Lex: uma candidatura híbrida IA + humano. Por Paulo Markun
A Rede Sustentabilidade tem a menor fatia de todas do Fundo Eleitoral. Entre seus candidatos, está Pedro da IA — na vida real, Pedro Markun, meu filho. É sobre ele e sua proposta inovadora que gostaria de falar: uma candidatura híbrida que integra uma inteligência artificial legislativa chamada LEX.
No próximo domingo, cerca de oito milhões de paulistanos irão às urnas em uma das eleições mais atípicas que presenciei em meus 53 anos de profissão. Já participei de campanhas políticas como cidadão, militante, jornalista e até como integrante de equipes de marketing político. Mas nunca vi uma disputa ser tão dominada por um único personagem como está acontecendo agora. Pablo Marçal sugou todas as energias e catalisou toda a atenção. Com sua estratégia agressiva e aparentemente caótica, mas na verdade racional e planejada, transformou o que deveria ser um embate de ideias em um reality show ou em um ringue de luta livre. Parece funcionar.
Nós, jornalistas, por omissão ou incapacidade, estamos aplaudindo para fazer esse suposto maluco dançar. O que demonstra como não conseguimos sair dessa arapuca e também evidencia o quanto plataformas digitais sem regulamentação interferem no processo democrático. Em um país onde as empresas tradicionais são razoavelmente regulamentadas (os sites de apostas são um caso à parte), as plataformas digitais navegam livremente. Sempre que tratamos da regulamentação, o debate se complica.
Google, Meta e outros gigantes baseiam seus modelos de negócios na publicidade. O relatório Global Advertising Trends calcula que, neste ano, as mídias sociais serão novamente o maior canal de investimento em publicidade do mundo. Em 2023, a Alphabet, controladora do Google, faturou US$ 307 bilhões (R$ 1,73 trilhão), e a Meta, responsável por WhatsApp, Instagram e Facebook, US$ 247,3 bilhões (R$ 1,39 trilhão).
…Não podemos ceder à ganância de empresas já maiores que muitos países ou à esperteza de um buraco negro da política…
São mais dois enormes caminhões de dinheiro. E essa montanha de dólares deve aumentar em 2024, até por conta do impulsionamento de material eleitoral nessas eleições municipais. Um negócio obscuro, em que não sabemos realmente se o que é pago pelos candidatos é entregue (não há Ibope ou IVC das plataformas), e um jogo onde as plataformas mandam, sem controle ou fiscalização.
O fundo eleitoral, quase cinco bilhões de reais, é a principal fonte dos recursos aplicados pelos candidatos nessas plataformas. Dinheirama distribuída segundo critérios que reforçam a musculatura dos maiores partidos. Apenas 2% desse total é igualmente dividido entre todos os partidos; 35% são repartidos entre aqueles que tenham pelo menos um representante na Câmara dos Deputados, na proporção do percentual de votos obtidos na última eleição geral para a Câmara; 48% vão para as siglas, na proporção do número de representantes na Câmara, consideradas as legendas dos titulares; e outros 15% são divididos entre os partidos, na proporção do número de representantes no Senado Federal, com base nas legendas dos titulares.
Só a eleição na cidade de São Paulo conta com R$ 186.755.247,00 do Fundo Eleitoral para os mais de mil candidatos a vereador. Enquanto uns nadam de braçada em uma piscina de dinheiro, outros lutam pela escassa atenção dos eleitores na base do voluntariado e com muito menos recursos. No União Brasil, partido de Milton Leite, o maior volume de recursos vai para a Pastora Sandra Alves (R$ 4.068.007,88). No PL, a vereadora Sonaira Fernandes, bolsonarista raiz, lidera com R$ 1.768.700,00 para gastar.
… Não podemos permitir que democracias cedam espaço para grandes corporações que priorizam o lucro e se escondem atrás da falta de transparência…
A Rede Sustentabilidade tem a menor fatia de todas do Fundo Eleitoral. Entre seus candidatos, está Pedro da IA — na vida real, Pedro Markun, meu filho. É sobre ele e sua proposta inovadora que gostaria de falar: uma candidatura híbrida que integra uma inteligência artificial legislativa chamada LEX. A ideia central é utilizar a tecnologia para reconectar os cidadãos com a política, oferecendo transparência e participação ativa nas decisões legislativas.
A campanha de Pedro enfrenta um obstáculo enorme. Sua conta no WhatsApp Business foi bloqueada pela Meta, empresa que controla a plataforma (embora a companhia alegue serem empresas distintas). Estamos no meio de uma uma dura batalha judicial para reverter esse bloqueio e não sabemos se ganharemos antes do domingo. O caso ilustra bem como as grandes empresas de tecnologia podem impactar qualquer candidatura (curiosamente, só tenho notícia desse bloqueio nessa disputa).
A censura digital que sofremos só reforça a urgência de democratizar o acesso à informação e regulamentar as plataformas digitais. Não podemos permitir que democracias cedam espaço para grandes corporações que priorizam o lucro e se escondem atrás da falta de transparência.
Para além da reflexão jornalística, me atrevo a oferecer uma proposta assumidamente engajada. Não apenas por laços de sangue, mas por acreditar que o debate sobre inteligência artificial e política é essencial. A IA está mudando o mundo como nenhuma outra tecnologia. Yuval Harari, escreveu um livro inteiro sobre isso. Em entrevista à minha colega Patrícia Campos Mello, da Folha, disse que a humanidade está pisando no acelerador do desenvolvimento da inteligência artificial, mas não sabe como freá-la.
“A IA é a tecnologia mais poderosa já criada pela humanidade, porque é a primeira que pode tomar decisões: uma bomba atômica não pode decidir quem atacar, nem pode inventar novas bombas ou novas estratégias militares. Uma IA, ao contrário, pode decidir sozinha atacar um alvo específico e pode inventar novas bombas“, disse Harari.
Convido você a refletir sobre esses pontos e, se ainda não tiver candidato para vereador, considerar o Pedro da IA (número 18.888) como uma opção que busca renovar a política por meio da tecnologia e da participação cidadã. Se já tem candidato, dedique alguns minutos para conhecer mais sobre essa iniciativa em lex.tec.br.
Ainda acredito e me empenho para que a eleição seja mais justa, transparente e alinhada com os verdadeiros interesses da população. Não podemos ceder à ganância de empresas já maiores que muitos países ou à esperteza de um buraco negro da política.
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