Gastando sola. Coluna Carlos Brickmann
EDIÇÃO DOS JORNAIS DE DOMINGO, 12 DE DEZEMBRO DE 2021
Sergio Moro voltou disposto: está circulando sem parar desde sua volta ao Brasil e, livre para fazer campanha, é o candidato que mais tem crescido nas pesquisas. Bolsonaro caiu muito, mas conseguiu deter a queda e obteve até alguns pequenos ganhos, embora com rejeição e desaprovação altíssimas. Lula subiu muito, mas sua alta se deteve – talvez esteja próximo do teto, e daí não passará a menos que derrube seus índices de rejeição. João Doria, como governador, tem limites de campanha, e deles só ficará livre por volta de abril, quando terá que deixar o cargo. Mas, mesmo levando tudo em conta, já deveria estar oscilando para cima nas pesquisas, e não está. Hoje, há três candidatos viáveis (é um retrato do momento: daqui a quase um ano, a foto deve ser outra e pode perfeitamente mostrar uma situação diferente).
Lula vem fazendo muita articulação política, tentando de um lado segurar a extrema esquerda (com elogios à ditadura nicaraguense, visita à Argentina para conversar com o presidente Alberto Fernandez e os kirchneristas) e de outro mostrar-se aberto a ideias de centro (com o convite a Geraldo Alckmin para que se una à sua campanha).
Bolsonaro faz campanha abertamente, sem maiores preocupações com a lei. Moro conversa em todas as áreas e tenta atrair candidatos centristas para apoiá-lo como cabeça de chapa. Ele se coloca como candidato de centro (ou centro-direita, bem direita). Tirando algumas coisas (como armas) Bolsonaro poderia fazer a mesma campanha.
Exposição
Moro jantou há dias com o tucano (e ex-bolsonarista) Paulo Marinho, no Fasano, frequentado por gente de dinheiro. Mal pôde jantar, de tanta gente que foi cumprimentá-lo. Até um ministro de Bolsonaro, Tarcísio de Freitas, passou por sua mesa. Tarcísio é o candidato dos sonhos de Bolsonaro ao Governo paulista.
Ainda resiste: nem sabe onde ficam as praias da capital, mas está sendo ciceroneado pelo ex-ministro Ricardo Salles, que deve sair candidato a deputado federal. Ao contrário de Moro, Tarcísio jantou bem: não havia tanta gente assim que soubesse quem era para ir cumprimentá-lo. Salles fez mais sucesso, como amigo de boa parte dos frequentadores.
Estratégia lavajatista
Caso Moro consiga tomar o lugar de Bolsonaro no segundo turno estará em ótima posição: poderá receber os votos antipetistas. O voto bolsonarista tenderá para ele: por mais ódio que tenham de um ex-ministro que ousou desafiar o Mito, qualquer voto que não seja nele beneficiará Lula, que até hoje é considerado por eles o principal inimigo. E o que defende é parecido com boa parte das teses do presidente.
Como disse dona Rosângela, ela sempre viu Moro e Bolsonaro como se fossem uma só pessoa. Dona Rosângela é a mulher de Moro. Acha que o cônjuge pensa como Bolsonaro.
Conge vermelho
Com a fala arrastada, que lhe rendeu o apelido de Marreco de Maringá, as falhas de pronúncia se destacam mais – falhas como a de chamar a cônjuge de “conge”). Acabam as semelhanças nas ideias e na dicção? O ex-ministro Ricardo Salles disse, na Jovem Pan, que Moro é comunista. Não, Moro não deve se achar comunista. Lembra, para quem tem mais idade, os udenistas – sem o brilho de um Carlos Lacerda, longe dos conhecimentos jurídicos de Mílton Campos e Adauto Lúcio Cardoso, mas com o moralismo à flor da pele, pronto sempre a apontar as falhas de caráter dos outros.
Lula, a Metamorfose Ambulante, tem seus momentos de Getúlio Vargas, Bolsonaro é um Plínio Salgado que deu certo (embora provavelmente nem saiba quem foi Plínio Salgado), Moro é a UDN que agora temos. O Brasil vive hoje o fim da primeira metade do século 20, setenta anos mais tarde.
A grande frase
Do jornalista Josias de Souza, blogueiro da Folha e do UOL: “(…) o resto do mundo, ao observar o casamento do líder da holding da rachadinha com o PL do ex-preso Valdemar, já enxerga pus no fim do túnel”.
O balanço das urnas
A pesquisa foi publicada há alguns dias, mas o importante é a bela análise que a revista eletrônica JOTA fez dos números, usando a ferramenta Agregador, que cruza dez mil pesquisas efetuadas desde o Governo Sarney.
Com base nesses dados, JOTA nota que o patamar de avaliação positiva de um presidente candidato à reeleição geralmente se mantém na eleição seguinte. A mediana de aprovação de Bolsonaro em 3/12 está em 23,3%. E daí? JOTA explica: “Dessa forma, é provável que Bolsonaro amealhe votação próxima. Pela ferramenta, que traça um quadro mais preciso, já que reúne diferentes levantamentos e metodologias, Lula tem 42% das intenções de voto, Bolsonaro fica com 26% e Moro com 13%. Nesse cenário, Lula teria 99% de chances de vitória em segundo turno”.
É um excelente material para que os estrategistas de campanha elaborem seus planos. Mas não se deve esquecer que a pesquisa que vale é a das urnas.
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Será que, com o tempo, a UDN piorou tanto assim?