Cena de Maria Fernanda Cãndido em A Paixão segundo G.H

Literatura e cinema. Por Adilson Roberto Gonçalves

… a palavra é o centro da obra literária, mas, no cinema, a linguagem dominante é a da imagem. Por isso, obras com textos densos são difíceis de filmar, sem perder a essência…

CINEMA - A PAIXÃO SEGUNDO G.H. - CLARICE LISPECTOR -

Com título parecido, escrevi artigo para a Revista Ângulo “Cinema e literatura: alguns exemplos de gêneros literários retratados nas telas” (FATEA-Lorena, no. 138, 2014), ilustrada com um erro grosseiro, pois colocou uma imagem do filme “Forrest Gump”, protagonizado por Tom Hanks, quando o texto falava sobre “Encontrando Forrester”, com Sean Connery. Uma certa semelhança com o nome próprio levou a inexplicável confusão com quem supostamente devia saber sobre cinema.

A Paixão Segundo G.H. - 11 de Abril de 2024 | Filmow
CARTAZ DE “A PAIXÃO SEGUNDO G.H”

De qualquer forma, o contraponto entre literatura e cinema é sempre instigante a se fazer. Hoje é Clarice Lispector que vem à baila. Uma boa empreitada a de Luiz Fernando Carvalho ao filmar “A Paixão Segundo G.H”, de Clarice Lispector, com Maria Fernanda Candido no elenco. No entanto, a palavra é o centro da obra literária, mas, no cinema, a linguagem dominante é a da imagem. Por isso, obras com textos densos são difíceis de filmar, sem perder a essência. Vamos ver o que o diretor conseguiu, ainda que pregue a necessária poesia na película. É um filme para ser urgentemente visto.

Os efeitos especiais estão sendo substituídos pela inteligência artificial (IA). Se antes já se torcia o nariz para tais construções que traziam ficção sobre a ficção, com IA podemos perder a dimensão de quem faz o quê em uma obra cultural, cinema aí incluído. No caso específico de livros e literatura, discute-se o direito autoral pois o robozinho apenas busca na internet o que já está publicado para compor um ‘novo’ texto.

Há que se defender os direitos autorais, não apenas da IA, como bem o fizeram os representantes da indústria do livro em artigo recente para a Folha de S. Paulo (“É preciso proteger o livro, quem o produz e quem o lê”, 23/4). Porém, o livro continua caro para o leitor e com o mínimo de ganhos para o autor, independente do plágio cibernético ou de sua transposição indevida para telas. Há uma cadeia de intermediários que precisa ser reavaliada, haja vista a quantidade de produções independentes e autoprodução que têm diminuindo substancialmente o custo das edições.

Livros? Se não lê-los, como sabê-los?

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Perfil ambiental e político – Adilson Roberto Gonçalves –  pesquisador da  Universidade Estadual Paulista, Unesp, membro de várias instituições culturais do interior paulista. Mantém o Blog dos Três Parágrafos. Vive em Campinas.

 

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