Posições políticas em movimento. Por Adilson Roberto Gonçalves
Posições políticas…Nada muito diferente do que acontece hoje, quando verificamos a trajetória dos que defenderam a redemocratização no final dos anos 1980 migrarem para um neofascismo criminoso…
Admira-me que ainda haja colunistas que têm uma epifania ao contrário, ao descobrirem que os negacionistas da ciência existem em todo lugar, incluindo dentre os leitores de suas colunas. Basta ver o tom de vários comentários desses autores nas redes sociais e sites em que o material é publicado, ou seja, comentários daqueles que são estúpidos o suficiente para registrar de forma assinada a opinião contra a ciência. Tais opiniões são fundamentadas em base política e ideológica, e não em uma possível dúvida sobre o que está sendo investigado. Aliás, ciência somente cresce com a dúvida. A minha ou a sua opinião pouco importa em face dos fatos científicos, mas as consequências sociais e políticas dela podem ser catastróficas.
Mesmo em questões internacionais, as fórmulas são sempre as mesmas, mudam os meios e a velocidade. No passado era a crença que se impunha como política dominante, não importando nem os próprios conceitos de igualdade que seus sagrados livros postulavam. A mesma cruz que dominou a Europa, depois as Américas e, associada à Lua Crescente, a África, volta com tudo como marca de uma extrema-direita multifacetada e focada no retrocesso mais perverso. A barbárie está institucionalizada, tanto a seus, quanto ateus.
Por fim, e sem falar das eleições recentes, segue uma ilustração dessas movimentações. Foi reeditado o livro “O Quilombo de Manuel Congo”, escrito originalmente em 1935 por um autor que se assinou sob o pseudônimo Marcos. A obra é uma curta manifestação comunista e Marcos foi o nome escolhido por Carlos Lacerda. Sim, aquele representante da direita de outrora, opositor de Getúlio Vargas, adversário de Juscelino Kubitschek e golpista de 1964. A reedição se deu por conta da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) e fizeram boas resenhas da obra e do personagem, cuja origem estava à margem da história, considerado um “livro-relíquia”. O resgate desse livro de Carlos Lacerda mostra que as oscilações políticas de um indivíduo são inerentes à própria natureza humana, revelando os interesseiros que mudam de lado conforme as conveniências.
Nada muito diferente do que acontece hoje, quando verificamos a trajetória dos que defenderam a redemocratização no final dos anos 1980 migrarem para um neofascismo criminoso.
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– Adilson Roberto Gonçalves – pesquisador da Universidade Estadual Paulista, Unesp, membro de várias instituições culturais do interior paulista. Vive em Campinas.