Outro tijolo na parede. Por Paulo Renato Coelho Netto
Tijolo por tijolo …Tudo ficou maior enquanto me estreitava: a cidade, os prédios, os automóveis, a indiferença, os arcaicos, os sovinas, o desprezo, a intolerância, os donos da verdade e a distância entre as pessoas…
Quando era jovem me sentia maior que tudo à minha volta. Encolhi com o tempo. Me tornei resiliente à medida que reconheci minha completa incapacidade para mudar muitas coisas. Hoje ando quase invisível pela cidade.
Considero um ganho extraordinário.
Quando muito, faço pequenos ajustes pessoais. Apenas os que consigo. Descarto os que requerem inúteis contorcionismos.
Precisei percorrer algumas décadas para ter consciência da própria desimportância.
Entendo perfeitamente agora que do pó das estrelas viemos e ao mesmo pó voltaremos. E isso não me assusta.
Tudo ficou maior enquanto me estreitava: a cidade, os prédios, os automóveis, a indiferença, os arcaicos, os sovinas, o desprezo, a intolerância, os donos da verdade e a distância entre as pessoas.
Me tornei tão minúsculo que hoje os idiotas não conseguem me ver, os ignorantes me ouvir e a malta me levar para pular no bloco dos aloprados.
Desenvolvi dispositivos on e off para aparecer e desaparecer. O segundo está quase sempre ligado.
Com a mesma tecnologia, criei outros para falar e ouvir.
Quando era menino, as árvores eram enormes e qualquer viela infinita.
Minha casa, pequena, parecia um castelo. Os segredos e os perigos eram guardados no alto do guarda-roupa, onde não podia alcançá-los.
Uma simples maçã era demais para um ser minúsculo.
Quando era menino, o mundo era tão grande que segurava a mão da minha mãe para não me perder.
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Instagram: @paulorenatocoelhonetto
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Paulo Renato Coelho Netto – é jornalista, pós-graduado em Marketing. Tem reportagens publicadas nas Revistas Piauí, Época e Veja digital; nos sites UOL/Piauí/Folha de S.Paulo, O GLOBO, CLAUDIA/Abril, Observatório da Imprensa e VICE Brasil. Foi repórter nos jornais Gazeta Mercantil e Diário do Grande ABC. É autor de sete livros, entre os quais biografias e “2020 O Ano Que Não Existiu – A Pandemia de verde e amarelo”. Vive em Campo Grande.