A solidão e suas consequências. Por Meraldo Zisman

                                                                 A SOLIDÃO E SUAS CONSEQUÊNCIAS: (NEURAIS E FÍSICAS)

Os efeitos da solidão, entre outros, são alterações significativas na “rede padrão” cerebral, um conjunto de regiões cerebrais que desempenham funções cognitivas complexas, como a mentalização, a rememoração e a imaginação. Em outras palavras, a rede padrão é um conjunto de áreas cerebrais que permanecem ativas quando não estamos concentrados em uma tarefa específica, permitindo que a mente transite de maneira livre e gere pensamentos descontraídos.

O raciocínio humano afeta, por natureza, a sociedade. Interações constantes são fundamentais para o nosso bem-estar. Por consequência, a privação dessas conexões pode causar graves danos à nossa saúde física, mental e cognitiva. A solidão, quando percebida, aumenta os riscos de doenças cardiovasculares, depressão, ansiedade, diminuição da expectativa de vida e até mesmo de patologias de demência, como o Alzheimer.

Recentemente, estudos aprofundaram-se nas raízes neurais da solidão, demonstrando que ela está intimamente ligada a alterações significativas na “rede padrão” cerebral, formada por áreas como o córtex pré-frontal medial, o córtex cingulado posterior e as regiões parietais laterais, que  permanece ativa quando estamos em repouso e sem foco em estímulos externos. A solidão parece aumentar a atividade dessa rede, possivelmente como forma de compensar a ausência de interações sociais efetivas.

Os indivíduos solitários apresentam uma comunicação mais eficiente na rede padrão, além de uma maior integridade na via fórnix, uma conexão crucial de fibras nervosas que conecta o hipocampo a outras regiões do cérebro, desempenhando um papel crucial na memória e na navegação espacial. O isolamento social e a solidão por eles causados não se resumem a um mero estado emocional passageiro. Os efeitos desse problema extrapolam a esfera psicológica e se manifestam de forma profunda em nosso organismo, afetando a saúde física e cognitiva. A luta contra o isolamento social e a solidão que esta causa requer um esforço conjunto que ultrapassa a esfera individual.

É crucial incentivar uma cultura de ligação social, onde o apoio mútuo e a interação verdadeira sejam valores cultivados e celebrados. Dessa forma, medidas como a participação em atividades sociais, a procura por ajuda profissional quando necessário e a manutenção de um estilo de vida saudável são valiosas ferramentas para combater a solidão e seus efeitos negativos.

A promoção da integração social e do apoio comunitário também é de suma importância para prevenir e combater o isolamento social. Políticas públicas que incentivem a participação das pessoas em atividades com a comunidade, a criação de espaços públicos inclusivos e o fortalecimento de redes de apoio social são fundamentais para criar uma sociedade mais coesa e resistente. Ao aliarmos o conhecimento científico à ação conjunta do governo, da sociedade civil e do setor privado, podemos construir um futuro onde todos se sintam conectados, apoiados e valorizados.

A solidão não constitui uma sentença de prisão. Se tomarmos ações conjuntas e adotarmos políticas públicas adequadas, podemos construir um futuro mais conectado e com menos indivíduos solitários.
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Meraldo Zisman – Médico, psicoterapeuta. É um dos primeiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Vive no Recife (PE). Imortal, pela Academia Recifense de Letras, da Cadeira de número 20, cujo patrono é o escritor Alvaro Ferraz.
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