O contrato das vacinas. Coluna Carlos Brickmann
O CONTRATO DAS VACINAS
COLUNA CARLOS BRICKMANN
EDIÇÃO DOS JORNAIS DE QUARTA-FEIRA, 20 DE JANEIRO DE 2021
O presidente Bolsonaro escolheu bons parceiros para a tarefa de produzir vacinas contra a Coronavid: o Imperial College, de Oxford, centro mundial de excelência, e os laboratórios anglo-suecos AstraZeneca, cujo trabalho na área farmacêutica é muito respeitado. No Brasil, trabalhariam com o Instituto Oswaldo Cruz, Fiocruz, com mais de cem anos de trabalho competente.
O Governo brasileiro assinou contrato de compra de vacinas. Então, cadê as vacinas? O Reino Unido já utiliza as vacinas de Oxford, a Anvisa já deu sinal verde ao imunizante, e por que não aparecem as vacinas prontas nem o material ativo para que a Fiocruz o prepare em seus laboratórios? Oxford e AstraZeneca cumprem seus contratos. Pode ser que, no contrato, determinem que vacinas e materiais destinados ao Brasil sejam produzidos no Instituto Serum, da Índia. Tudo bem. Mas como explicar a Operação Tabajara em que Bolsonaro e o general da Saúde envolveram o Brasil, pedindo que a Índia quebrasse nosso galho, alugando um avião e no fim não conseguindo nada?
Há várias versões correndo. Uma delas diz que as vacinas seriam enviadas ao Brasil 60 dias após a assinatura do contrato, e falta tempo para completar esse prazo. Mas há um documento que resolve todos esses problemas: que é que diz o contrato? O Brasil teria mesmo comprado só dois milhões de doses, quando precisa de 300 milhões (ou 200, descontando a CoronaVac)?
Alô, parlamentares, STF, Governo: cadê o contrato? É a chave da história.
Aos fatos
Como dizem o presidente e seus assessores, o governador João Doria usa calça apertada, sapatênis, gravatas de marca. Mas, sem as “vachinas” que o Governo paulista e o Butantan contrataram, não haveria vacina nenhuma no Brasil. E o que há por aqui é pouco: o total de compras do Butantan atinge 46 milhões de vacinas, das quais seis foram entregues e mal dão para iniciar a imunização. Até ontem, boa parte do material já comprado pelo Butantan estava parada na China, sabe-se lá por que (também está lá o lote destinado à Fiocruz).
Que é que está acontecendo? Produtos destinados à produção de remédios não podem simplesmente ficar parados, sem explicação. Há quem diga que é retaliação chinesa às declarações provocativas do presidente e de seus assessores. Não importa: é inadmissível.
Por onde anda o Itamaraty?
Às alternativas
É preferível imaginar que o problema seja outro. Mas, se for retaliação, o Brasil também vende à China produtos de que necessitam. O comércio é bom para os dois lados, e sua redução é ruim para ambos. De qualquer forma, há alternativas no mercado para vacinação: a Índia tem produtos que não fazem parte de sua vacinação nacional, a Rússia tem a Sputnik 5 – e na semana que vem inicia testes conjuntos com a AstraZeneca e a vacina de Oxford. As duas vedetes do mercado, Pfizer e Moderna, com vacinas produzidas sem vírus, talvez não tenham produção suficiente para o Brasil. O problema é que tudo isso atrasa a vacinação, já atrasada. Melhor seria o Itamaraty entrar no jogo.
Do chão não passa
O final da ajuda de emergência (o coronavoucher) já está custando caro ao presidente Bolsonaro: os que aprovam sua administração caíram de 38% para 32%. A avaliação negativa já supera a positiva: subiu de 35 para 40%.
A queda coincide com a má opinião sobre a luta contra a Covid: 52%. O número vem subindo desde dezembro – a alta agora foi de 4%.
Bolsonaro já caiu e já subiu. Faz parte da oscilação das pesquisas. Parece, porém, que nas atuais circunstâncias, visto como pouco eficiente na gestão da pandemia, e quando desaparece o coronavoucher, seja pouco provável uma oscilação positiva. Algo semelhante ao coronavoucher é do que precisa.
A eleição
Se as eleições fossem agora, Bolsonaro provavelmente ganharia. Nada de avassalador, mas sólido: 28%. Bem longe, seguem-se Sérgio Moro (12%), Ciro Gomes e Fernando Haddad (11%), Luciano Huck (7%), Guilherme Boulos (5%), João Doria (4%), João Amoêdo (3%) e Luiz Mandetta (3%).
Em segundo turno, a pesquisa indica que Moro venceria Bolsonaro, mas num quase empate, dentro da margem de erro: 36% a 33%. Nas últimas pesquisas, Bolsonaro vencia Moro por 36% a 34%. Mas é só Moro: outros candidatos seriam todos derrotados pelo atual presidente. Haddad (42 a 37), Ciro (40 a 37), Boulos (44 a 31) e Huck (38 a 34). Importante: em alguns casos, a diferença pode se ampliar ou se desfazer durante a campanha.
A surpresa
A pesquisa foi realizada pelo IPESPE a pedido da corretora XP, que tem interesse em manter informados seus investidores. A surpresa foi Luciano Huck, que não tem partido, não sabe se vai ser candidato, mas que só perderia de Bolsonaro por 38 a 34 – na verdade, empate técnico, dentro da margem de erro. Mas faltam dois anos, até lá tudo pode (e deve) mudar. Afinal, lá por 2016, quem imaginaria a disparada de Bolsonaro?
Não, por favor, não. Isso não! Você enlouqueceu, parceiro? Numa hora dessas, vai querer que o Ernesto e toda a sua inteligência diplomática entrem em campo? Jura? Que que você tem contra a gente, cara?!
Bom dia, Carlos Brickmann, mas continuo achando que a estatística é a prostituta das matemáticas.
Ridículo, não há transferência de tecnologia, não se criou instalações, não houve capacitação, houve um envasamento rudimentar, não houve capacitação de produção. Somente um ingnorante pode achar que se produz algo saindo do nada. Por favor refaça a sua coluna, produção industrial é outra coisa…..