1970 – Começa a nossa Copa. Blog do Mário Marinho
1970 – COMEÇA A NOSSA COPA
BLOG DO MÁRIO MARINHO
Era a tarde fria e seca de quarta-feira, 3 de junho de 1970, e o País iria parar.
Não o dia todo, pois o jogo de estreia do Brasil na Copa de 1970, no México, contra a Checoslováquia, será às 19 horas, pelo horário brasileiro, o que significava 17 horas no tórrido verão mexicano.
A Copa começara no domingo. No jogo de abertura, os donos da casa arrancaram o que foi considerado um bom resultado: 0 a 0 contra a União Soviética, perante 107.160 mil espectadores no estádio Azteca, na capital do México.
Nossa seleção saiu do Brasil com pouco crédito entre os torcedores e a Imprensa.
Nas eliminatórias, dirigida por João Saldanha, a Seleção vencera todos os seus jogos contra a Venezuela, Colômbia e Paraguai, jogos de ida e volta. E vencera bem.
A Seleção era tratada pela torcida como “As feras do João”.
Isso foi em 1969.
No começo de 1970 João Saldanha entrou em rota de colisão com a Imprensa, os Militares, com o técnico Yustrich a quem ameaçou dar um tiro e até com Pelé a quem acusou de ter problemas nas vistas e, por isso, não estar jogando bem.
Saldanha caiu e em seu lugar foi chamado o jovem Zagallo.
Nos amistosos preparatórios, a Seleção não voltou a mostrar o futebol exuberante das Eliminatórias e chegou a ser vaiada.
E assim viajou sem muita fé por parte do torcedor.
A Copa do Mundo do México foi a primeira a ser transmitida pela televisão diretamente para todo o mundo e a cores. Menos para o Brasil onde o progresso da tevê a cores ainda não havia chegado.
A Seleção foi para o México com bastante antecedência para se aclimatar às grandes altitudes.
Revelou-se, então, que a nossa Seleção foi muito bem preparada física e psicologicamente para enfrentar o terrível adversário da altitude.
O mundo ainda não era a pequena aldeia global de hoje. A Europa ainda ficava lá na distante Europa e não praticamente na janela de sua casa, ao alcance das comunicações rápidas, fáceis e imediatas de hoje.
Assim, não se tinha muita informação da Seleção da Checoslováquia.
No capítulo comunicação, a Globo também ainda não era a grande Globo de hoje e a transmissão pela televisão só foi possível graças à formação de um pool já que nenhuma emissora tinha grana o suficiente.
Assim, uniram-se a Globo, a Tupi e mais a REI (Rede de Emissoras Independentes que formaram um grupo e compraram uma copa de transmissão).
Cada um dos três Grupos transmitia durante alguns minutos.
Assim, na mesma transmissão, ouviam-se as vozes e Geraldo José de Almeida e os comentários de João Saldanha, pela Globo; Walter Abrahão com os comentários de Geraldo Bretas, Oduvaldo Cozzi ou Rui Porto, pela Tupi; e a narração de Fernando Solera ou Luiz Noriega com os comentários de Leônidas da Silva, pela REI.
Veja o anúncio da transmissão de um dos jogos publicado no Estadão:
O Brasil, escalado por Mário Jorge Lobo Zagallo, faz sua estreia com Félix; Carlos Alberto, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo e Gérson; Jairzinho, Tostão, Pelé e Rivellino.
Logo aos 11 minutos, a primeira surpresa: o atacante Petras faz 1 a 0.
Segunda surpresa: Petras se ajoelha e faz o nome do Pai.
Mas, como?!?! Ele é comunista e reza como um católico??? Pois foi.
Porém, o time do Brasil era muito bom e estava bem treinado e bem escalado por Zagallo.
Assim, aos 24 minutos, depois de criar e perder algumas chances, Rivellino faz, de falta, o gol de empate.
Foi o primeiro chute que acabou por render-lhe o apelido de “Patada Atômica” dado pela apaixonada imprensa mexicana.
O primeiro tempo terminou assim, 1 a 1, mas ainda tivemos a magistral jogada de Pelé que quase marca do meio de campo, surpreendendo um apavorado goleiro Viktor.
Esse seria o primeiro-quase-gol de Pelé naquela Copa.
Aos 14 minutos do segundo tempo, Gerson faz lançamento espetacular no peito de Pelé que ajeita e coloca o Brasil na frente: 2 a 1.
Dois minutos depois, outra obra prima de lançamento de Gérson, desta vez para Jairzinho que dá um chapéu no goleiro Viktor e faz 3 a 1.
Aos 26, Pelé rola para Jairzinho que dribla três adversário antes de marcar e encerrar o placar: 4 a 1.
Exibição de gala da Seleção Brasileira.
Fim de jogo, o povo vai às ruas para comemorar.
Nosso próximo adversário será a Inglaterra, no domingo.
Os ingleses são os campeões do mundo e temidos, também, pelo seu forte jogo aéreo.
Prepare seu coração.
Veja os gols da vitória sobre a Checoslováquia.
—————————————————————————————-
Mário Marinho – É jornalista. É mineiro. Especializado em jornalismo esportivo, foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.
(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS
NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)