A ESOLHA FINAL

ANTONIO CÍCERO: A ESCOLHA FINAL

A escolha final. Por Meraldo Zisman

A ESCOLHA FINAL: (Antônio Cícero, Alzheimer e o Direito à Morte Assistida)

escolhas

Em uma despedida que ressoa pela coragem e pela dor, Antonio Cícero, poeta e filósofo da Academia Brasileira de Letras, nascido em 1945, faleceu em 23 de outubro de 2024, na Suíça, por suicídio assistido após o diagnóstico de Alzheimer.

Cícero viu suas capacidades minguarem, sendo privado do que mais prezava: o poder de ler, escrever e se conectar com as pessoas. Em sua última carta, revelou o sofrimento de não mais se reconhecer nas atividades e nos laços que antes definiram seu ser. Para ele, ateu convicto, a dignidade residia na possibilidade de escolher até o último ato de sua vida. O caso de Cícero não é isolado; ele se insere em uma tendência mundial de busca por uma saída digna diante do sofrimento terminal. A Suíça, ao permitir o suicídio assistido para estrangeiros, tornou-se um polo para aqueles que, em seus países de origem, veem negada a chance de uma despedida legal e respeitosa. Organizações como a Dignitas e a Exit oferecem serviços rigorosos, entrevistando pacientes e avaliando minuciosamente seus pedidos para assegurar uma decisão informada e autônoma.

Esse fenômeno crescente levanta debates éticos e culturais profundos. Nos países onde a morte assistida é permitida, o desafio é garantir que a escolha pelo fim seja genuína e não fruto de pressões externas ou do sentimento de ser um “peso” para a família. No Brasil, a discussão ainda engatinha, freada por questões religiosas e pela resistência cultural ao tema. Enquanto isso, muitos brasileiros buscam no exterior uma opção que lhes é negada em seu próprio país.

Com o avanço da medicina e da tecnologia, aumenta a capacidade de prolongar a vida, mas também cresce o número de pacientes que, diante de uma existência prolongada sem qualidade, reivindicam o direito de decidir seu destino. A escolha de Cícero nos lembra o dilema ético entre prolongar a vida a qualquer custo e respeitar a autonomia do indivíduo, que, em seu último ato, clama por dignidade.

No fim, a diferença de classe ainda garante a alguns o direito de morrer com dignidade.

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Meraldo Zisman Médico, psicoterapeuta. É um dos primeiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Vive no Recife (PE). Imortal, pela Academia Recifense de Letras, da Cadeira de número 20, cujo patrono é o escritor Alvaro Ferraz.

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