Rir ainda é o melhor remédio. Blog do Mário Marinho
RIR AINDA É O MELHOR REMÉDIO
BLOG DO MÁRIO MARINHO
Dentre seu bom time de colunistas, o Estadão tem o Daniel Martins Barros, um psiquiatra, que escreve às quintas-feiras, a cada 15 dias.
Suas abordagens são sempre diferenciadas.
Nessa semana, sua coluna traz o intrigante título “Já pode rir?” discute o humor nesse momento escarpado e azedo em que vive o mundo.
Apesar do seu lado mercantilista, lado do dinheiro que corre às pampas, o futebol, reafirmo, pode ser uma válvula de escape.
Não aquele negócio de tachar o futebol de ópio do povo, expressão que, felizmente, caiu em desuso.
Mas também o futebol sofre as agruras desses tempos bicudos.
Campo fértil para as discussões, explosões de amor e ódio, ciúme e desconfiança, lágrimas e sorrisos, o futebol tem ótimas histórias, ótimos protagonistas.
Assim, resolvi escrever o blog de hoje sem citar a palavra pandemia – êpa, falei na diaba! óia só…
A ideia é aliviar, oferecer descanso, prazer.
Daí, puxei pela memória caso acontecido há umas três ou quatro décadas quando o mundo ainda não tinha celular.
O caso aconteceu com dois amigos: o Alan que foi um excelente ponta-direita com carreira profissional e o Vitão que foi centroavante, mas, cujo futebol começou e morreu nos campos de várzea.
Vamos ao caso.
Era começo de tarde de um sábado de verão, na cidade de Osasco, São Paulo, lá pelo final dos anos 70.
Alan havia sido um ponta-direita ágil, driblador, revelado pela Ponte Preta de Campinas. Em 1970, a Ponte conquistara o título de vice-campeã paulista e só perdeu o título para o São Paulo graças a uma mãozinha do então juiz e hoje comentarista aposentado da tevê Globo, Arnaldo César Coelho.
O ataque ponte-pretano impunha respeito: Alan, Dicá, Manfrini, Roberto Pinto e Adilson. Com com seus dribles infernais, Alan foi para o Vasco da Gama, onde as chuteiras assassinas de um violento lateral lhe arrebentaram o joelho, colocando ponto final precocemente numa carreira que se anunciava brilhante.
Naquele sábado, Alan encontrou-se com Vitão, outro boleiro, cujo futebol ficou nos campos da várzea e convidou:
– Vitão, vamos tomar um chopinho?
– Claro!, animou-se o amigo, lamentando em seguida: mas aqui em Osasco não tem uma boa choperia.
– Topa ir até Santos?
Lá se foram os dois. Ao passarem pelo aeroporto, olharam-se, cúmplices. Vitão antecipou:
– E se a gente fosse para o Rio?
Eram outras épocas, tempos mais simples que possibilitavam doces irresponsabilidades. Estacionaram o carro, compraram passagem pela Ponte Aérea e se mandaram para o Rio.
Lá na Cidade Maravilhosa, já no fim da tarde, depois de muitos chopes, estimulados pelo calor carioca e pela deslumbrante paisagem de Ipanema, resolvem ficar no Rio.
Vitão pede ao garçom um telefone sem fio (última palavra em termos de modernidade da época) e liga para a mulher.
– Cecília, meu bem, nós estamos aqui no Rio, na praia de Ipanema.
– Cê está é bêbado, responde Cecília.
– Calma, meu bem. Nós estamos aqui, eu e o Alan.
– Para com isso, você está completamente bêbado, insiste ela que conhecia bem a peça.
– Eu tô ligando pra te dizer que nós vamos ficar aqui no Rio. Vamos dormir aqui.
– Vitão, para com isso. Cê está bêbado, tá enrolando a língua, nem fala direito…
– Tá bom, não acredita em mim, então fala com o Alan.
– Oi Cecília, nós estamos aqui em Ipanema… falou com a voz igualmente pastosa.
– Cê também tá completamente bêbado, Alan.
– Cecília, nós vamos ficar aqui.
– Tá bom, tá bom. É melhor ficar por aí mesmo, disse resignada. Nenhum de vocês dois tem a menor condição de dirigir.
Liberados, os dois boleiros encheram a cara. Na manhã do outro dia, ainda não totalmente refeitos do fogo do sábado, tomaram um café da manhã reforçado, deram pequeno passeio pelas calçadas, só para ver mais de perto as atrações da bela praia de Ipanema, e resolveram:
– Vamos tomar um chopinho…
E lá se foi a manhã, a hora do almoço… Quase no final da tarde, resolveram que era hora de voltar a São Paulo.
No avião, pegaram no sono, mas o tempo de voo não foi o bastante para curar o fogo de dois dias seguidos de bebedeira.
Na Pauliceia, buscaram o carro no estacionamento onde Alan havia deixado o carro.
Vitão abriu mão da carona. Coisa de bêbado:
– Vou de táxi. Não quero dar trabalho. Não precisa me levar em casa.
(Só para lembrar, também não havia Uber na época)
Frase ditas com a autoridade exigente e própria do bêbado e com a facilidade possível dada a quantidade de chope.
Vitão entrou em casa meio sorridente meio ressabiado meio cambaleando:
– Sabe amor, tava um calorzão lá no Rio…
– Cê tá bêbado até agora!
Cecília nunca acreditou que o maridão tinha mesmo ido ao Rio…
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Mário Marinho – É jornalista. É mineiro. Especializado em jornalismo esportivo, foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.
(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS
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