Copa de 1970 – Contra a Inglaterra, o jogo mais difícil. Blog do Mário Marinho
COPA DE 1970
CONTRA A INGLATERRA, O JOGO MAIS DIFÍCIL
BLOG DO MÁRIO MARINHO
O encontro Brasil x Inglaterra era o mais esperado de todos na primeira fase da Copa do México, pois reunia o Brasil, campeão em 1958 e 1962, e a Inglaterra, campeã em 1966.
A Seleção Inglesa chegou ao México e logo comprou uma briga indigesta: os mexicanos não gostaram de saber que eles traziam milhares de litros de água mineral da Inglaterra, pois não confiavam na pureza da água mexicana.
Na verdade, havia um boato internacional de que a água mexicana provocava forte diarreia. Os ingleses procuraram se precaver porque o boato tinha razão de ser, já que em algumas localidades, turistas sofreram e até chegaram a ser internados vítimas de terrível diarreia que, maldosamente, era apelidada de Vingança de Montezuma.
Naquele dia 7 de junho seria disputada a segunda rodada da Copa. Na primeira, enquanto o Brasil passou com tranquilidade pela Checoslováquia, 4 a 1, a forte Inglaterra sofreu para vencer a Romênia: 1 a 0.
Para esse jogo, o Brasil teve um sério desfalque: Gérson, o Canhotinha de Ouro, o cérebro do time, ficou de fora e foi substituído por Paulo César, o Caju.
Quando assumiu a Seleção, no lugar de João Saldanha, Zagallo escalou Paulo César como titular, colocando Rivellino no banco.
Mais do que a troca de um jogador por outro, a modificação sinalizou também mudança no esquema tático: com PC o time seria mais defensivo. O que não agradou à torcida.
Paulo César foi vaiado em todos os jogos preparativos para aquela Copa. E a vaia, era, realmente, mais pela opção defensiva do que pelo jogador.
Afinal, PC era um ótimo jogador.
Mas, o ótimo jogador estava longe de ser um Gérson com seus lançamentos magistrais. A verdade é que a seleção perdeu sim, mas Paulo César foi um dos grandes nomes daquele jogo.
Jairzinho fez o gol da vitória, 1 a 0, numa jogada iniciada por Tostão que passou a Pelé e este a Jairzinho. O Furacão da Copa não perdoou e marcou.
Foi um jogo tenso, muito disputado, um encontro de gigantes.
Ficou marcado, também, pela espetacular defesa do goleiro inglês Banks, numa cabeçada de Pelé.
A jogada foi perfeita para sair o gol: o cruzamento de Jairzinho encontrou Pelé na área; o rei subiu mais que seu marcador, arqueou o corpo e cabeceou forte, para baixo, como manda o manual. A bola quicou já dentro da pequena área rumo ao destino certo: o gol. Mas, ai, encontrou a mão direita de Banks que fez a defesa até hoje considerada a maior de todas as Copas (foto ao alto).
Outra jogada que ficou marcada foi a defesa de Félix para uma cabeçada do atacante inglês Lee, à queima roupa.
Félix, é bom que se diga, não era uma unanimidade como goleiro. Durante muitos anos ele defendeu a Portuguesa de Desportos de São Paulo (total de 305 jogos) sendo sempre considerado um goleiro médio.
Em 1968 ele foi para o Fluminense carioca (ficou até 1978, disputou 319 jogos) e em 1970 foi convocado para a Seleção.
Mas, a defesa que ele fez foi simplesmente espetacular. E, no lance, ele foi atingido pelo atacante Lee. Ficou a dúvida: foi proposital ou não?
O certo é que Lee voltou a atingir o goleiro Félix e isso incomodou os jogadores brasileiros.
Aqui, eu trago o relato do capitão do Time, Carlos Alberto Torres.
Quando eu fiz cobertura diária do Santos para o Jornal da Tarde, tinha em Carlos Alberto um informante seguro sobre o que acontecia nos bastidores do time Santista.
Pouco depois da Copa de 70, me encontrei com Carlos Alberto na Vila Belmiro e ele me fez o relato a seguir.
“Aquele loirinho (Lee, camisa 7) deu duas entradas violentas no Felix. Pensei comigo: alguém tem que parar esse cara. Na primeira chance, chamei o Pelé de lado e falei: Negão, pega o cara. Esse cara tá muito folgado. O Pelé era muito consciente de sua importância em campo. Me respondeu:
Não dá. Se eu pegar ele, o juiz vai me colocar pra fora. Vi que não tinha outra saída. Na primeira bola que o loirinho pegou, eu sai da lateral, fui encontrar com ele e peguei ele forte, bem forte. O juiz me deu cartão amarelo e o loirinho não voltou mais.”
Eu me lembro claramente dessa jogada.
Eu assisti ao jogo na redação do Jornal da Tarde (naquela época, na rua Major Quedinho, 28, 5º andar). A sensação que tivemos é que o Carlos Alberto seria expulso. Foi jogada pra cartão vermelho.
Aliás, o juiz Abraham Klein, perdeu a chance de entrar para a história e aplicar o primeiro cartão vermelho de uma Copa do Mundo.
Isso porque a Copa do México marcou a estreia do uso de cartão em Copa do Mundo.
O cartão foi criado após a Copa do Mundo da Inglaterra para facilitar e deixar claro a comunicação do juiz com os jogadores e mesmo com a torcida.
Sua inspiração foi a sinalização de trânsito: amarelo para chamar atenção e vermelho funcionando como um “pare!”.
Felizmente, mister Klein, de Israel, não se deixou levar pelo desejo de aparecer.
O Brasil jogou com Felix; Carlos Alberto, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo e Paulo César; Jairzinho, Tostão, Pelé e Rivellino.
Veja os principais lances:
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Mário Marinho – É jornalista. É mineiro. Especializado em jornalismo esportivo, foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.
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