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… Desde o final da década de 1960, o dólar está ocupando o lugar de principal moeda nas trocas internacionais. No passado, franco francês e libra esterlina já tinham sido moedas de referência. Apesar dos 50 anos decorridos desde que o dólar passou a ser referência, a erosão vem sendo muito lenta.

 

Lula -dólarMês de abril passado, em visita a Pequim, Luiz Inácio entrou no palco pisando duro. O estilo era pra ser “O Brasil está de volta”, mas os modos estouvados estavam mais pra elefante em loja de porcelana.

Num dado momento, exibiu seu ar mais ingênuo e lançou ao ar uma pergunta retórica que o fez parecer um adolescente que começa a descobrir como o mundo funciona, mas ainda não entendeu bem.

“Toda noite me pergunto por que todos os países estão obrigados a fazer o seu comércio em dólar? Quem decidiu que é o dólar a moeda depois que desapareceu o ouro como paridade?”

Com certeza, a candura de Lula é fingida. Não dá pra acreditar que, depois de ter presidido “essepaiz” por quase 9 anos, ele ainda não tenha entendido os passos básicos do balé das trocas internacionais.

Ele deve saber que ninguém “decidiu” que a moeda das transações internacionais seria o dólar americano. Para funcionar, certas coisas não carecem de leis ou de regras. Funcionam da maneira que satisfaz aos usuários.

E assim continua enquanto os atores estão satisfeitos. A partir do momento em que as condições deixam de satisfazer ao distinto público, tendem a ser modificadas.

Desde o final da década de 1960, o dólar está ocupando o lugar de principal moeda nas trocas internacionais. No passado, franco francês e libra esterlina já tinham sido moedas de referência. Apesar dos 50 anos decorridos desde que o dólar passou a ser referência, a erosão vem sendo muito lenta. Metade das transações mundiais continuam sendo feitas em moeda americana.

Por seu lado, 59% das reservas internacionais que praticamente todos os países possuem está garantida em dólares. Essa porcentagem tem baixado – 25 anos atrás eram 71% – mas a moeda americana continua resistindo. Atualmente, a segunda moeda que abriga reservas internacionais é o euro, que responde por apenas 20% dos depósitos.

Indagado, Monsieur Julien Vercueil, professor de Economia no Instituto Inalco (França) considera que “Apesar dos inconvenientes, o dólar constitui hoje a melhor opção, para a maioria dos operadores, de basear suas transações internacionais. E, para os bancos centrais, de investir suas reservas internacionais.” E isso dura há meio século.

Mas, enfim, o dólar vai exercer para sempre o papel de moeda de referência nas compensações internacionais?

A situação atual certamente não é eterna, que tudo tem um fim. Um dia, o dólar perderá sua força e será aos poucos substituído por outra(s) moeda(s). Só que isso não vai ocorrer “porque o Lula quer”. Será realidade no dia em que a maioria dos operadores se sentir desconfortável e decidir mudar de quitanda.

Assim como ninguém impôs o dólar, difícil será expulsá-lo das trocas internacionais.

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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos,  dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.

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2 thoughts on “Se livrar do dólar? Por José Horta Manzano

  1. Enviei para um amigo que editaria livro em português-francês. Argumentei o lado histórico da língua inglesa no mundo ocidental e por conseguinte o dólar. E ele fará com o inglês.
    Seu artigo chegou no momento exato. Obrigada!

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