De aluguel. Por José Horta Manzano
… dizer que não pode ficar com as crias porque está morando de aluguel? Tremenda falsidade. E tremenda falta de imaginação. Se morar de aluguel e ser tutor de bicho de estimação fossem realidades incompatíveis, haveria poucos cachorrinhos e gatinhos de família…
Em matéria de desculpa esfarrapada, Madame Bolsonaro parece ter absorvido os costumes do clã em que se enxertou. Pensando bem, isso é importante para alguém que almeja dar continuidade aos passos do esposo impedido. É o que fez, 50 anos atrás, Isabelita Perón, ao assumir a Presidência da Argentina na sequência do falecimento de Juan Domingo Perón, seu marido.
“Estou morando de aluguel”
Convenhamos que há desculpas melhores para quem quer se livrar do estorvo de ter que cuidar de filhotes que estraçalham chinelos e fazem xixi pela casa toda.
“Meu apartamento é pequeno demais, um verdadeiro apertamento. Cachorrinho novo precisa de espaço” – seria aceitável.
“Estou levando uma vida extremamente agitada e não me sobra tempo pra paparicar filhotinhos que precisam de muita atenção” – também seria plausível.
“Meu marido já não mora no Brasil e isso me obriga a viajar frequentemente. Não gosto de deixar os bichinhos com cuidadores” – seria demonstração de coração sensível.
“Não gosto de animais. Detesto ter bicho em casa. Os que eu tenho já me dão dor de cabeça suficiente” – seria desculpa violenta, combinando com o espírito bolsonárico. Muita gente vibraria.
Há ainda uma bacia de pretextos cabíveis, basta pensar cinco minutos.
Agora, dizer que não pode ficar com as crias porque está morando de aluguel? Tremenda falsidade. E tremenda falta de imaginação.
Se morar de aluguel e ser tutor de bicho de estimação fossem realidades incompatíveis, haveria poucos cachorrinhos e gatinhos de família.
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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos, dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.
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