Zagallo Eterno. Por Arnaldo Niskier
… Mário Jorge Lobo Zagallo era tijucano de corpo e alma. Conheceu a esposa Alcina (devota de Santo Antônio) e com quem teve quatro filhos, na Rua Gonçalves Crespo, que frequentou com grande intensidade…
A expressão do título desta crônica tem 13 letras, bem ao estilo do supersticioso Zagallo, que conheci nos bons tempos de Tijuca. Era aluno do Colégio São José e praticava esportes no América F.C. Foi campeão carioca de tênis de mesa e juvenil de futebol do clube rubro, até se transferir em 1950 para o Flamengo, onde acabou titular da ponta esquerda, posição que depois defendeu também no Botafogo F.R. Quando ele deixou o América, treinei no seu lugar, na ponta esquerda. O técnico era o seu Freitas.
Único tetracampeão mundial, o atleta alagoano foi um verdadeiro patrimônio do futebol brasileiro. Com ele estive em Araxá e Poços de Caldas, em 1950, como jornalista, nos preparativos da Copa da Suécia. Mantivemos sempre uma boa amizade, abençoada pelas relações com João Lyra Fº, que elogiava a sua tripla condição de atleta, torcedor e dirigente. Numa das ocasiões, de volta de uma Copa do Mundo, irritou-se com alguns jornalistas e disse a frase que ficou famosa: “Vocês vão ter que me engolir”. Ganhou os apelidos de Velho Lobo, Professor e Formiguinha.
Por minha inspiração e com a ajuda de João Lyra Fº, escreveu o livro “As lições da Copa”, lançado com grande êxito por Bloch Editores, empresa da qual eu era o diretor. Foi uma prova da nossa amizade.
Agora, falecido aos 92 anos de idade (morte por falência múltipla de órgãos), deixa o nosso convívio para ir no encontro de outros ídolos, como o incomparável Pelé. São os nossos imortais das quatro linhas, que ajudaram a transformar o Brasil no país do futebol.
Uma lembrança dos nossos tempos de jovens na Tijuca. Ele adorava correr atrás dos balões que brilhavam nos céus da região. Com uma particularidade: era sempre o primeiro a chegar quando o balão iniciava a sua queda inexorável. Corria muito e, por isso, na nossa turma era considerado o ‘rei dos balões”.
Mário Jorge Lobo Zagallo era tijucano de corpo e alma. Conheceu a esposa Alcina (devota de Santo Antônio) e com quem teve quatro filhos, na Rua Gonçalves Crespo, que frequentou com grande intensidade. Ela faleceu em 2012.
Acho que Zagallo torcia pelo Botafogo, clube de astros como Garrincha, Nilton Santos, Didi e Heleno de Freitas.
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Arnaldo Niskier – Imortal. Sétimo ocupante da Cadeira nº 18 da Academia Brasileira de Letras. Professor, escritor, filósofo, historiador e pedagogo. Foi presidente da Academia Brasileira de Letras e secretário estadual de Ciência e Tecnologia e de Educação e Cultura do Rio de Janeiro. Presidente Emérito do CIEE/RJ.