LUIZA

Sobre perder Luiza. Por Antonio Contente

         —- Calma lá – ele balançou a revista – nós estamos falando da Luiza Brunet, amigo! Você imagina que um homem, no seu juízo normal, largaria uma maravilha dessas?

Luiza Brunet
Luiza Brunet

         Salas de espera, aí está bom tema para reflexões. É que, nos exíguos espaços, há pontos de partida para variadas histórias. Esta, por exemplo, começou num dos citados ambientes, em prédio no centro. Ao entrar no recinto, dia desses, avistei infalível amigo das happy hours no Buteco das Sibipirunas. Folheava uma revista. Deu bom dia e logo me falou que um dos encantos das salas de espera está no fato de que, em algumas, encontramos publicações antigas. Ou até muito, muito antigas.

— Veja esta – apontou para a página, assim que sentei – você acha que tem cabimento um camarada perder uma mulher dessas? Se isso ocorresse comigo, sei lá… Acho até que desistiria de viver…

         Olhei a publicação e vi que o meu amigo se referia ao fim do casamento da ex-modelo Luiza Brunet, ocorrido há tempos. No que percorria a foto da moça apresentada em quase sumário biquini, murmurei:

         — Mas por que esse radicalismo? Separações ocorrem a todo instante, nas melhores famílias, não é mesmo? E essa foi quase Antes de Cristo.

         — Sim, eu sei – ele insiste – mas já pensou perder uma mulher dessas? O pobre do abandonado, se vivo ainda for, deve estar jogado em algum canto, quem sabe até tomando todas como nas velhas canções do Adelino Moreira cantadas pelo Nelson Gonçalves. Talvez esteja atirado em imunda sarjeta, com um vira-lata sarnento a lamber sua cara…

         — Bom – cocei a ponta do nariz – você está partindo de um pressuposto que pode não ser verdadeiro…Você concluiu, baseado sei lá em que informações, que foi ela que largou o cara. Mas pode ser o contrário, certo? O mundo está assim de mulheres que são abandonadas pelos maridos.

         —- Calma lá – ele balançou a revista – nós estamos falando da Luiza Brunet, amigo! Você imagina que um homem, no seu juízo normal, largaria uma maravilha dessas?

         — E por que não? Até onde se sabe, pelas reportagens das Caras da vida, o marido em questão também era um tremendo boa pinta? Há até quem o tenha apontado como mais bonito do que ela. O falecido deputado Clodovil, por exemplo, não cansava de dizer isso…

         — Não é esse o caso, meu caro, o ex-marido pode ter sido o galã supremo. O importante é que ficou sem a Luiza Brunet. Sabe lá o que é isso?

         — Suposições, suposições…

         — O que?

         — Que ele foi abandonado. Pode muito bem ter partido de livre e espontânea vontade doidinho para respirar novos ares; vai ver era um burro velho em busca de capim novo…

         — De saco cheio da Luiza Brunet? Capim novo com aquela verdadeira salada com tenras folhas de cultivo orgânico, sem agrotóxicos, na mesa? Você ficou louco?

         — Ué, e quem te garante que com a beleza toda ela não era uma tremenda duma chata? Quem te garante que não vivia possuída por constantes acessos de mau humor?

         — Mulher gostosa tem direito a tudo, rapaz, até ser chata e  mau humorada. E o sujeito casado com um material desses tem mais é que se ajoelhar todo dia de manhã ao lado da cama para agradecer a Deus pela maravilha de ter dormido ao lado da beldade. Luiza Brunet, rapaz! Você ainda não caiu na real? O maridão perdeu a Luiza Brunet, meu! Vai ver que ele, até, já deu cabo da própria vida.

         — Sabe? – Tenho um lampejo – Veja o seu caso.

         — Como o meu caso?

         — Você acaba de separar. Pois bem, a Luisa Brunet, perto da Ana Maria, tua ex-mulher, é uma porcaria. A Gisele Bündchen, perto da Ana, é outra droga. E as beldades do passado também, como a Kate Moss, Tyra Banks, Adriana Lima, Janice Dickinson, Carolina Del Lama, Tatiana Trindade, Fernanda Mota e por aí vai. No entanto aí está você, lépido e fagueiro.

         Neste momento ele enfia a mão no bolso interno do paletó e retira uma dessas garrafinhas portáteis de acondicionar bebidas. Como estávamos só os dois na sala, às 9 horas da manhã, imprópria, teoricamente, para qualquer álcool, dá um gole. Depois sopra, com os olhos subitamente úmidos:

— E por que é que você pensa que estou bebendo assim? Não duro até o fim do Inverno, meu…

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Antonio ContenteANTONIO CONTENTE

Jornalista, cronista, escritor, várias obras publicadas. Entre elas, O Lobisomem Cantador, Um Doido no Quarteirão. Natural de Belém do Pará, vive em Campinas, SP, onde colabora com o Correio Popular, entre outros veículos.

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