autointitulados patriotas

Trump e os autointitulados patriotas. Por Paulo Renato Coelho Netto

… A ferocidade dos autointitulados patriotas com a cultura diz muito sobre eles, sobre como pensam, sobre o desdém pela memória e pelo ser humano que reflete e contesta o sistema com o talento e o intelecto…

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… O Relógio de Balthazar Martinot (1636-1714), dado de presente pela Corte francesa a Dom João 6º, foi destruído como sucata em ferro velho. Seu criador era o relojoeiro do rei francês Luís 14.

 

A continuar como estamos, em breve a humanidade será dividida em duas categorias: os que odeiam e aqueles que odeiam os que odeiam.

O trânsito é um excelente termômetro. Em segundos, um motorista pode se transformar em um ser capaz de matar por se sentir contrariado pelas ruas da cidade. Uma simples discussão por vaga de estacionamento pode ser o caminho da outra no cemitério. Acontece diariamente.

A fúria chegou nas urnas. Elas existem para que o poder não se perpetue nas mesmas mãos e que o desejo da maioria seja respeitado. A alternância faz parte do jogo democrático.

Perder a eleição e afirmar que foi roubado é tão inadmissível como validar as eleições de Nicolás Maduro na Venezuela.

No Brasil, o povo do ódio representa a gigantesca parcela da sociedade contrária ao regime de cotas nas universidades e qualquer iniciativa de inclusão econômica, cultural e social.

Que os desprotegidos permaneçam inseguros e os em condição de vulnerabilidade entregues à própria falta de sorte.

Para os radicais, justo seria perpetuar o sistema de exploração que começou por aqui com o nome de escambo.

Alegando fraude nas urnas eletrônicas, os autointitulados patriotas de ultradireita, no dia 8 de janeiro de 2023, depredaram o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal.

Vidraças, poltronas, auditórios, mesas, banheiros, cortinas, carpetes, lâmpadas, elevadores, extintores de incêndio, computadores, togas e gabinetes. Nada escapou da multidão enfurecida.

Não satisfeitos em aniquilar o que encontraram pela frente, partiram para cima de obras de arte de valor histórico inestimável.

Este foi o ponto que despertou minha atenção na época. O movimento não seria apenas para acabar com o Estado Democrático de Direito. O propósito também visava aniquilar a cultura.

O quadro “As Mulatas”, de Di Cavalcanti, foi perfurado em seis lugares diferentes. Esculturas do artista plástico polonês Frans Krajcberg foram quebradas. Uma tapeçaria de Burle Marx não escapou do domingo de fúria da ultradireita.

O Relógio de Balthazar Martinot (1636-1714), dado de presente pela Corte francesa a Dom João 6º, foi destruído como sucata em ferro velho. Seu criador era o relojoeiro do rei francês Luís 14.

A icônica escultura “A Justiça”, de Alfredo Ceschiatti, foi pichada com “Perdeu, mané”. A obra de arte fica diante do palácio do Supremo Tribunal Federal (STF).

A ferocidade dos autointitulados patriotas com a cultura diz muito sobre eles, sobre como pensam, sobre o desdém pela memória e pelo ser humano que reflete e contesta o sistema com o talento e o intelecto.

Em qualquer ditadura, seja de direita ou de esquerda, os primeiros alvos são artistas e intelectuais.

Como seria hoje o Brasil se o 8 de janeiro de 2023 tivesse êxito?

Com o terminal lotado em plena véspera de Natal, no dia 24 de dezembro de 2022, tentaram explodir um caminhão com 60 mil litros de combustível no Aeroporto Internacional de Brasília.

Seria uma tragédia de proporções inimagináveis se o motorista não tivesse visto os explosivos e avisado as autoridades.

Em qualquer país desenvolvido os responsáveis pelo atentado seriam julgados por terrorismo e passariam o resto da vida na cadeia.

Era para matar centenas de pessoas.

O inelegível ex-presidente Jair Bolsonaro pediu anistia em nome da pacificação. A tentativa de golpe, segundo ele, foi cometida por pobres coitados.

“É uma anistia para aqueles pobres coitados que estão presos em Brasília. Nós não queremos mais que seus filhos sejam órfãos de pais vivos. A conciliação. Nós já anistiamos no passado quem fez barbaridade no Brasil. Agora nós pedimos aos 513 deputados, aos 81 senadores, um projeto de anistia para que seja feita justiça no Brasil”, disse.

Na segunda-feira, dia 7 de outubro de 2024, o candidato do Partido Republicano à Casa Branca, Donald Trump, disse que imigrantes levam muitos genes ruins aos Estados Unidos e que milhares que chegam aos EUA são assassinos.

“Muitos deles mataram bem mais de uma pessoa e agora vivem tranquilamente nos EUA. Você sabe, eu acredito que ser um assassino está nos genes da pessoa. E a gente tem muitos genes ruins no nosso país agora”, declarou o republicano.

Ao votar no próximo 5 de novembro o americano vai eleger alguém que o represente, obviamente.

É óbvio que as declarações de Trump encontram respaldo em setores que pensam da mesma forma ou até pior que ele. E isso vale para nós sul-americanos.

Em breve, saberemos exatamente os rumos da democracia nos Estados Unidos.

A segunda alternativa de voto é para uma mulher negra, casada com um homem negro, que certamente não vai governar destilando ódio e mentiras sempre que abrir a boca.

E o que você tem com as eleições americanas? Muito mais que imagina.

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Instagram: @paulorenatocoelhonetto

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paulo rena

Paulo Renato Coelho Netto –  é jornalista, pós-graduado em Marketing. Tem reportagens publicadas nas Revistas Piauí, Época e Veja digital; nos sites UOL/Piauí/Folha de S.Paulo, O GLOBO, CLAUDIA/Abril, Observatório da Imprensa e VICE Brasil. Foi repórter nos jornais Gazeta Mercantil e Diário do Grande ABC. É autor de sete livros, entre os quais biografias e “2020 O Ano Que Não Existiu – A Pandemia de verde e amarelo”. Vive em Campo Grande.

 

capa - livro Paulo Renato

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