Covardia e burrice. Por Edmilson Siqueira

…Foi, portanto, a covardia classe política brasileira que transformou o Brasil no que ele é hoje: um país governado por um insano candidato a ditador, que não vê barreira alguma para mentir diariamente, desafiando toda a classe política a se subordinar às suas bravatas indecentes. 

Se os políticos brasileiros não tivessem se acovardado diante dos crimes cometidos por Lula e Zé Dirceu e descobertos em 2005 depois da denúncia de Roberto Jefferson, talvez a situação do Brasil hoje fosse completamente diferente. A cassação de Lula, principalmente depois da confissão de Duda Mendonça de que recebeu milhões de dólares no exterior pela campanha eleitoral petista (um crime previsto em lei) resultaria na subida ao poder de um empresário que, embora petista, era, antes de tudo, um empresário bem-sucedido. José de Alencar, o vice, talvez não impregnasse seu governo de posturas ideológicas de esquerda e nem tivesse planos de se eternizar no poder, podendo se concluir daí que não chefiaria o maior esquema de corrupção que o mundo já viu.

E, com certeza, não criaria corvos que nos furariam os olhos num futuro próximo, pois, não sendo de esquerda e não instigando vinganças contra um passado enterrado, não provocaria o surgimento de “paladinos” carregando a bandeira da ditadura militar como se o negro período da história brasileira tivesse sido apenas de progresso e virtudes.

Foi, portanto, a covardia classe política brasileira que transformou o Brasil no que ele é hoje: um país governado por um insano candidato a ditador, que não vê barreira alguma para mentir diariamente, desafiando toda a classe política a se subordinar às suas bravatas indecentes.

A covardia cobra sempre um preço cruel de quem a pratica. Claro que muitos dos políticos que hoje apoiam a excrescência presidencial, o fazem não por covardia, mas por interesses escusos: veem na fraqueza política e moral do chefete eleito uma ótima oportunidade para ganhar mais dinheiro. Sim, é disso que se trata o apoio que hoje o genocida tem na Câmara e em parte do Senado: dinheiro.

… Pois o preço cruel que a covardia e a desonestidade cobraram do Brasil foi a eleição desse inapto ser humano, que não passaria num exame psicotécnico para dirigir um boteco na periferia…

A votação da PEC do voto impresso mostrou como se compram deputados, o que, obviamente, não é novidade nesse país, mas o exemplo foi cristalino. Às vésperas da eleição, enquanto velhos carros de combate poluíam o seco ar de Brasília, num ridículo desfile de horrores, as raposas do governo liberavam para as raposas da Câmara dos Deputados, mais de 1 bilhão de reais em emendas através do orçamento secreto. Esse dinheiro, todos sabem, vai para governo estaduais e prefeituras para determinadas obras ou ações. Acontece que o deputado que enviou o dinheiro, geralmente é amigo do prefeito ou do governador e participa alegremente da divisão do butim: uma parte para a empresa fazer a obra, outra parte para o chefe do Executivo e outra para o deputado. É assim que funciona há muito tempo, bem antes até do escândalo dos anões do Orçamento, que revelou essa mesmíssima prática. A diferença é que naquela época – lá se vão 28 anos – não havia orçamento secreto como esse inventado no atual governo e que demonstra maior sofisticação  na roubalheira generalizada.

Pois o preço cruel que a covardia e a desonestidade cobraram do Brasil foi a eleição desse inapto ser humano, que não passaria num exame psicotécnico para dirigir um boteco na periferia.

E a covardia atual, aliada à desonestidade total do presidente da Câmara, Arthur Lira, cobrará, mais adiante, um formidável preço ao Brasil, transformando o país num pária do mundo, não apenas no sentido político, por sermos governados por pretensos ditadores de direita ou de esquerda. Mas por ficarmos alheios ao concerto mundial das nações que visam o desenvolvimento sustentável. É o que ocorrerá – ou continuará ocorrendo – a partir de 2023, caso o segundo turno das eleições do ano que vem tenha na urna eletrônica apenas as tristes figuras de Lula e Bolsonaro. O resultado deverá ser, caso isso ocorra, de menos de um terço dos votos válidos para cada um e outro terço (do total de eleitores) fora das eleições, seja votando em branco, anulando ou se ausentando. Aí teremos mais um presidente sem maioria de votos no país e no Congresso, necessitando comprar o Centrão para governar. Comprando o Centrão, a corrupção continuará impedindo o fim da miséria (os miseráveis continuarão vivendo dos programas sociais e eternizados como curral eleitoral) e continuaremos patinando entre o segundo e o terceiro mundo por mais quatro ou oito anos.

A coisa toda é tão óbvia – a desgraça brasileira, cada vez que se recria, não tem muita novidade – que até os empresários, que costumam se adaptar a qualquer governo desde que tenham lucros, andaram se posicionando através de manifestos. O primeiro deles foi a favor das urnas eletrônicas e contra o voto impresso que a cabeça dura e ignorante do presidente insiste em implantar contra todos os argumentos técnicos e políticos que reprovam a prática coronelista e atrasada de se votar num papel em eleições com poucas opções.

A segunda manifestação de empresários feita hoje, sexta-feira, 13 de agosto, é mais séria ainda, embora com número menor de empresários. Horácio Lafer, da Klabin Celulose, Pedro Passos, da Natura e Pedro Wongtschowski, do Grupo Ultra, todos pesos-pesados, publicaram artigo na página 2 do Estadão, pregando a necessidade de o Brasil sair dessa encruzilhada sem voltar a um passado tenebroso. Dizem eles: “Os leitores desse republicano Estadão têm o papel fundamental de rechaçar os maus políticos, repudiar o populismo, desprezar conchavos, buscar convencer diuturnamente os hesitantes e usar sua influência para espalhar a verdade sobre o custo que nos onera e o triste caminho que estamos prestes a trilhar.”

E deixam claro o que querem dizer: “A solução não está nem em Lula nem em Bolsonaro. O voto é livre e soberano, mas, de tão sério, precisa ser exercido com alto grau de discernimento. Ambos os aspirantes à corrida presidencial já são personagens da História que saberá julgá-los. Quanto a nós, é daqui pra frente, e, por consequência, a partir de 1º de janeiro de 2023, é que o Brasil mostrará tanto a quem dele precisa quanto a quem dele quer se orgulhar.”

E encerram: “Persistir no que já se mostrou errado não será apenas burrice, mas covardia. E, se há que voltar à História, covardia é palavra vã no vocabulário do brasileiro.”

Espero, claro, que o artigo-manifesto não fique restrito a esses três empresários. É de suma importância que a maioria dos eleitores brasileiros deixe de ser covarde ou burra. O que não deu certo não pode continuar nem voltar.

O preço será muito mais alto do que as mais de meio milhão de vidas que estamos pagando agora.

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Edmilson Siqueira– é jornalista

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