Agora chega! Por José Horta Manzano
Agora chega!
A graça concedida por Bolsonaro a Silveira, seu correligionário e deputado, condenado pelo STF a mais de 8 anos de cadeia, põe em pauta um problema cabeludo.
As leis que regem as instituições da República foram e continuam sendo elaboradas para situações normais. Partiram do pressuposto que postos de responsabilidade são ocupados por gente equilibrada e bem-intencionada. Não estava previsto que, um dia, um personagem desequilibrado e mal-intencionado ocupasse o cargo maior.
Faz três anos que as aspirações autocráticas do capitão vêm submetendo a nação a sobressaltos e a uma pressão cada dia mais insuportável. Anestesiados, seus devotos perderam a faculdade de pensar por si mesmos. Deles, não há nada a esperar.
Os demais brasileiros, moldados por séculos de regime autoritário, não se dão conta de que estamos resvalando para uma autocracia personalística, aberração que não se via por aqui desde os tempos de Getúlio Vargas, destituído 77 anos atrás.
Bolsonaro está conduzindo o Brasil em marcha forçada para um regime de tipo putiniano – autocrático e personalista, duzentos e tantos milhões de homens e mulheres tributários dos caprichos de um desatinado.
A inação das Forças Armadas já denota surpreendente cumplicidade. Exceto uma voz discordante aqui, outra acolá, o silêncio do generalato soa, se não como indiferença, como tácita anuência.
O Congresso – corroído por cooptação desabrida, onerosa e abjeta – perdeu a capacidade de exercer sua função de representar os interesses da população.
O Supremo Tribunal Federal é a última barreira, o derradeiro cinturão de segurança que ainda mantém, bem ou mal, a coesão das instituições da República do Brasil.
A hora é mais grave do que parece à primeira vista.
A Amazônia desaparece ao ritmo de um campo de futebol por minuto. A madeira extraída criminosamente é oferecida a amigos do clã para negócios escusos. Os manguezais são postos à disposição dos amigos do rei. A Instrução Pública, entregue a “pastores” que trocam bíblias por barras de ouro, vai sendo carcomida pelas bordas.
Observe-se que nem o Lula, que está longe de ser um santo, ousou graciar correligionários condenados no mensalão.
O capitão tem de ser parado antes que destrua tudo. Sua destituição tem de entrar na ordem do dia. Ou deixa o poder já, ou deixa o poder já. Não há outra opção.
Como fazer? Os do andar de cima, que perigam perder o que têm se não agirem imediatamente, sabem como fazer.
O impedimento do presidente me parece uma solução. Motivos, há de sobra. Para a argumentação, temos excelentes juristas.
Agora chega!
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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos, dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.
Discordo,. O STF também é culpado. Um STF onde temos ministros que nunca passaram em concurso. Temos o absurdo que Fachim fez, um Gilmar que condena Moro, mas vive dando opinião sobre tudo e sobre casos sendo julgados por outros. O STF não pode investigar, mas Moraes vive prorrogando o processo da fase news e coloca ou investiga qualquer coisa que lhe caiba a cabeça. Seguimos com uma justiça falha, onde rico não vai para a cadeia. José Dirceu segue livre, mesmo com a pena confirmada. STF anula suas próprias decisões, juízes seguram processos, pedem vistas por anos, até a composição se alterarem. Ministros desrespeitando determinações do plenário. Etc. Sem falar que a pena de 8 anos foi um absurdo para um deputado que disse coisas absurdas.
Tem razão, tem muita coisa errada.