marcha à ré

Marcha à ré, na contramão, em alta velocidade, sem freios. Este é momento em que, especialmente, nós, mulheres, estamos vivendo no país, com assustadores números de feminicídios, violências e projetos aterradores e aterrorizantes. A sociedade está sendo atropelada.

marcha à ré - perigo - atropelamento Marli Gonçalves

Ah, o país está mesmo sem freios, e agora, ainda por cima, o pior Congresso, o mais conservador, preconceituoso e ignaro dos últimos tempos ainda tenta usar medidas, projetos, PLs, Pecs e pocs contra nós, ameaçando a ordem democrática como se fôssemos nada, apenas uma massa de manobra, e embora maioria, pessimamente representadas nos parlamentos e no Executivo. Minimamente no Judiciário.

Não gosto de escrever irritada, mas nesses últimos tempos assustadores não há como evitar. A aprovação na Câmara, em uma “urgência” silenciosa  e anônima que durou 24 segundos, de projeto que equipara o aborto após 22 semanas de gravidez ao crime de homicídio, mesmo nos casos em que a gravidez é resultante de um estupro, e com penas maiores, até 20 anos de detenção, do que as aplicadas ao próprio estuprador, no máximo de 10 anos.

Quando o que precisaria estar sendo votado é a descriminalização, luta de décadas.

Os números, para se ter uma ideia: 74.930 pessoas estupradas no Brasil em 2022, 61,4% crianças com até 13 anos de idade, de acordo com o levantamento do Fórum de Segurança Pública. Cada vez mais entraves ocorrendo para a interrupção da gravidez indesejada em hospitais referenciados, mesmo que de acordo com a atual lei vigente, fazendo com que se prolongue ainda mais o horror e a dor, buscando obrigar até – o auge do sadismo – que se ouça o batimento do coração do feto. Proíbem, e buscam atrasar mais a solução para proibir. A alteração na legislação atingirá principalmente as vítimas crianças menores de 14 anos, o maior grupo que necessita, por vários motivos, dos serviços de aborto após esse período, terceiro trimestre. Aqui, além de a nós, mulheres e nossas conquistas, tentam afrontar o atual Governo, aliás, amarrado e imobilizado por tantos acordos para base com partidos que “faça-me o favor!”

Pior é que em tudo, e não é pouco, o que vem se desfazendo, a gente tenha de ficar ouvindo as explicações que vem sendo dadas com a maior cara de pau e pedra, misturando leis, palavras difíceis, alhos, bugalhos, religião, cada uma pior que a outra, causando embaralhamento, tentando mascarar como se fossem boas as intenções  e calar a oposição, desorganizada e atônita, com reflexos lentos. Outro exemplo é a tal PEC das drogas, aprovada também esses dias na famigerada atual Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, que busca criminalizar porte e uso de qualquer quantidade de drogas. Aqui, tentam afrontar o STF que pode (e deve) votar a descriminalização do porte de maconha para uso pessoal.

Quando o que precisaria estar sendo votado é justamente a descriminalização, entre outras medidas de combate, outra luta de décadas.

Não querem resolver problemas, só criá-los, favorecendo claramente a corrupção, com leis que obviamente, como sempre, não serão cumpridas na realidade, por impossíveis. Ouvem cantar o galo em outras paragens e também querem que ele cante aqui, rouco, à direita, tentando acordar o mundo para o que há de pior.

Repito, em marcha à ré, na contramão da sociedade, atropelando o que não vê direito. São muitos exemplos; entre eles, a flexibilização do desmatamento, o sistema prisional, e a expansão da pata pesada da privatização desvairada em todos os campos, como agora também tentam na Educação. Reparem que no blá-blá costumam dizer toda hora que é “para melhorar a gestão”. Ou seja, gestão, o que deveriam fazer, não fazem e querem passar para a frente.

Ruy Castro resumiu assim, em sua coluna na Folha de S. Paulo: “… Nasce um otário por minuto e o ser humano tem uma irresistível tendência a ser tapeado”…

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marli goMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). Vive em São Paulo, Capital.

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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3 thoughts on “Marcha à ré e na contramão. Por Marli Gonçalves

  1. Meu pai tinha dois amigos e clientes, ambos patriarcas e controladores das finanças de suas famílias, cada ujm tinha uma expressão significando a mesma coisa: “quem come de meu pirão, aguenta do meu rojão” e “quem dota, vota”.
    O segundo era um pouco mais educado e a sua expressão pode ser invertida sem perder sentido: “quem vota, dota”. Isto é algo que fazemos e poderíamos fazer melhor, se dotamos, pagamos impostos, deveríamos melhor votar;mas aqui quero outro dotador diante de seus votos.
    Estes parlamentares(?) querem votar na vida das mulheres, perfeito, quem sou eu para dizer que estão errados, mas pergunto se estariam dispostos a dotar a vida destas mulheres? Têm as mulheres que gastar na indesejada gravidez, irão os parlamentares(?), ou pelo menos o governo, dotar para atender as novas e indesejadas despesas? QUEM VOTA, DOTA, então…
    E depois do nascimento da criança, irão os deputados dotar para manter as crianças ou vão empurrar nas costas da insatisfeita mãe as despesas? Se as mães deixarem as crianças nas rodas dos conventos também vão querer impor vinte anos?
    Quem quer mandar tem que entender primeiro as consequências de suas mandonices. Mas como já disse acima, poderíoamos votar melhor.
    Fica difícil se um parlamentar(?) com mandato tem milhões de meu, seu, nosso dinheiro para distribuir como se fossem benesses saídas de seus, deles, bolsos, e mais alguns milhões para fazer propaganda das benesses que realizaram, com nosso dinheiro lembro, no horário político gratúito, para quem cara pálida?, além de muitos cabos eleitorais pagos, de novo, com o meu, seu, nosso dinheiro.
    Mandatos eleitorais estão virando mandatos hereditários.
    Parece que estes parlamentares(?) aprenderam bem a mais iMmportante lição da vida deles que é FAZER CARIDADE ÀS CUSTAS DOS OUTROS.

  2. As soluções para todos os sectores da sociedade de uma nação não envolvem escolher entre políticas antigas e obsoletas de esquerda, centro ou direita.
    A grande solução é dar ao povo e à Nação tudo o que é necessário para a sua soberania, liberdade e desenvolvimento.
    Mas o Brasil precisa de um verdadeiro líder, sem políticas coloridas, para defender e fazer avançar a Nação e o seu Povo.

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