Asilo na embaixada

Embaixada da Rússia em Brasília Painel no saguão monumental

… À porta da embaixada da Hungria é que Bolsonaro não bate mais. Não quer levar outro desacato. Que embaixada(s) nosso ex-presidente indiciado poderia escolher agora? Vejamos.

Asilo na embaixada
Embaixada da Rússia em Brasília
Painel no saguão monumental

Cutucado por jornalistas, Jair Bolsonaro acenou com a possibilidade de refugiar-se numa embaixada. Foi um balão de ensaio que ele soltou, não se sabe bem com que intenção.

A ‘ameaça’, se assim se pode qualificar a fala do figurão agora penalmente indiciado, me fez cogitar. Fazer o quê numa embaixada? E que embaixada escolher?

Parece que faz um tempão, mas foi este ano, em março, que Bolsonaro entrou de mala e cuia na embaixada da Hungria em Brasília, crente de que sua “amizade” com Viktor Orbán fosse lhe garantir tratamento VIP. De mala e cuia é expressão, que na verdade ele não levou roupa de cama nem alimento. Lá se instalou, sem pedir licença, com o sentimento de quem acha que tudo lhe é devido.

A tragicomédia durou dois dias, o tempo de o embaixador pedir instruções a Budapeste. Que fazer com o incômodo visitante? Antes que a coisa caísse na voz do povo, Bolsonaro foi gentilmente convidado a retirar-se do local. Asilo? Não é possível.

Para que a notícia entrasse no domínio público pela grande porta, entregaram ao The New York Times, considerado o jornal mais importante do mundo, o relato do acontecido, acompanhado das imagens do circuito interno. Pra ninguém botar defeito. Todos puderam ficar sabendo que o candidato ao asilo tinha entrado por livre e espontânea vontade, sem coação.

À porta da embaixada da Hungria é que Bolsonaro não bate mais. Não quer levar outro desacato. Que embaixada(s) nosso ex-presidente indiciado poderia escolher agora? Vejamos.

 Estados Unidos

Precisaria primeiro atravessar as portas do prédio. Não entra lá quem quer. Se lhe permitissem entrar, é de apostar num cenário à la húngara, ou seja, com um asilo sumariamente negado. Com ou sem Trump na Casa Branca, ninguém – nem Donald Trump – quer importar um trambolho incontrolável como Bolsonaro. O melhor a fazer é cortar o mal pela raiz, não permitindo a entrada dele sequer na embaixada. (Dependesse de mim, é o que seria feito.)

 Países do mundo ocidental

Nas outras democracias ocidentais, calculo que o raciocínio seja o mesmo. Portanto, Alemanha, Canadá, Japão, França, Romênia, Austrália & semelhantes entram neste capítulo.

 Argentina

Depois de eliminar o Ocidente democrático, sobram as ditaduras, a América Latina, a África e o sudeste da Ásia. Não imagino Bolsonaro batendo à porta da Argentina. Milei reina por enquanto, mas… e amanhã?

 África, Ásia

África? Ásia? Não consta que o ex-presidente se sentisse bem na África. No sudeste da Ásia (Tailândia, Filipinas, Nova Guiné)? Você acha?

 China, Rússia, Índia

Eliminados todos os anteriores, quem é que sobrou? As ditaduras mais fechadas, que combinam com a alma e o espírito de Jair Messias. O nome principal é a Rússia. Seus satélites também entram na lista: Casaquistão, Bielo-Rússia, e os outros. Tirando a Rússia, o último refúgio possível seria a China ou a Índia.

Bolsonaro e seus filhos já trataram Pequim de todos os nomes e já lhe atribuíram todos os defeitos possíveis, a começar por “comunistas”. Com que cara vão agora pedir favor aos chineses? Quanto à Índia, é exótica demais.

Espremido o limão, quem é que sobrou? A Rússia, não vejo outro país. Se quiser escapar de Alexandre de Moraes, é para lá que deve ir. Mas não convém ir entrando assim na embaixada sem mais nem menos, como ele fez com a Hungria. Precisa antes combinar com os russos.

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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos,  dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.

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