Cora Coralina e o essencial para viver. Por Paulo Renato Coelho Netto
Cora Coralina… A mulher que revelou: “Venho do século passado e trago comigo todas as idades”.
Doceira, deixou um legado de sabedoria. De onde vem tamanha evolução senão do acúmulo de vidas? Uma mulher que estudou até o terceiro ano primário.
Sapiência não faz nexo com grau de escolaridade.
O poema “Meu Destino” pode, facilmente, ser tomado como de autoria de qualquer grande filósofo ateniense. Ninguém ousaria contestar a sabedoria da filósofa sem túnica do interior de Goiás.
Igualmente para a estética dos versos, que encantaram Carlos Drummond de Andrade, mais um entre os incontáveis admiradores da obra a poeta.
Sobre o destino, escreveu Cora Coralina: Nas palmas de tuas mãos / leio as linhas da minha vida. / Linhas cruzadas, sinuosas, / interferindo no teu destino. / Não te procurei, não me procurastes – íamos sozinhos por estradas diferentes. / Indiferentes, cruzamos / Passavas com o fardo da vida… / Corri ao teu encontro. / Sorri. Falamos. / Esse dia foi marcado / com a pedra branca da cabeça de um peixe. / E, desde então, / caminhamos juntos pela vida…
Uma mulher poderosa que considerava seus doces cristalizados melhores que qualquer poema que fez ao longo dos 95 anos de vida, boa parte na Casa da Ponte, na cidade de Goiás, onde nasceu. A mulher que revelou: “Venho do século passado e trago comigo todas as idades”.
A doceira se foi em 1985, antes do Brasil amargar de vez. Antes da normalidade do absurdo.
Vozinha cheirosa que a gente quer abraçar para sempre. Que a simplicidade da casa revela a alma de quem habita ali. No ar, aromas de figos e café. Pão e manteiga caseiros. Pássaros em volta e um galo para cantar bom dia. O essencial para viver.
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Paulo Renato Coelho Netto – é jornalista, pós-graduado em Marketing. Tem reportagens publicadas nas Revistas Piauí, Época e Veja digital; nos sites UOL/Piauí/Folha de S.Paulo, O GLOBO, CLAUDIA/Abril, Observatório da Imprensa e VICE Brasil. Foi repórter nos jornais Gazeta Mercantil e Diário do Grande ABC. É autor de sete livros, entre os quais biografias e “2020 O Ano Que Não Existiu – A Pandemia de verde e amarelo”. Vive em Campo Grande.