JOGO de xadrez

Jogo de Xadrez. Por Laurete Godoy

JOGO DE XADREZ

“As peças devidamente colocadas já estão executando os primeiros movimentos de mais uma partida.”

JOGO DE XADREZ

 Viver é participar de um jogo de xadrez. Um não, vários. Por obra do destino as pessoas são colocadas em um grande tabuleiro. Pedras vivas, com funções definidas e movimentos específicos. Caminham lado a lado, cruzam-se, deslocam-se lateralmente, vão para frente, para trás, algumas usando a estratégia da eliminação, para alcançar melhor posição. A tática, as investidas e os recuos sucedem-se, até chegar o momento do xeque-mate. A partir de então, ocorre mudança no cenário. Algumas peças permanecem no tabuleiro e outras procuram novos caminhos.

Sonhando, decidi abandonar por momentos minha condição de “pedra-viva”, para analisar cada peça do complicado jogo.

Ali estava o Rei. Coroa bem posta, olhar severo, conduta ilibada, atento às carências do seu povo, envidando esforços para solucioná-las. Ao seu lado a Rainha. Digna, postura correta, trabalho voltado aos necessitados, auxiliando o Rei na árdua tarefa de governar. Os Cavalos eram os preferidos do Rei. Gozavam da intimidade palaciana, mas trabalhavam arduamente para tornar maior a grandeza do reino e, apesar dos dissabores e chibatadas, seguiam firmes puxando a carruagem real. O Bispo, apóstolo verdadeiro, hábil jardineiro, desceu do púlpito, e esquecendo rótulos e divergências, associou-se a outros líderes religiosos. Unidos, supriram necessidades e semearam palavras de fé, coragem e esperança. As Torres assentadas sobre sólidas estruturas possuíam interior limpo, aspecto magnânimo, olhos de fiscais e valentia de soldados, prontas para lutar na defesa dos ideais do reino. Um pouco mais distantes estavam os Peões. Aparentemente modestos, mas de grande importância nesse incomensurável tabuleiro. Deslocavam-se de casa em casa, lentos, laboriosos e, por serem as peças mais numerosas, representavam uma grande força.

Sonhei um jogo limpo, um reino próspero e um povo contente.

O grande tabuleiro aí está. As peças devidamente colocadas já estão executando os primeiros movimentos de mais uma partida. Houve troca de posições, as dificuldades são imensas e imprevisíveis, a expectativa é grande e o tempo regulamentar será extenso. E, como sempre acontece nos momentos que antecedem uma difícil partida, arrisco-me a fazer uma prece:

SENHOR, dai ao Rei lucidez suficiente para   distinguir o certo do errado. Fazei com que o poder não confunda  seu raciocínio, nem  obscureça seu discernimento.

SENHOR, fazei da Rainha uma companheira leal e operante, associando na sua atuação junto aos necessitados, a sensibilidade das mulheres,  com a     abnegação das mães.

SENHOR, ajudai os Cavalos a desenvolverem uma caminhada vigorosa, em linha reta, longe dos atalhos sombrios e tortuosas sendas. Que alguns           tenham asas como Pégaso e outros transformem-se em verdadeiros Centauros,   para facilitar o trajeto do Rei.

SENHOR, iluminai o Bispo, para que ele seja um apóstolo do Bem, transmitindo mensagens de   amor, caridade e misericórdia, por meio do    próprio exemplo.

SENHOR, concedei à Torre a altura de que é merecedora, mas não a deixe esquecer de que sua posição é elevada, porque contou com o trabalho de     milhares de operários, que merecem ser tratados, sempre, com muito respeito e gratidão.

SENHOR, fazei os Peões compreenderem que, embora desenvolvam o trabalho mais árduo, eles não são menos valiosos que o Rei, a Rainha, os Cavalos, o  Bispo e a Torre.  E são eles, os Peões, os anônimos  construtores e as mais   numerosas peças do reino que sonhei…

...NUMA PARTIDA DE FAZ-DE-CONTA, DESTE MEU JOGO DE XADREZ...

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Laurete Godoy

Laurete Godoy  – Escritora e pesquisadora. Autora de Brasileiros voadores – 300 anos pelos céus do mundo.

                            São Paulo, 05 de dezembro de 2022.

 

São Paulo, 29 de janeiro de 2023.

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