Baby Pignatari

Baby Pignatari e a princesa Ira von Fürstenberg

Um homem chamado Baby. Por Antonio Contente

… Com Baby fiz uma entrevista formal, de repórter, difícil de arranjar. Quem a conseguiu pra mim (teve que ir junto, por exigência do entrevistado) foi a falecida cronista social Alik Kostakis, colega na Última Hora de Samuel Wainer…

Baby Pignatari
Baby Pignatari

         Há, ainda, playboys? Provavelmente não, pelo menos com as características dos que existiram outrora, incansáveis navegadores nas situações em que a sinceridade era apenas hipótese e o cinismo exuberante glamour. No exterior exercitaram proezas vários representantes da espécie, entre eles Profírio Rubirosa e Ali Kahn. O primeiro escalou inúmeros Himalaias das glórias pela quantidade de mulheres famosas que, digamos, abiscoitou. O segundo só foi ao topo do mundo por ter casado com Rita Hayworth, a inesquecível Gilda; apresentada, na propaganda do filme que levou tal nome, como criatura que, quem a conhecesse, jamais veria outra igual.

         Aqui no Brasil também tivemos os nossos. Os mais famosos foram Jorginho Guinle e Baby Pignatari. O primeiro, descendente dos antigos proprietários do Copacabana Palace e do Porto de Santos, apesar de ter tido enorme fama, não chegou aos pés do segundo. Por uma razão quase singela: viveu bem, mas de mesada fornecida por familiares ricos; o outro, ao contrário, foi um trabalhador incansável, era dono de mais de 10 empresas, sabia ganhar grana e talvez perder. Na hora do trampo suava os músculos como um mouro, e amava – é o que juram seus biógrafos — mulheres como um leão. Quadrúpede felino que, dizem os PPS de sacanagem que circulam pela Internet, obra de 30 a 40 intercursos amorosos por dia; quando as fêmeas estão aptas a isso…

         Entrevistei os dois. Guinle, rapidamente, no dia em que a família dele devolveu o Porto de Santos ao Governo e eu era, lá, assessor de Imprensa. Fui destacado para acompanhá-lo, fiz disso um texto que saiu na minha coluna na Folha da Tarde. Anos depois exalei lembrança no nobre espaço do Correio Popular, jornal de Campinas que está com quase cem anos.

         Com Baby fiz uma entrevista formal, de repórter, difícil de arranjar. Quem a conseguiu pra mim (teve que ir junto, por exigência do entrevistado) foi a falecida cronista social Alik Kostakis, colega na Última Hora de Samuel Wainer, matutino que funcionava quase sob o Viaduto Santa Efigênia. O jornal finou-se quando ocorreu o golpe de 64.

         Ao entrevistá-lo fiquei sabendo que Baby Pignatari na verdade era Francesco Matarazzo Pignatari (neto do conde dono da IRFM) e que nascera em Nápoles, Itália, em 1917. Sabendo também fiquei que enriqueceu dando duro em suas próprias empresas, inclusive de minérios, no Sul do Brasil e na Bahia. Quando fiz a matéria o entrevistado ainda rolava na casa dos quarenta e poucos e era um tremendo boa pinta. Morreu aos 60.

         Mas, alguém poderia perguntar, o que dá para recordar de realmente curioso num papo com uma figura tão comentada, ao seu tempo, aqui e fora do Brasil? Duas, responderia, basicamente duas coisas ficaram marcadas para sempre, apesar de terem passado rapidamente no texto que redigi para o jornal. Primeira: o aparecimento, no local da entrevista, da então mulher do milionário. Segunda: o valor de uma camisa masculina.

         Sob a aparição, estávamos papeando ao lado da piscina da mansão do milionário, no Morumbi, quando a moça, de repente, surgiu. Era de manhã. Eu a percebi quando emergiu no topo de uma escada de mármore que dava acesso ao jardim. Tratava-se da princesa Ira Von Furstemberg, 24 anos mais nova do que o marido, e absolutamente linda. Para defini-la, nem vou usar palavras minhas, porque não as tenho para empreendimento de tal monta. Empresto, então, os versos de um poeta nordestino que assim definiu certa beldade: “Ela é um quelso do pental ganírio/ Saltando as rimpas do termim calério”… Esta era a moça que sentou ao lado do marido e só descolou os lábios para dar goles numa dourada laranjada. Foi uma das mulheres mais bonitas que já vi. Morreu faz pouco tempo.

         Agora, a camisa. Falávamos sobre as sutilezas de ter e não ter dinheiro quando, de repente, pegando na gola da que usava o milionário me perguntou quanto eu achava que tinha custado. Respondi que algo como uns 500 dólares, em alguma butique de Roma ou Paris.

         — Engano seu, custou apenas o equivalente a uns três dólares, no Mercado Modelo de Salvador. Mas como sou eu que está vestindo você arriscou o valor que citou…

         As reflexões sobre isso ficam a cargo de cada cabeça que estiver lendo esta crônica. Que terminou com Baby pedindo desculpas por só me ter oferecido sucos, mesmo sabendo que jornalistas gostam de beber. Penitenciou-se não me deixando sair da casa sem levar sob o braço um litro de Royal Salut. Devidamente secado no Bar da Branca, na Nove de Julho, sagrado templo dos homens de imprensa notívagos daqueles tempos. E que está a merecer um livro, necessariamente escrito por Ignácio de Loyola Brandão ou Antonio Torres. Ambos membros da Academia Brasileira de Letras.

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Antonio ContenteANTONIO CONTENTE

Jornalista, cronista, escritor, várias obras publicadas. Entre elas, O Lobisomem Cantador, Um Doido no Quarteirão. Natural de Belém do Pará, vive em Campinas, SP, onde colabora com o Correio Popular, entre outros veículos.

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