ENTENDE

Se é que você me entende…Por Marco Antonio Zanfra

SE É QUE VOCE ME ENTENDE…Ela simplesmente pensou numa forma inusitada de se comunicar, de chamar a atenção, sem que o marido soubesse que ela estava tentando chamar a atenção…

ENTENDE

Esta aconteceu não faz muito tempo e chegou a ser notícia na TV…

A moça liga para o telefone de emergência da Polícia Militar:

– Eu queria encomendar uma tigela de açaí…

– Moça, você ligou para o cento e noventa!

– Eu sei!

– ?!

Não avalio quanto tempo demorou, mas o atendente do outro lado da linha acabou compreendendo que a moça não queria realmente que ele fosse atrás de uma tigela de açaí e a entregasse em sua casa: ela estava falando em código, porque, obviamente, não podia dizer que o marido a estava enchendo de porrada, porque o marido, ao lado dela e ouvindo a conversa, a encheria ainda mais de porrada!

Ela simplesmente pensou numa forma inusitada de se comunicar, de chamar a atenção, sem que o marido soubesse que ela estava tentando chamar a atenção. Ela poderia tentar o Código Morse, o alfabeto Klingon, ou o aramaico… mas, como nem todo mundo conhece essas opções, a solução é criar códigos para enfrentar as agruras do dia a dia. Já teve gente pedindo socorro contra o assédio sexual do patrão num guardanapo de papel do serviço de delivery!

O problema é que a imprensa – essa danada – divulga sem pudores esse tipo de comportamento até então inusitado, o que consequentemente faz com que ele deixe de ser inusitado. Vai a mocinha agora pedir açaí pelo cento e noventa para ver se o marido não descobre sua intenção e… cataplof! no meio da orelha.

Por isso, minha ideia é sugerir alguns ‘códigos secretos’ opcionais, mas bastante compreensíveis, para que a polícia entenda que tudo vai mal do outro lado da linha. As possibilidades são variadas. Eis algumas:

– Alô! Tenho uma festa para ir e estou precisando da opinião de um personal stylist: que tipo de brinco combina com um olho roxo?

– Boa noite! Queria pedir uma pizza de calabresa, mas sem cebolas e azeitonas. As cebolas me fazem chorar, racham meus lábios e me provocam dores na boca do estômago, além de hematomas nos pulsos; as azeitonas meu marido as guarda na gaveta do criado-mudo!

– Boa tarde! Por gentileza, vocês por acaso teriam band-aid para fratura exposta?

– Oi, boa noite! Eu queria pedir uma salada de frutas, mas que não tivesse manga. Nem gola, aliás. Se tiver um corte mais ou menos profundo na altura do ombro, melhor ainda…

Repare que são apenas leves sugestões. A criatividade das vítimas promete muitas outras alternativas. Se a cabeça falhar na hora, ainda resta pedir uma tigela de açaí e torcer para que a encomenda chegue rápido!

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Foto -Marco Antonio Zanfra HERÓI

Marco Antonio Zanfra  – Nasceu em São Paulo. Escritor e Jornalista, formado pela Faculdade Cásper Líbero em 1977. Foi repórter por vinte e cinco anos, quinze deles cobrindo a área policial. É casado e pai de duas filhas. Mora atualmente em Florianópolis.

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