Para não esquecer Mickey Rooney. Por Antonio Contente
Está claro que não me surpreendi com a morte do ator americano Mickey Rooney, ocorrida faz mais de dez anos nos Estados Unidos. O que realmente me surpreendeu foi o noticiário brasileiro, à época, sobre o desenlace; pela simples e boa razão, tão bem lembro agora, de terem esquecido de enquadrar na biografia do desencarnado o maior de todos os seus feitos. E olha que, no mundo do shoubiz em que viveu, não foram poucos.
Antes de ir ao ponto quero dizer que li tudo o que saiu nos jornais e revistas contando que o grande astro de palcos e sets hollywoodianos tinha partido desta para a melhor. E nenhum, nenhum noticiário lembrou que Rooney, simplesmente, foi o primeiro marido de Ava Gardner. Nem mesmo o Jornal Nacional da Rede Globo, sempre tão badalado e com dois âncoras charmosamente professorais, recordou o matrimônio. O que, convenhamos, é uma dessas coisas inadmissíveis.
Ora, amigos, vamos falar a verdade, você já pensou o que é ter sido o primeiro marido de Ava Gardner, descrita por, talvez, Scott Fitzgerald, como “o animal mais belo do mundo”? É verdade que as circunstâncias ajudaram Rooney de forma magistral. Afinal ela, com apenas 18 anos, chegava para buscar lugar ao sol em Hollywood enquanto ele, aos 21, alcançara o topo como o ator mais bem pago do seu tempo, ultrapassando Clark Gable. Isso graças ao papel de Andy Hardy que fazia nas comédias da Metro que duraram, em série, de 1937 a 1958, sucesso estrondoso. Apesar de o personagem ter nascido numa peça aparentemente de segunda linha chamada “Skinning” (“Esfolando”), de Aurania Rouverol. Eu mesmo curti muitíssimo as fitas no final dos anos 40, entrando nos 50. Maravilhosas.
Pois de repente Ava, novinha em folha, chega ao estúdio onde Rooney era rei e aconteceu o inevitável. Ele conta em sua autobiografia que, quando a viu, “parou tudo, coração, pulsação, respiração, metabolismo, pensamentos”. Certamente caiu em cima da beldade estonteante e, em poucos dias, os dois casaram. A notícia estourou como uma bomba atômica no mundo inteiro, bem antes da de Hiroshima ter sido lançada.
…Não, não estou exagerando; lembre-se que, ao casar, Ava era donzela que, ao fim e ao cabo, teve em Rooney seu primeiro homem para valer. Daí ser inadmissível que os necrológios do ator não tenham se referido a isso.
Pois bem, amigos, vocês podem falar a respeito deste casamento focando sobre vários prismas. Afinal, mesmo tendo durado apenas 1 ano e 5 dias, tal união representou um marco indelével na história da humanidade. Não, não estou exagerando; lembre-se que, ao casar, Ava era donzela que, ao fim e ao cabo, teve em Rooney seu primeiro homem para valer. Daí ser inadmissível que os necrológios do ator não tenham se referido a isso. Garanto, aqui e agora, que, se eu fosse editor de algum jornal, quando chegasse a informação de que o famoso ator tinha morrido, simplesmente mandaria parar as máquinas e daria de manchete na primeira página, em seis colunas, com letras garrafais: “Morreu o homem que desvirginou Ava Gardner”! Assim mesmo, com ponto de exclamação.
E tal fato se tornou ainda mais importante no correr dos tempos, pois Ava virou, ao longo de uma carreira tão interessante quanto tumultuada, uma das 50 maiores lendas do cinema. Ao atuar não só em filmes marcantes, mas por ter casado, adiante, com ninguém menos do que Frank Sinatra. Que, ao fim da união, curtiu tremenda dor de corno até morrer. Fato, inclusive, muito bem descrito no livro “Sinatra”, de Anthony Summers.
Rooney, naturalmente, tanto quanto o cantor ficou definitivamente marcado; provavelmente para conseguir esquecer a beldade é que tenha casado nada menos de 7 vezes. Enquanto Ava, transformada em total e acabada “femme fatale”, saiu pulando de homem em homem, para criar a lenda que a apontava não só como a mulher mais bonita do mundo; e mais perigosa também…. Daí a importância explícita na manchete que eu daria e cito acima, pois o homem que cortou a fita inaugural deste monumento media apenas pouco mais de metro e meio. Tornou-se, porém, gigante com a fama de beleza e talento que a ex-mulher inscreveu na história da chamada Sétima Arte. Por isso não me assustarei se aparecer logo mais algum congressista americano a propor a retirada da Estátua da Liberdade do seu pedestal para, no lugar, entronizar uma de Mickey Rooney. Com os punhos fechados para cima, igual ao de alguns heróis deste mundo do bom Deus.
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ANTONIO CONTENTE –
Jornalista, cronista, escritor, várias obras publicadas. Entre elas, O Lobisomem Cantador, Um Doido no Quarteirão. Natural de Belém do Pará, vive em Campinas, SP, onde colabora com o Correio Popular, entre outros veículos.
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