Enfim, uma boa notícia, Por Edmilson Siqueira
ENFIM, UMA BOA NOTÍCIA
EDMILSON SIQUEIRA
…agora o ministro Paulo Guedes e sua equipe presentearam o Brasil com um pacotaço de medidas que, se aprovadas, podem melhorar e muito a administração pública. Esta sim é uma grande notícia que os bolsonaristas deveriam propagar por todas as redes sociais e pressionar o Congresso para aprová-las sem a tal desidratação…
Os bolsonaristas mais fanáticos vivem enchendo as redes sociais de números ou ações do atual governo, muitas vezes comparando-os com dados de governos recentes, para mostrar o “grande avanço” que Bolsonaro está implementando no Brasil. Infelizmente, não é bem assim. Em primeiro lugar, comparações podem ser enganosas quando um dos dados é muito fraco. Nesse caso o percentual cresce espetacularmente, mas, no fundo, é uma merreca. Um PIB de 0,8% é oito vezes maior que um PIB zerado, mas está muito longe de ser bom ou mesmo de começar a resolver os problemas do Brasil. Do mesmo modo que a criação de 180 mil vagas de emprego em um ano, pode ser uma dado importante, afinal vagas estão sendo criadas, mas nesse ritmo, em dez anos teremos criado 1,8 milhão de vagas, o que nem arranha a necessidades de empregar, hoje, cerca de 12 milhões de desempregados, sem contar os jovens que entram no mercado em busca de uma ocupação remunerada..
Há outras ações em obras, como as da transposição do rio São Francisco, mostradas com orgulho por aí. É claro que é bom que a obra tenha prosseguimento, mas isso é obrigação de qualquer governo. Aliás, é mais que obrigação que todas as obras necessárias para o país nunca sofram paralisação ou sobrepreço e que haja punição aos responsáveis por usarem as obras para enriquecimento ilícito. Isso é obrigação mínima de qualquer governo.
A ânsia dos bolsonaristas por mostrar obras que o novo governo estaria realizando era tanta que até a perfuração de poços no Nordeste, feita há mais de dois anos, andou visitando as redes sociais como obra do valente Exército Brasileiro, executadas por ordem do capitão-presidente. Não eram.
A grande e boa notícia do governo Bolsonaro até agora foi a aprovação da reforma da Previdência, que sofreu inúmeros solavancos e acabou resultando numa frustração de cerca de R$ 400 bilhões que foram retirados do projeto original, mantendo algumas mamatas de algumas categorias e impedindo que uma Previdência privada, mais moderna, fosse instituída. É apenas menos mal e está tão longe do ideal que experts na área já informam que, dentro de uns dez anos, será necessária nova reforma.
Mas agora o ministro Paulo Guedes e sua equipe presentearam o Brasil com um pacotaço de medidas que, se aprovadas, podem melhorar e muito a administração pública. Esta sim é uma grande notícia que os bolsonaristas deveriam propagar por todas as redes sociais e pressionar o Congresso para aprová-las sem a tal desidratação.
…Essa pressão se torna cada vez mais necessária diante dos confrontos que a “família encrenca” cria diariamente. Vários analistas já disseram que as crises todas criadas pelo núcleo mais próximo do presidente acabam gerando um mal estar tão grande na classe política e empresarial que o clima para aprovação de projetos importantes para o país acaba sendo contaminado e as votações acabam se transformando em campos de batalhas e vinganças…
A começar pelo fim de mais de 50% dos municípios brasileiros criados por interesses políticos. São municípios de menos de cinco mil habitantes, cuja arrecadação não cobre suas necessidades, pois gastam a maior parte – ou tudo que arrecadam – para sustentar a máquina pública: prefeito, secretários, servidores municipais, vereadores etc. Ou seja: são municípios antropófagos, que engolem todo o dinheiro ali arrecadado antes que ele se destine aos cidadãos que o entregou ao poder para recebê-lo de volta em obras e serviços públicos. O fim deles dará um salto qualitativo na arrecadação e na vida de milhões de brasileiros.
Todas as outras medidas do pacote econômico são importantes também, embora técnicas e muitas vezes de difícil compreensão para as pessoas comuns, mas com resultados que serão palpáveis, como a ferramenta para contingenciar temporariamente o orçamento de estados e municípios; a criação do estado de emergência fiscal proibindo despesas obrigatórias e reajustes salariais em momentos de crise fiscal intensa; a proibição de governos em situação financeira esgarçada de dar reajustes a servidores, criar cargos, reestruturar carreiras ou criar verbas indenizatórias; a de reduzir em 25% a jornada e o salário dos servidores públicos para melhorar as contas públicas; a suspensão de concursos por dois anos e a extinção de mais de 200 fundos públicos cujas receitas estão paradas, e usar esse dinheiro para diminuir a dívida pública etc.
Todas essas medidas, e outras que também estão no pacote precisam ser aprovadas. Seria bom que a militância que tanto se arvora em espalhar feitos que nada mais são que obrigação do governo, se atirasse com o mesmo entusiasmo em propagar e defender essas medidas, como forma de pressionar o Congresso a aprová-las, de preferência, na íntegra.
Essa pressão se torna cada vez mais necessária diante dos confrontos que a “família encrenca” cria diariamente. Vários analistas já disseram que as crises todas criadas pelo núcleo mais próximo do presidente acabam gerando um mal estar tão grande na classe política e empresarial que o clima para aprovação de projetos importantes para o país acaba sendo contaminado e as votações acabam se transformando em campos de batalhas e vinganças que frustram debates cujos resultados, a princípio, eram amplamente favoráveis ao governo.
Por isso, a militância precisa dar uma força. Que parem, ou pelo menos diminuam consideravelmente, as postagens de briguinhas partidárias, de destruição de reputações de pessoas que até a semana passada eram “maravilhosas”, de meter o pau na Globo num atitude inútil, ridícula, infantil e baseada em mentiras. Deve ser difícil para alguém com boas intenções, como o ministro Paulo Guedes, ter de responder sobre o humor presidencial ou sobre as travessuras dos três zeros à esquerda quando deveria estar defendendo seus projetos.
Enfim, as medidas econômicas, urgentíssimas para o Brasil, precisam ir adiante. Mas não irão se o trato político continuar sendo de elefante em loja de cristais. Ou o governo Bolsonaro entende que governar é uma arte de conciliar partes em desacordo, de ouvir a todos e tomar decisões amadurecidas, de ser verdadeiramente um líder de seus pares e de que governa para todo o Brasil, ou corremos o risco de ver uma equipe, com excelentes projetos e intenções, ter frustradas todas as suas tentativas de fazer o país ir ao encontro de um destino melhor.
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Edmilson Siqueira– é jornalista