O pizzo. Por José Horta Manzano
Na linguagem da bandidagem mafiosa italiana, o pizzo – italianização do original siciliano “pizzu” – é uma forma de extorsão praticada por organizações criminosas. É a “taxa de proteção” cobrada de pequenos comerciantes e até de empresas de porte médio, que não têm outro remédio se não pagar.
Não se tem certeza sobre a origem do termo. É aceito por todos que se trata de forma dialetal siciliana. Dado que, no falar daquela ilha, “pizzu” é o bico de pequenas aves, acreditam alguns que o ato mafioso lembre as bicadinhas que passarinho dá quando se alimenta. Já outros são de opinião que “pizzu” seja uma forma abreviada de “capizzu” (cabeceira da cama), transmitindo a imagem de que os que se resignam e pagam o pedágio podem descansar tranquilos.
E ai de quem não pagar! Uma manhã, ao chegar para abrir a loja, o recalcitrante pode ter a terrível surpresa de encontrar seu comércio incendiado. Os que forem se queixar às autoridades correm até risco de vida.
Nesta altura, quero fazer uma correção. Mais de uma vez, devo ter qualificado o Brasil como terra de bandidos. Eu não estava fundamentalmente errado, mas a definição estava imprecisa.
Estes dias, quando as manchetes trazem a notícia das práticas vigentes no Ministério da Educação (da Educação!), sou obrigado a desembaçar minha definição. Não vivemos numa terra de bandidos, mas numa terra de mafiosos.
Nos tempos do mensalão e do petrolão, a dinheirama extorquida vinha de grandes empresários, principalmente do ramo de construção. No final, quem acabava sendo lesado era o povo, naturalmente, mas a conta chegava de modo indireto, em suaves prestações.
As notícias dessa nova forma de “pedágio” mostram que a bandidagem se alastra e contamina nosso quotidiano. A curriola que dá sustentação ao governo federal não mais se limita a extorquir milhões de grandes empresários. Seus tentáculos já estão coagindo prefeitos a pagar o “pizzo”.
Falta muito pouco para chegarem ao cidadão comum. Em breve, estaremos todos alimentando diretamente a máfia que se instalou nas entranhas da República e que vem sendo acariciada – e incentivada – pelos mais altos escalões que nos presidem.
Em matéria de corrupção generalizada, estamos correndo a passos largos para transformar nosso país numa grande Venezuela ou numa Rússia tropical.
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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos, dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.
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Salut, mon ami Manzano! Já que passei por aqui agora, a fim de me atualizar das penúltimas, deixo-lhe uma pergunta que me ocorreu no instante: transformar o Br numa Rússia tropical não seria o que Dallagnol já fez há anos quando deu a seu chefão o codinome de ‘Russo’ no Telegram? (Ou será que era Ruço, por causa da aparência de sua, na época, futura candidatura…?)
Forte abraço.
Salut, très cher! É, nesse jogo de cartas marcadas que é nossa política tropical, tá ruço, mermão!
Leitor assíduo de sua coluna, parabenizo sua forma elegante de tratar assuntos tão dispares e atuais, além de aprender termos, história e peculiaridades de certas regiões mundo afora.
Quanto ao Brasil parece que não teremos – pelo menos a curto prazo – solução; na eleição próxima a escolha será entre 51 (referência a bebida favorita do atual líder de pesquisas) ou 171 (referência ao estelionatário que hoje ocupa o cargo, mesmo sem exercer).
Abraço.
Obrigado pelas palavras amáveis, Xará. Tem razão, a escolha está bem estreita, entre um cachaceiro e um farofeiro. E, no meio, um juiz mão-pesada que acredita ser a reencarnação de Robin Hood.
Creio ser referência ao Sergio Moro…. Infelizmente ele foi ingênuo – ou pouco sensato – ao aceitar trocar a toga pelo Ministério… serviu apenas aos propósitos do 171 e, tão logo isso ocorreu foi descartado…
Hoje, comete – na minha opinião – outro erro ao se manter na política… ficasse na iniciativa privada distante da lama que cobre toda a classe política em geral.
Será mantida a candidatura apenas mais um peão a ser devorado durante o processo.
Enfim cada um sabe de si…
Abraço
Esse moço é de uma tal ingenuidade, que dá medo imaginá-lo na Presidência.