A torcida. Por José Horta Manzano
… Não são só os brasileiros decentes que não veem a hora de se livrar do Capitão Tragédia. Não estamos sós. O mundo decente está ao nosso lado, na torcida. Infelizmente, essa massa de gente de boa vontade não vota no Brasil. Mas sabe fazer pressão…
Fora dos EUA, o antigo presidente Donald Trump era visto como uma espécie de palhaço. Seu comportamento de elefante em loja de cristais incomodava. Só que tem uma coisa: ele era palhaço, mas um palhaço com exército e bomba atômica. São argumentos fortes que impõem respeito.
Em nosso triste Brasil, temos um presidente que tenta, há quase quatro anos, seguir a cartilha de Trump. Como se sabe, as mesmas causas costumam produzir os mesmos efeitos. Assim, não deu outra: no exterior, Bolsonaro também é visto como palhaço. Só que… um palhaço sem bomba atômica, fato que deixa todo o mundo à vontade, língua destravada. Ninguém tem medo de estilingue.
Em meio século de vivência no exterior, acompanhei numerosas campanhas eleitorais e eleições presidenciais. Naqueles tempos pré-internet, pra saber como iam as coisas em Pindorama, o único jeito era pedir a alguém que mandasse uma revista ou um jornal pelo correio. Com quinze dias de atraso, a gente se atualizava.
Hoje, com internet, a informação circula com a velocidade do raio. No entanto, vale contar que, mesmo que não tivessem inventado a rede, não haveria mais necessidade de encomendar revista. De fato, a mídia europeia passou a se interessar de perto pelas peripécias eleitorais do Brasil.
Dado que, até poucos anos atrás, havia pouquíssimo interesse pelos acontecimentos brasileiros, acredito que o fervor atual seja um “efeito Bolsonaro”. Os estrangeiros, que não dependem de auxílio nem de cesta básica, são mais propensos a ver as coisas como elas são, despojadas da cosmética eleitoreira.
Ainda hoje, o rádio informou do início oficial da campanha eleitoral no Brasil. Contaram até como foi o primeiro dia de cada um dos integrantes da dupla mais cotada – Lula e Bolsonaro. Com ênfase neste último, naturalmente. Até uma parte do discurso do capitão foi transmitida, com tradução simultânea, veja só.
Em outros tempos, a gente se sentiria até orgulhoso – veja como nosso país ficou importante! Só campanha eleitoral nos EUA e nos países da Europa Ocidental costumavam atrair a atenção. Infelizmente, sabe-se que o Brasil não ficou importante de repente. O mal é a ameaça representada por Bolsonaro, estranho dirigente que trabalha contra seu país e seu povo. Vem daí o interesse internacional.
Não são só os brasileiros decentes que não veem a hora de se livrar do Capitão Tragédia. Não estamos sós. O mundo decente está ao nosso lado, na torcida. Infelizmente, essa massa de gente de boa vontade não vota no Brasil. Mas sabe fazer pressão. A ameaça de golpe vai arrefecendo. No final, que vença o que tiver mais votos.
Mas sem golpe.
____________________
JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos, dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.
______________________________________________________________
O problema é que saindo Bolsonaro e entrando Lula trocaremos seis por meia dúzia.
Se um costuma falar mal do país o outro dispõe do dinheiro que não lhe pertence para socorrer ‘amigos’ ditadores pelo mundo – fico só num mero exemplo.
Vivemos o velho dilema: se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.
Objetivamente falando, colhemos hoje o que plantamos durante anos de displicência política.
Arrancar toda essa erva daninha teimosamente entranhada no “puder” nos custará lanhar a pele, sangrar até que a carne exposta se recubra de nova roupagem.
Trabalho doloroso de décadas. Necessário.