Quem manda no campo de jogo? Blog Mário Marinho
O futebol brasileiro se encontra em plena crise de identidade: quem manda e quem deve obedecer dentro do campo de futebol?
Vão se tornando cada vez mais comuns as cenas de juízes que são peitados por jogadores que, pela lei, deveria obedecer às suas ordens.
Em um dos cursos de atuação em Arbitragem de Futebol, organizados pela Aceesp (Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo) e ministrados pelo ótimo Sálvio Spínola, ex-árbitro de muito respeito, aprendi que se o juiz perde o respeito dentro de campo, o jogo fatalmente irá desandar.
– Uma falta técnica, como a marcação de um impedimento que não foi ou a não marcação do que foi pode até acarretar prejuízos. Mas, nada comparado a um juiz que perde a mão do jogo. Se ele perde o respeito, não conseguirá apitar. E o pior, a fama de juiz mole, sem autoridade, há de persegui-lo, afirma Spínola do alto de algumas centenas de jogos apitados.
Na última terça-feira, assistimos a um episódio que ilustra bem a situação.
Aos 30 minutos do jogo Atlético x Palmeiras, Hulk sofre falta que é assinalada pelo juiz Rodrigo José Pereira de Lima. Revoltado, sabe-se lá por que, Hulk coloca as mãos para trás, no que seria uma atitude de respeito e passa a reclamar do juiz. Talvez pedindo um cartão vermelho para o jogador palmeirense. Recebe o cartão amarelo.
Não contente, continua sua reclamação, agora em altos brados, e recebe o segundo cartão amarelo que significa expulsão.
A atitude impensada do jogador desequilibra o Atlético que, com um jogador a menos, acaba sendo presa fácil para o Palmeiras que vence por goleada: 4 a 0.
Terminado o jogo, o goleador Paulinho tenta agredir o lateral palmeirense, Marco Rocha, e leva também o cartão vermelho. Aqui, fica claro total desconhecimento das regras do jogo por parte do Paulinho: como o juiz apitou o fim de jogo, ele acha que não pode ser punido e parte para a agressão.
Essa é uma cena que também temos visto em outros jogos nesse Brasileirão: jogadores do time batido, para diminuir o brilho da vitória adversária, procuram confusão.
Nos dois casos, em minha opinião, o juiz acertou em sua decisão.
Nunca vi o Paulinho tentar agredir o companheiro, mas o Hulk é useiro e vezeiro na prática da reclamação acintosa e desrespeitosa com o juiz.
Esse é um problema de educação esportiva.
Assim como toda educação começa dentro de casa, a do jogador também deveria começar dentro de sua casa, o clube. O problema é que o dirigente apoia o jogador e condena o juiz – o que é mais fácil e a torcida gosta.
Depois do jogo, continuei ligado no SporTv para assistir o Boleiragem, programa apresentado pelo comentarista Roger Flores.
Junto de Roger, estavam quatro ex-jogadores, entre ele o sempre contido Caio Ribeiro. Todos eles condenaram o juiz, numa atitude pra lá de corporativista.
Emissoras de tevê e de rádio estão repletas de ex-jogadores.
Eu, particularmente, gosto de ouvir ex-jogadores que sempre podem contribuir com sua experiência. Mas, as opiniões todas de posição totalmente corporativista quando se trata de confronto com o árbitro é um desserviço que se presta ao futebol.
Lá se vai o
Coringão, ladeira abaixo.
Desde o começo do Brasileirão, o Corinthians vem se esforçando, se esforçando e agora conseguiu: está na perigosa e escorregadia Zona do Rebaixamento.
Quando os jogadores não erram, a diretoria trata de fazer sua parte.
Foi assim, com Cássio que foi tirado do time por duas falhas, sim, falhas, em jogo. Todo mundo falha.
Mas mostrando total falta de bom senso, tiraram do time o gigante ídolo da torcida e o colocaram no banco de reservas, posição da qual se manteve totalmente afastado durante 12 anos de Corinthians.
O Gigante foi embora.
Na semana seguinte, explode o escândalo do super patrocínio envolvendo operações escusas, laranja, saída de diversos diretores que apoiavam o atual presidente – enfim, lambança geral.
É claro que tudo isso respinga em um time em formação, ainda fraco.
E o resultado inevitável são as derrotas. E mais derrotas que desembocam na Zona de Rebaixamento.
Quousque tandem, Coringão?
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PS – Aproveitando o carreto, gostaria de cumprimentar o nosso presidente da Aceesp, Nelson Nunes, e sugerir a ele mais um curso de atualização das regras de arbitragem. Sugiro o Sálvio Spínola.
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Mário Marinho – É jornalista. É mineiro. Especializado em jornalismo esportivo, foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.
(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)
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Quem é do ramo sabe.
Acertado os dois cartões, aliás na minha opinião,os três.
Não sou do ramo mas vou tentar explicar.
O garoto Estevão, através de gesto manda a torcida do Atlético, calar a boca!!!
De pequeno que se torce o pepino.
Alguém precisa orientar… vamos lá Abel!!!
O eterno problema da arbitragem…
Um dia, amigo Marinho, os árbitros serão robôs de ferro com mil olhares eletrônicos, capazes de vislumbrar os mínimos movimentos da bola e dos 22 cabeças de bagre que correm atrás dela. Quem cismar de agredir vossa senhoria levará um choque de mil volts e será, literalmente, varrido de campo.
Abraço!