Um tesouro de votos. Coluna Carlos Brickmann
EDIÇÃO DOS JORNAIS DE QUARTA-FEIRA, 26 DE JANEIRO DE 2022
O bispo Edir Macedo, comandante supremo da Igreja Universal do Reino de Deus, informou a seus fiéis, no domingo, que não é possível ser cristão e esquerdista. Mas nada de criticar o bispo por ter sido aliado dos presidentes Lula e Dilma (que até, como o atual, lhe deram passaporte diplomático): seu lado político, como água morro abaixo, o leva a estar próximo do governo. O Republicanos, partido do bispo, é uma estrela do Centrão. Com os aliados PP e PL, detém 32 bons cargos no Governo Federal (bons cargos são os que têm verbas e nomeações à vontade) e ajuda a controlar R$ 150 bilhões, mais que o orçamento da Defesa, mais que o orçamento da Educação. O bispo é o chefão do Republicanos, como Ciro Nogueira é o do PP e Valdemar Costa Neto do PL; mas os três sabem que seus seguidores abandonarão o navio na mesma hora se descobrirem que outros barcos estão mais bem abastecidos.
Imagine que o PT vença em outubro. Em janeiro, por ocasião da posse, o Centrão inteiro estará jurando que Lula, Dirceu, Tasso Genro, Rui Falcão e outros são adeptos do novo capitalismo, com liberdade empresarial, rigor fiscal, distribuição de renda que aumente o mercado interno e promova um forte desenvolvimento econômico. Continuarão seguindo a Oração de São Francisco (“é dando que se recebe”) e o caminho da salvação (“fora do poder não há salvação”). Não fariam oposição nem a Moro: proclamarão que, com ele, combaterão duramente a corrupção. Mas combaterão à sombra.
O silêncio é de ouro
Por falar em Moro, nada como lembrar uma frase encontrada em Proust, “o tempo é o senhor da razão”. Enquanto Moro e Bolsonaro duelam, vale lembrar a frase de Rosângela Moro, por volta de fevereiro de 2020: “Sou pró-governo federal. Eu não vejo o Bolsonaro, o Sergio Moro. Eu vejo o Sergio Moro no governo do presidente Bolsonaro, eu vejo uma coisa só”.
Aí é preciso lembrar outra frase clássica: “O silêncio é de ouro”.
É isso aí
Revelação do excelente colunista Bruno Thys: – Milicianos e traficantes controlam 80% da venda e distribuição de gás (de botijão) no Rio.
Lembrando: não faz muito tempo, no governo Michel Temer, houve uma longuíssima operação militar, comandada pelo hoje ministro da Defesa, general Braga Neto, para retomar as favelas em poder dos criminosos. As tropas já voltaram aos quartéis, o comandante da operação está em Brasília. Já as favelas, comunidades e complexos continuam sob o domínio do medo.
Virem-se
Na opinião do Governo Federal, era necessário cortar despesas já inscritas pelo Congresso no Orçamento de 2022. OK, faz parte do jogo. Só que as despesas cortadas foram aquelas essenciais – Educação e Previdência, por exemplo. Justo num momento em que há filas à espera de receber o tal do Auxílio Brasil, justo depois do longo período em que as crianças estiveram afastadas fisicamente da escola por causa da pandemia. Há risco real, dizem servidores experientes, de que a Previdência fique sem dinheiro no caminho.
Mas ficou no orçamento a reserva que permite dar aumento ao pessoal armado, e só ao pessoal armado, evitando que os demais funcionários públicos, sem aumento há tanto tempo quanto os policiais, tenham reajuste.
Conta, conta…
Lembra de um caso escandaloso, de imensa repercussão, que envolvia a localização de R$ 51 milhões do deputado Geddel Vieira Lima em Salvador, num apartamento? Já se passaram quase cinco anos. Ninguém vai responder se o dinheiro era só para o deputado ou também para outras pessoas? Aliás, quem deu esse dinheiro? E qual o motivo de tão generoso presente? Embora faça tempo, onde estão as respostas?
E, aproveitando que o “Jacaré”, velho amigo de Bolsonaro, disse que as “rachadinhas” existiam, sim, e que eram administradas por uma ex-mulher do presidente, outra dúvida: por que o casal Queiroz depositou R$ 89 mil na conta da atual esposa de Bolsonaro? Certamente não é corrupção, porque a propaganda do Governo diz que estamos há três anos sem corrupção. Então, por que? Tanto o colunista quanto os caros leitores ficariam felizes de achar esse dinheiro na conta, ainda mais sabendo que não há corrupção.
…minha gente
O então vice-líder do Governo Bolsonaro no Senado, Chico Rodrigues, foi apanhado em casa com um monte de dinheiro oculto na cueca (e, mais oculto ainda, um rolinho de dinheiro menos avantajado). O senador já tirou licença (o suplente, que ocupou o lugar, era seu filho), já voltou, já nem ouve mais piadas nem comentários…, mas de onde surgiu tanto dinheiro? Por que esconder esta quantia na cueca e em locais ainda mais recônditos?
Quem mandou matar a vereadora carioca Marielle Franco? Há executores presos, que devem ter sido, como se dizia nos velhos tempos, habilmente interrogados, mas o mandante é ainda misterioso. É preciso investigar mais.
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