Vou-me embora para Andorra. Por Aylê-Salassié Quintão
… Ah! É isso… Vou me embora para Andorra. Lá nos Pirineus! Ali não tem moeda, não há inflação, imposto de renda, controle cambial, nem taxa de juros, muito menos as tais fake news. Aceita-se qualquer cartão ou cheques avulsos. A longevidade é superior a 82 anos…
Brics, bracs, brecks ; Pacs, pic, pocs; pocs pics, Pecs…
Frente a uma enorme caneca de cerveja bitter (escura), olhar meio perdido, tamborilava com os dedos sobre a mesa, impaciente e pensativo sobre o nosso paraíso cada dia mais caótico e caricato. Ah! É isso… Vou me embora para Andorra. Lá nos Pirineus! Ali não tem moeda, não há inflação, imposto de renda, controle cambial, nem taxa de juros, muito menos as tais fake news. Aceita-se qualquer cartão ou cheques avulsos. A longevidade é superior a 82 anos. A taxa de desemprego dois por cento, a de criminalidade menor ainda.
No mundo das finanças, o Principado de Andorra é conhecido como paraíso fiscal, como um Éden pelos naturalistas e praticantes de ski (esqui), biathlon e snowboard. Recebe até um milhão deles por ano. São apenas 80 mil habitantes, distribuídos por 468 km2, montanhas com altitudes superiores 2.900 m, cercadas por bosques, rios e lagos de águas cristalinas .Sua capital Andorra la Vella está espraiada em um vale a 1023 ms acima do nível do mar, e é marcada pela quantidade de bancos, joalherias, bares, cafés e restaurantes.
O ano civil tem 300 dias de sol e o restante dos dias acumula neve suficiente e adequada para atrair os milhares de jovens desportistas. Os bares, cafés e danceterias vivem cheios de gente bonita e alegre. Não há espaços para videntes ou feiticeiros pensarem o futuro como promessa de felicidade. Ela já está lá materializada. Não tem também essa história de propriedade privada no meio rural como reserva de valor. As que existem são distribuídas àqueles que quiserem produzir, de fato, dentro das vocações reveladas pela terra. Quem gostava de Andorra era o Ayrton Senna.
Andorra conquistou sua soberania em 1278. Politicamente, caracteriza-se como uma diarquia, um principado dirigido por dois príncipes: um da igreja, outro do parlamento, chamado de Conselho dos Vales (comunitários). Economicamente é auto suficiente. É mesmo o paraíso, concordam os estrangeiros que conhecem o país. A cozinha é francesa, ao mesmo tempo, espanhola e catalã. Come-se ali uma saborosa truta com castanhas.
– Ei, beba seu chope!…
Não, não dá para comparar com o nosso paraíso tropical, estigmatizado pelos cientistas e artistas estrangeiros dos séculos XVII, XVIII e XIX que, ambiguamente, viam aqui também o inferno. Isolados nas montanhas, os andorranos não se metem com ninguém, e fazem de tudo para evitar que alguém os aborreçam. São protegidos, ao mesmo tempo, pela Espanha e pela França. O principado está fincado na fronteira entre os dois. Não querem mais do que tem.
Ao contrário dos brasileiros e dos russos – maiores territórios e PIBs enormes – insatisfeitos com o que conquistaram. Nossas lideranças políticas não só querem para muito além dos andorranos, como desejam para si o que é do outro ou do Estado. Sob qualquer regime, esses procedimento gera um estado de espírito egoísta, artificial, manhoso, cujos raciocínios até os supostos amigos no mundo não conseguem entender.
Lideranças políticas com esse perfil gestam a descrença dos estrangeiros e desilusões nos nacionais. Os ganhos materiais da Nação difundidos por aí passam a ser vistos como fantasias num mundo conturbado e a economia instável. Os discursos oficiais são recebidos como versões que se sucedem (Bolsonaro vai a ONU diz uma coisa, o Lula vai lá depois, e diz outra). Chega-se a confundir a diplomacia, em que os votos do Brasil se apresentam quase sempre conflitantes em diferentes Conselhos sobre o mesmo assunto.
As leis por aqui são fragilizadas por peças jurisprudenciais, convenientes, às vezes, ideologizados, levando a desconfiança aos investidores. Nosso nível de escolaridade não permite sequer aprender com a experiência dos argentinos. Ninguém, a não ser o Brasil, empresta dinheiro para Venezuela, Cuba, Argentina, Nicarágua. O calote no BNDES é alto. Eles ainda querem mais. Lula prometeu ajuda. O caixa do BNDES é constituído com depósitos salariais dos trabalhadores.
É difícil mesmo de entender. No Brasil, cada governante de plantão tem uma proposta para o desenvolvimento do País. Sempre casuística para atender uma conveniência ou outra. Nunca um projeto de Nação. Apesar dos Planos de Desenvolvimento (PNDs), os militares não foram muito diferentes, embora mais sérios. O projetos de Nação de FHC foram copiados por quem lhe sucedeu e, em seguida metonimizados. A ex-presidente Dilma Rousseff teve o seu Plano de Aceleração do Crescimento (para 25 anos) ironizado onomatopaicamente pelos opositores como PAC, PAC, PAC, pelo ritmo lerdo das soluções, e desapareceu. Com o Temer sumiu também seu Plano de Futuro.
A nossa Oposição usa de todos os recursos junto com os oportunistas para anarquizar a tramitação de projetos no Congresso e – diria – a vida do País. Dá uma enorme contribuição para emperrar a execução desses planos de Governo, ao interromper seguidamente a governabilidade, com chantagens. O cidadão comum sente-se ludibriado com ambas as partes, sobretudo com milhares de projetos e obras paradas por todo o Brasil, não por falta de dinheiro, mas de vontade política. O novo conjunto petrolífero, levantado pela Petrobras custou R$ 75 bilhões até as obras serem paralisadas por falta de dinheiro, e agora está sendo fragmentado e desmontado.
Nossos governantes tem quatro anos de mandato, mas governam um ano e meio. Cerca de seis meses, em períodos alternados, para não pegar mal, são gastos com viagens internacionais com a família, hospedando-se em hotéis cinco estrelas com dinheiro público. Quando toma posse nos cargos dão de cara com a realidade que fantasiaram retoricamente para os eleitores. Por incompetência gestora para dar continuidade a projetos em andamento, ocupam-se o primeiro ano de gestão distraindo a Nação, atribuindo a culpa dos males existentes aos antecessores. O quarto ano é destinado a fazer conchavos, distribuir benesses do Estado a partidos e políticos, com vistas à reeleição. Governam efetivamente por menos de dois anos, e aposentam-se pelo resto da vida com salários elevados. A Receita Federal não fala, mas os salários de quem quer acabar com a pobreza estão chegando próximo de R$ 300 mil por mês. querem receber no exterior pagamento em dólar, inclusive a Dilma (US$ 50 mil por mês), no BRICS, bracs, brecs, do meu amigo.
Daí o desejo de sempre reelegerem-se. No Brasil, a política, desempenhada à luz de uma suposta democracia, é missão para oportunistas. Não para estadistas – pessoas compromissadas com bem estar da população e pela proteção do patrimônio público da Nação. Não é também um emprego público, embora algumas remunerações em cargos temporários acompanhem os titulares ao túmulo, sobretudo os que ganham mais. É, simplesmente, uma mamata, um prêmio pago pelo Estado. Por isso, desta vez não acompanho Manuel Bandeira. Não vou para Pasárgada (No Irã? Estou fora!). Vou para Andorra tomar Veuve Clicquot com vencedores de eleições no Brasil. Não me chamo Raimundo…
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Aylê-Salassié F. Quintão – 90, Jornalista, professor, doutor em História Cultural. Vive em Brasília. Autor de “Pinguela: a maldição do Vice”. Brasília: Otimismo, 2018
E autor de Lanternas Flutuantes: