Inútil diplomacia do coice. Por José Horta Manzano
Lula e assessores vêm se empenhando para não deixar cair a peteca. Têm imprimido à diplomacia brasileira um feitio rude, arrogante, sectário, petulante, tolo, mesquinho.
Impressionados com a inútil diplomacia do coice, implantada por Bolsonaro e seu impagável ministro de Relações Exteriores (lembra-se dele, aquele barbudo que se orgulhava de ser pária?), Lula e assessores vêm se empenhando para não deixar cair a peteca. Têm imprimido à diplomacia brasileira um feitio rude, arrogante, sectário, petulante, tolo, mesquinho. São muitos adjetivos, mas cada um deles foi pesado e escolhido por representar uma faceta da atuação do Brasil em suas atuais relações exteriores.
Algum tempo atrás, pus num artigo uma visão geral do funcionamento da OCDE. Expliquei que, se o Brasil ainda não é membro desse grupo, é porque, até poucos anos atrás, nunca tinha tido interesse em se candidatar. México, Chile, Colômbia e Costa Rica, nossos vizinhos de hemisfério, já integram o clube. Sem contar nações pequenas e de pouca expressividade econômica como Letônia e Estônia, com menos de 2 milhões de habitantes cada uma, que também fazem parte do esquadrão.
Como sabemos, daqui a exatamente uma semana abre-se no Rio de Janeiro a reunião anual do G20. O Brasil, que sedia o evento, é o encarregado de emitir os convites aos que participarão. Em princípio, ninguém entra de penetra como fez Nicolás Maduro outro dia na reunião do Brics na Rússia, quando chegou na cara de pau, sem ser convidado.
O Itamaraty convidou todos os membros do G20, mais alguns países não membros, como é costume. Enviou convite também à União Europeia. Só que cometeu o impensável: passando por cima da praxe estabelecida desde a 1ª. Cúpula do G20, que teve lugar no longínquo ano de 2008, deixou de convidar a OCDE.
A OCDE, acreditando que tivesse havido um engano no protocolo do Itamaraty, escreveu pedindo que seu secretário-geral fosse convidado. Silêncio total: nosso Ministério das Relações Exteriores simplesmente fez cara de paisagem, ignorou o pedido e nunca respondeu à missiva. Em diplomacia, tal deselegância não se vê todos os dias.
Ao saber disso, o governo da África do Sul, que sediará a Cúpula no ano que vem, já avisou que a OCDE será, sim, convidada no ano próximo, retomando a tradição que o Brasil tentou quebrar. Com isso, o coice do Itamaraty ficou ainda mais doído. O Brasil é o único país sede das cúpulas anuais do G20 a ter ousado excluir a OCDE da lista de convidados.
É difícil entender as razões pelas quais nosso Itamaraty se orgulha de receber o G20 e, ao mesmo tempo, não quer saber da OCDE. Numerosos membros de um dos blocos são também membros do outro. Politicamente, nenhum dos dois apita nada, dado que suas resoluções são meramente indicativas, não obrigatórias para os membros.
Será que, aos olhos dos peritos do MRE, parece lógico o antiamericanismo entranhado do atual governo aceitar receber todos os membros do G20, mas não suportar ver, em solo nacional, o secretário-geral da OCDE?
Em que planeta vive essa gente, que não se dá conta de que as coisas aqui na Terra vêm se transformando a toda a velocidade? Já perderam o bonde do passado e, a continuar remoendo desgraças que só existem na cabeça deles, vão acabar perdendo o trem bala do futuro também.
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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos, dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.
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