou raiva podem se manifestar no corpo, originando sintomas físicos ou agravando condições preexistentes.
Quando enfrentamos situações de pressão emocional intensa, o corpo responde ativando o sistema nervoso autônomo, responsável por funções como frequência cardíaca, digestão e respiração. Embora essa resposta seja natural, sua ativação prolongada, como ocorre em casos de estresse crônico, pode gerar consequências prejudiciais à saúde. É comum, por exemplo, que doenças como hipertensão, enxaquecas, distúrbios digestivos e até condições autoimunes tenham relação direta com o estado emocional do indivíduo.
A Medicina Psicossomática busca compreender e tratar essas manifestações físicas não apenas por meio de medicamentos, mas também explorando as causas emocionais subjacentes. Esse campo vai além do tratamento dos sintomas físicos, propondo-se a entender o paciente como um todo, analisando sua história emocional, suas relações interpessoais e o contexto social em que está inserido. Assim, profissionais da área não apenas tratam o que é visível no corpo, mas também investigam como traumas emocionais, lutos ou sentimentos reprimidos podem estar na raiz do problema. Por exemplo, condições como a Síndrome do Intestino Irritável, conhecida por sua forte relação com o estresse, são abordadas com uma perspectiva que integra intervenções médicas e terapias emocionais.
Na prática, a Medicina Psicossomática adota uma abordagem holística, combinando psicoterapia, manejo do estresse, mudanças no estilo de vida e, quando necessário, medicamentos. Técnicas como meditação, mindfulness e terapias integrativas também são frequentemente utilizadas, buscando restaurar o equilíbrio entre corpo e mente. Pesquisas nessa área demonstram que emoções e traumas não resolvidos podem ser gatilhos para manifestações físicas, reforçando a importância de tratar saúde e bem-estar de maneira integrada.
Na era digital, a relevância da Medicina Psicossomática é ainda mais evidente. A constante exposição a estímulos tecnológicos, notificações incessantes e o ritmo acelerado da vida moderna geram novos tipos de estresse que frequentemente encontram vazão no corpo. Muitas pessoas relatam sintomas como insônia, dores musculares e fadiga crônica, frequentemente associados a estados de alerta permanente impostos pela hiperconexão digital. Além disso, o paradoxo da conexão virtual, que nos mantém tecnicamente ligados enquanto aumenta o sentimento de solidão, também contribui para a intensificação de condições como ansiedade e depressão, ambas com reflexos físicos diretos.
Embora a tecnologia ofereça ferramentas úteis para a saúde, como aplicativos de meditação e plataformas de terapia online, é fundamental lembrar que nenhuma inovação substitui a empatia, o toque humano e a conexão real, que são pilares do cuidado integral. A Medicina Psicossomática nos convida a refletir sobre essas questões e a adotar pequenas mudanças, como desconectar-se de vez em quando, ouvir os sinais do corpo e priorizar relações humanas genuínas, preservando assim nossa saúde física e emocional em um mundo cada vez mais digital.
Esse campo nos lembra que o verdadeiro equilíbrio está na harmonia entre corpo e mente, e que inovação e humanidade devem caminhar juntas para um bem-estar pleno.
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Meraldo Zisman – Médico, psicoterapeuta. É um dos maiores e pioneiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Vive no Recife (PE). Imortal, pela Academia Recifense de Letras, da Cadeira de número 20, cujo patrono é o escritor Alvaro Ferraz.
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