A genial Rebeca Andrade. Por Arnaldo Niskier
…Essas atletas superiores têm que acordar cedo, dar o máximo nos treinos. A Rebeca consegue lidar com essas cobranças, daí o seu sucesso. É um fenômeno…
A treinadora ucraniana Iryna Ilyashenko, que treina a seleção brasileira de ginástica artística desde 1999, costuma afirmar que as ginastas são seres superiores. “Elas não são crianças normais. Estão prontas para superar a dor.” Quando viu a notável ginasta norte-americana Simone Biles cair da trave, arriscou a frase: “Ela é humana. Já não é tão jovem assim, tem muitas medalhas, e cada vez que conquista mais uma aumenta a pressão. Acho que ela chegou ao seu limite. Não vai muito mais longe.”
Isso abre imensas perspectivas para a ginasta do Flamengo Rebeca Andrade. Diz a treinadora que a sua parte artística não tem comparação. Se alguma outra atleta errasse, o ouro poderia ser dela. Com os cuidados de dizer algo, pois a pressão psicológica mata.
Essas atletas superiores têm que acordar cedo, dar o máximo nos treinos. A Rebeca consegue lidar com essas cobranças, daí o seu sucesso. É um fenômeno, além de ser uma linda mulher, que serve de exemplo para as pequeninas que frequentam na Gávea o clube rubro-negro. Foi tão bonito acompanhar a sua vibração, nas provas olímpicas. O que lhes reserva o futuro?
A treinadora ucraniana costuma dizer que o esporte de alto nível vicia como uma droga. Se experimentou uma vez essa sensação, nunca mais deixa de repetir esse sentimento. Quando se ganha, por exemplo, uma medalha olímpica, parece que está tomando alguma coisa especial, que fará parte do seu organismo. Por isso é uma sensação que sempre se repete.
Nossos feitos na ginástica não se restringem à atleta do Flamengo. Conquistamos medalha de bronze em Paris também na equipe, o que é um feito digno de nota. Sem contar as várias medalhas de prata que marcaram a atuação da nossa delegação. Não se pode dizer que tivemos um comportamento brilhante, no geral, mas aprendemos lições preciosas para o nosso esporte, em várias modalidades aparentemente estranhas.
É claro que o nosso desejo é que se aperfeiçoe a nossa dedicação ao esporte, de um modo geral. Não devemos ser brilhantes, do ponto de vista internacional, somente no futebol de campo, em que somos pentacampeões. Queremos títulos também em outras modalidades.
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Arnaldo Niskier – Imortal. Sétimo ocupante da Cadeira nº 18 da Academia Brasileira de Letras. Professor, escritor, filósofo, historiador e pedagogo. Professor aposentado da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Foi presidente da Academia Brasileira de Letras e secretário estadual de Ciência e Tecnologia e de Educação e Cultura do Rio de Janeiro. Presidente Emérito do CIEE/RJ.