A Taça chega ao Brasil. Blog do Mário Marinho
A TAÇA CHEGA AO BRASIL
BLOG DO MÁRIO MARINHO
São 13 horas do dia 23 de junho de 1970.
Portanto, hoje, 23 de junho, há 50 anos.
O Boeing que trouxe os heróis do tri desceu em Brasília.
Nesse momento, começou, recomeçou ou continuou uma festa que se iniciara na tarde de domingo, quando o juiz alemão Rudolf Glockner apitou o fim do jogo, Brasil 4 x 1 Itália, que nos deu o tricampeonato mundial e a posse definitiva da Taça Jules Rimet.
O Boeing desceu em Brasília e os jogadores foram recebidos pelo presidente Garrastazu Médici. Multidão esperava no aeroporto e outra multidão se concentrou frente ao Palácio da Alvorada, onde o presidente, ao lado do capitão Carlos Alberto, ergueu a Taça.
Depois de almoçar em Palácio, a comitiva tricampeã do mundo se mandou para o Rio de Janeiro, onde outra multidão acompanhou a chegada no aeroporto do Galeão.
A multidão parecia uma só no percurso de seis quilômetros que separavam o Galeão do Hotel Plaza, onde exaustos e felizes jogadores chegaram por volta das 20 horas.
Essa festa, iniciada no domingo, tomou conta do Brasil. Afinal, depois de oito anos, o Brasil estava novamente no topo dos melhores do mundo, uma trajetória iniciada em 1958, na Suécia, e continuada em 1962, no Chile.
Eu assisti àquela decisão em um apartamento na rua dos Ingleses, Bixiga, em companhia do Kleber de Almeida, então Editor de Esportes do Jornal da Tarde.
Até o começo daquele ano de 1970 eu era repórter. Fui promovido a redator pelo Kleber e, portanto, trabalhando no fechamento do JT daquele domingo.
Excepcionalmente, o fechamento foi comandado pelo Luciano Ornellas, que era subeditor, e que se viu às voltas com o fechamento de um caderno especial de 30 páginas.
A redação do JT era bem no centro da cidade, no quinto andar de um prédio da rua Major Quedinho, 28. Da redação, ouvíamos os sons da festa que vinha das ruas. Eram sons fortes, alegres que um certo ministro da Educação, 50 anos depois, chamaria de balbúrdia.
Fechamos por volta das três da manhã e saímos para jantar.
O Picardia, restaurante de todas as noites, no viaduto Nove de Julho, estava fechado.
Fomos para a churrascaria Eduardo’s que ficava na rua Nestor Pestana, quase esquina de Consolação. Bem ali perto, ficava a TV Excelsior, que era uma espécie de Globo da época, no prédio onde estão hoje as ruínas do Teatro Cultura Artística.
Era uma churrascaria enorme. Estava quase vazia.
Um desconsolado garçom nos explicou:
– Acabou tudo. Bebida, comida, tudo. Não tem mais nada. Estamos fechando.
O jeito foi apelar para onde São Paulo não fechava: a festiva região da avenida São João com praça Júlio Mesquita, a Boca do Lixo.
Foi ali, no restaurante do Papai, que pudemos fazer o nosso jantar comemorativo.
Éramos uns cinco ou seis. Lembro-me do Roberto Avallone, do Paulo Moreira Leite que, na época, era chamado de Paulinho Foca.
Por volta das cinco da matina, eis que adentra o restaurante uma figura sorridente, de terno branco, cumprimentando a todos e se dirige à nossa mesa: Cauby Peixoto.
Foi uma agradável coincidência, pois, naquela época, o jovem Roberto Avallone cultivava vistoso topete que lhe dava certa semelhança com o simpático Cauby que gostou da comparação. Em fotos até que havia uma certa semelhança, ao vivo, não.
A noitada ainda não havia terminado. Fomos tomar a saideira num apartamento que ficava na avenida General Jardim, ali perto.
Nessa época, moravam lá Belmiro Sauthier, Jovem Gui e o Uirapuru Mendes, o Puru.
Jovem Gui e o Belmiro estavam no México, na cobertura da Copa (Vital Battaglia era o outro repórter do JT na Copa)
Puru foi o anfitrião.
Os três, Gui, Puru e Belmiro moram hoje no céu.
O último a chegar foi o Belmiro. Há dois dias.
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Mário Marinho – É jornalista. É mineiro. Especializado em jornalismo esportivo, foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.
(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS
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Belíssimas recordações, triste momento, a vida é assim…