Marido idoso é gato castrado? Por Meraldo Zisman
A conduta dos homens idosos, devido à diminuição da produção dos hormônios sexuais (testosterona), não poucas vezes causa medo de enfrentar desafios e dependência. A produção hormonal diminui e não compreendemos isso, mesmo que isso aumente a nossa expectativa de vida.
Acontece. O fim da produção dos hormônios reprodutivos controla o apetite e a manutenção de uma musculatura mais adequada e – teoricamente – um estado de certa pujança psique e física. Os tais denominados direitos reprodutivos são conceitos que se limitam à contracepção, à esterilização, ao aborto. Concepção e assistência à saúde, disso não ponderam.
Salutar seria se os homens e as mulheres soubessem regular sua própria sexualidade e capacidade reprodutiva, além garantir que os homens assumam a responsabilidade pelas consequências do exercício de sua própria sexualidade.
Assim sendo, mandatório será inserir todos nessa perspectiva, independente do sexo, sem esquecer de que gênero não passa de uma construção social, pois o sexo é constatado ao nascer, macho ou fêmea. O que se deve é ser prudente ao escrever sobre fatos contemporâneos; ou não se considera, ou é bom evitar menção a fatos públicos que se tornaram manchetes midiáticas, para não ser apontado como machista ou feminista.
Mas, vamos à ocorrência.
Estava eu sentado em um ‘centro comercial’, tomando um sorvete, enquanto um senhor alto, magro e bem-apessoado tomava um café, cercado de sacolas de compras, na mesa ao meu lado.
De súbito chega uma senhora aparentando menos idade do que o senhor e fala rispidamente com ele, dizendo: — Vamos!
A cena chamou a minha atenção e fiquei observando o desenrolar do episódio conjugal. O Iphone do senhor tocou e ele atendeu.
Sorriu ao responder o chamado enquanto ela, mostrando sinais de impaciência e falando mais alto e rispidamente, tomou o telefone da mão dele (creio ser seu marido) e, sem mesmo verificar quem ligou, desligou-o e o guardou na própria bolsa. Recolheu alguns dos pacotes e comandou mais braba ainda: — Vamos! Enquanto ele tentava se levantar da cadeira, veio a nova ordem: — Veja se traz as outras sacolas, berrando, e saiu em frente com passos seguros e firmes.
Ele levantou-se com dificuldade, apanhou as sacolas remanescentes e tentou acompanhar os passos da marcha quase bélica da esposa, capengando. Diante dessa cena veio à minha mente um pensamento.
Não sei por que me lembrei do tempo do meu serviço militar, quando havia um sargento mandão e de uma amiga, uma senhora portuguesa, que dizia, com seu sotaque característico: “depois de certa idade o marido vira um gato castrado”.
Eu completo: depois de certa idade surge a denominada tranquilidade felina, exclusiva dos animais castrados. E não exclusiva dos felinos.
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Meraldo Zisman – Médico, psicoterapeuta. É um dos primeiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Vive no Recife (PE). Imortal, pela Academia Recifense de Letras, da Cadeira de número 20, cujo patrono é o escritor Alvaro Ferraz.
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Pois é. Eles diminuem a testosterona e desequilibram as taxas de hormônio/feminino/masculino e elas aumentam, nesta desproporção a testosterona delas. Nada a admirar na conduta autoritária e tutelar delas.
Exatamente, atitude de animais castrados; não só dos felinos. E nem precisa ser um marido idoso para ser gato castrado, basta ser marido, basta casar.
Bela crônica.
Descobri o site agora, mas já o adicionarei aos meus favoritos.