Crônica quase natalina. Por Adilson Roberto Gonçalves
Crônica… O Natal aqui abaixo da linha do Equador me parece o ápice do sincretismo religioso e cultural, mesclando as lendas nórdicas com narrativas judaico-cristãs, sem deixar de lado outras crenças…
Lendo a produção literária espalhada por meios cibernéticos e impressos, concluo que as crônicas de fim de ano falam de Natal. No mês mais curto do ano, o calor que nos bate à porta parece acalentar parte daquilo que deveríamos ter sido e feito também nos últimos 300 ou mais dias, mas é o marco de uma data que prevalece.
Há os que conseguem plasmar uma história singela e significativa e nos emocionar com ela, fazendo-nos pensar um pouco mais sobre nossa verdadeira e necessária natureza. Outros preferem fazer balanço de um ano que termina, junto com planos e esperanças para o próximo. De toda forma, nas decorações desta época importamos neve e fogueiras para os trópicos, e aqui passamos o período da troca de calendário na praia, sob sol escaldante.
Quando morei na Alemanha, os nativos daquele país se incomodavam com o fato de existir algum lugar do mundo em que o Natal fosse comemorado no calor, não no frio. Aqui o Papai Noel sua em sua fantasia grossa, perdão pelo trocadilho. Até estão investindo no desenvolvimento de melhores roupas, mais climatizadas, para esses profissionais temporários. Deveriam mudar o foco da situação, plasmando um entregador de presentes e escutador de desejos vestindo roupas leves, de bermuda, chinelos, e trocando a farta barba branca por um sorriso moreno.
O Natal aqui abaixo da linha do Equador me parece o ápice do sincretismo religioso e cultural, mesclando as lendas nórdicas com narrativas judaico-cristãs, sem deixar de lado outras crenças, além, é claro, da oportunidade capitalista de aumentar vendas e presentear amigos, parentes e até desconhecidos. O dólar recebe bênçãos, contribuindo com o verde das cores típicas da época, a despeito de ignorantes abolirem seu complementar vermelho por não conhecerem o mínimo de história e de simbolismos. A mudança de estação é coincidente com a época, adentrando o verão aqui e o inverno no hemisfério norte. Portanto, felicitemos o solstício que se aproxima!
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– Adilson Roberto Gonçalves – pesquisador da Universidade Estadual Paulista, Unesp, membro de várias instituições culturais do interior paulista. Vive em Campinas.