Os erros e os mantras. Por Edmilson Siqueira
OS ERROS E OS MANTRAS
EDMILSON SIQUEIRA
…surge um bolsonarista raiz com as perguntas que já estão se tornando mantras, tamanha a constância de uso delas: “Você quer a corrupção de volta?”. “Você quer que os petistas continuem no governo?”. Você prefere os comunistas?” Claro que não prefiro nada disso, mas as perguntas estão erradas, como errado está o presidente ao fazer tanta asneira, ao complicar o que poderia ser simples, ao faltar com o respeito a muita gente ao usar palavras grosseiras contra os que ele considera inimigos (e raramente o são), ao mentir sobre fatos históricos apenas para atiçar seus fanáticos seguidores contra jornalistas…
Toda vez que alguém critica o governo de Jair Bolsonaro por alguma declaração ou ação completamente destoante do que se espera de um presidente da República, surge um bolsonarista raiz com as perguntas que já estão se tornando mantras, tamanha a constância de uso delas: “Você quer a corrupção de volta?”. “Você quer que os petistas continuem no governo?”. Você prefere os comunistas?”
Claro que não prefiro nada disso, mas as perguntas estão erradas, como errado está o presidente ao fazer tanta asneira, ao complicar o que poderia ser simples, ao faltar com o respeito a muita gente ao usar palavras grosseiras contra os que ele considera inimigos (e raramente o são), ao mentir sobre fatos históricos apenas para atiçar seus fanáticos seguidores contra jornalistas, enfim, estamos diante de um mandatário nacional que comete um erro grosseiro por dia, às vezes mais que um.
Governar um país do tamanho do Brasil, onde vicejam suécias e etiópias convivendo sem fronteiras, exige muito mais que um presidente simplório eleito numa onda conservadora, desenvolvimentista e antiesquerdista. Exige uma equipe coesa e um programa de governo factível, realista.
Outro mantra, um pouco diferente dos anteriores e que aparecido com frequência é “ah, mas esse é o jeito dele mesmo, temos que nos acostumar…” Pois é, seria o mesmo que dissessem, em passado recente, que a dislexia daquela mulher que ocupou a mesma cadeira que Bolsonaro ocupa hoje era normal, que precisávamos só nos acostumarmos com os ventos ensacados, com o cachorro da criança, com a particular matemática que transitava por aquele cérebro conturbado. Não, não nos acostumamos, nem, aliás, nos divertimos. Apenas sofremos sendo dirigidos por alguém incapaz que, por burlar a lei, foi defenestrada legalmente do poder.
Bolsonaro é incapaz? Ainda não é possível chegar a essa conclusão, mas o poder quando é muito grande, tem de ser usado com extrema responsabilidade, com humildade e com uma boa dose de inteligência, atributos que parecem faltar ao chefe atual da Nação.
Governar um país do tamanho do Brasil, onde vicejam suécias e etiópias convivendo sem fronteiras, exige muito mais que um presidente simplório eleito numa onda conservadora, desenvolvimentista e antiesquerdista. Exige uma equipe coesa e um programa de governo factível, realista. E coragem, muita coragem para enfrentar os percalços que uma democracia costuma colocar no caminho dos governantes. Como, por exemplo, arrasar um país, como o PT fez, entregá-lo para um adversário e ir fazer oposição àquele que terá de reerguer um gigante transformado em escombros.
A troca de ministros desde a primeira hora e a revelação de que pelo menos um deles foi indicado por um guru que acredita em horóscopo (e que logo foi dispensado por incapacidade administrativa) mostram que não há equipe. Há apenas nomes e alguns muito bons, diga-se, mas que vivem em constantes fogueiras, criadas às vezes do nada ou, pior, criadas por ciúmes da popularidade.
Os recuos em temas caríssimos ao povo brasileiro como a segurança, o nepotismo e a corrupção, revelam a face obscura que o eleitor pensava não existir no militar reformado que apontava suas armas virtuais para os ninhos de corrupção que proliferavam no país.
A falta de enfrentamento dos inimigos internos – no Legislativo e no Judiciário – trazem à tona a falta de coragem, completando o círculo de mais um mau político a governar o Brasil.
Por fim, os mantras “ainda é cedo para avaliar” e “não dá pra mudar o país em oito meses”, talvez sejam os únicos que ainda dão alguma esperança ao cansado eleitor brasileiro. Sim, ainda é cedo e há muita coisa a fazer e que pode ser feita. Só que esse começo, apesar de já ter mudado alguma coisa no Brasil, dá sinais altamente preocupantes de que o eleito, que nunca se encaixou no figurino de “mito” que tentaram lhe vestir, também não se encaixa no modelo mais simples de “Presidente da República”.
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Edmilson Siqueira– é jornalista
Análise sensata, correta, isenta (como sempre). Mas esperar o quê deste país, onde o destaque do dia de ontem pela imprensa foi a fala estapafúrdia do Paulo Guedes e não a ação criminosa de Raquel Dodge?