Ah!, a mulher de César…Blog do Mário Marinho
Você já deve conhecer esse ditado: “À mulher de César não basta ser honesta, tem que parecer honesta.”
Claro que você já ouviu falar, pois essa frase foi dita há cerca de dois mil anos atrás.
A história, em rápidas palavras, foi a seguinte:
Pompéia mulher de César, foi participar, em Roma, de uma festa em homenagem à Bona Dea (Boa Deusa) que na mitologia romana era a deusa da fertilidade e da virgindade. Dessa festa, nenhum homem poderia participar.
Pois o jovem político Públio Clódio Pulcro, mas conhecido como Clódio, fantasiou-se de mulher e conseguiu penetrar na festa.
Consta que o objetivo do rapaz era a bela Pompeia, recatada mulher de César.
A história não registra se o ousado Clódio conseguiu sucesso.
Mas, registra, porém, que ao saber da presença de um homem naquela festa, César se divorciou da bela Pompeia.
O argumento de César foi este: “minha esposa não pode estar nem sob suspeita”.
Daí, nasceu o resiliente ditado: “À mulher de César não basta ser honesta, tem que parecer honesta.”
E o que isso tem a ver com o futebol?
Respondo do outro ditado: “Se uma coisa tem pena que nem pato, anda que nem pato e grasna que nem pato, claro que é pato.”
Ontem à noite, o Always Ready recebeu o Boca Junior, em La Paz, em jogo válido pela Libertadores, e perdeu por 1 a 0. O gol do Boca foi de pênalti.
Jogadores, torcedores e dirigentes do Always reclamaram muito da marcação do pênalti. Até aí, normal.
Só que um dirigente recebeu denúncia de que, antes do jogo, o trio de arbitragem havia recebido presentes do Boca Juniors.
A Polícia foi acionada, fez revista nas bagagens dos árbitros e, realmente, encontrou um kit com materiais do Boca. Veja na foto:
Agora, veja o lance do pênalti e tire suas conclusões:
O ex-árbitro e agora comentarista de arbitragem Sandro Meira Jr disse ao Globo Esporte que é uma cena comum árbitros ganharem esse tipo de presente que é um kit com material esportivo que os clubes costumam dar de presente.
Tá.
Eu não vou dizer que o árbitro se venderia por uma camisa, um par de chuteiras, par de meias e alguns adesivos do clube.
Mas, como disse o poderoso César, à mulher de César não basta ser honesta, tem que parecer honesta.”
É comum, e até salutar, que o árbitro e seus auxiliares recebam, por exemplo, frutas, água, refrigerantes em seu vestiário.
Mas vestiário de árbitro é um terreno perigoso.
Há alguns anos – na verdade, muitos – eu fui até à cidade de Jaú visitar meu amigo o também jornalista e companheiro de trabalho no Jornal da Tarde, Mário Schwarz.
Mario levou-me para conhecer o estádio do XV de Jaú, o Zezinho Magalhães.
Lá fui recebido pelo então presidente do clube Waldemar Bauab.
Simpático bom anfitrião, levou-me em detalhada excursão por todo canto do estádio. O estádio era bonito, bem construído, mas, me chamou a atenção um cantinho tipo puxadinho. Perguntei o que era aquilo.
– É o vestiário do juiz, respondeu.
– Mas, presidente não é um quartinho frágil e perto demais da torcida?
– É exatamente isso. Se o juiz não estiver nos prejudicando, não vai acontecer nada. Mas, se ele estiver prejudicando…
Dulcídio Wanderley Boschilia foi um juiz muito respeitado no futebol brasileiro e paulista em particular, mas muito polêmico.
Boschilia era forte fisicamente e, além disso andava armado o que era legal, já que ele era policial.
Certa vez, no intervalo de um jogo no Pacaembu, que ele apitava, alguém bateu à porta do vestiário. Ele abriu e deu de cara com um rapaz que lhe entregava alguma coisa embrulhada.
Ele não teve dúvida: chutou o embrulho e partiu pra cima do rapaz que só escapou graças à intervenção dos policiais da PM que faziam segurança do vestiário.
Depois, tudo foi esclarecido: o rapaz era funcionário do Pacaembu e estava levando lanche para o trio de arbitragem.
O jogo mais polêmico que Boschilia apitou foi a final do Paulistão de 1977, entre Corinthians e Ponte Preta (o Corinthians ganhou, 1 a 0, e quebrou um tabu de quase 23 anos sem título).
Nesse jogo, Boschilia expulsou o atacante Rui Rei, da Ponte, aos 13 minutos de jogo. Houve muita polêmica em torno do jogo.
Algum tempo depois, Boschilia explicou numa entrevista:
– O Rui Rei começou a reclamar no início do jogo. Parecia de propósito. Eu cheguei perto dele e falei: para com isso senão eu vou te expulsar. Ele me mandou tomar no c… Se eu não o botasse pra fora ele iria tomar conta do jogo.
No Mesa Redonda, da tevê Gazeta (ao lado do saudoso Roberto Avallone), eu perguntei ao Boschilia se ele já havia sido vítima da tentativa de suborno.
E ele, com aquele seu jeito de poucos amigos, respondeu.
– Ninguém nunca teve coragem. Ia apanhar muito…
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Mário Marinho – É jornalista. É mineiro. Especializado em jornalismo esportivo, foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.
(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR) ____________________________________________________________________
Esse tal Boschilia pode nunca ter sido subornado , mas os demais … não sei não .
Qtos não se beneficiaram de ” agradinhos ” desse ou daquele clube ….
Esse pênalti, plagiando um comentarista de rádio, nem a mãe do atacante marcaria. Mais uma vez o futebol perde a compostura e a graça.