Sexo e Medicamento. Por Meraldo Zisman
Sexo e Medicamento
Meraldo Zisman
…Tal desenvolvimento dos medicamentos emprega mais pessoas do sexo masculino, tanto na pesquisa quanto nos testes, onde a maioria das cobaias são homens, sendo rara a presença de mulheres. Por isso – e não poucas vezes – as consequências, por vezes danosas, da medicação ministrada a mulheres somente são detectadas na prática…
Sexo, nos seres humanos e de outros animais, pode ser definido como o conjunto das características orgânicas, fisiológicas e comportamentais que distingue os membros de cada sexo. Pertencer a um sexo é, em regra, uma condição fixa.
Já o vocábulo gênero modifica-se no espaço e no tempo, principalmente com a tomada de consciência de distinções que são construídas socialmente e que podem e devem ser em inúmeros casos ‘desconstruídas’, para que haja igualdade do ponto de vista sociológico.
Dito isso, devo ressaltar a prevalência dos elementos masculinos na mão de obra das pesquisas da indústria farmacêutica, bem como sua prevalência no desenvolvimento de novos medicamentos, tarefa trabalhosa, demorada e cara. As diversas etapas desse processo começam com estudos preliminares ditos “in vitro” (“em vidro”), expressão latina que designa aos processos biológicos que têm lugar fora dos sistemas vivos, realizadas no ambiente controlado de um laboratório, em recipientes de vidro, para conhecer suas propriedades físico-químicas e identificar as qualidades farmacológicas de novos agentes farmacogênicos. Daí passa-se aos testes em animais, chamados de “cobaias”, a fim de produzir conhecimento científico que será utilizado para curar humanos. Tal desenvolvimento dos medicamentos emprega mais pessoas do sexo masculino, tanto na pesquisa quanto nos testes, onde a maioria das cobaias são homens, sendo rara a presença de mulheres.
… Será bom ressaltar ser o sexo uma categoria biológica, enquanto gênero é uma distinção sociológica. Gênero é a construção cultural das diferenças sexuais entre homens e mulheres.
Por isso – e não poucas vezes – as consequências, por vezes danosas, da medicação ministrada a mulheres somente são detectadas na prática. Apesar de recentes recomendações em contrário, permanece na pesquisa de novos medicamentos a desigualdade numérica entre homens e mulheres.
Relembro o clássico episódio da Talidomida, droga desenvolvida por um laboratório alemão, lançada no mercado consumidor no final dos anos 50 do Século passado, tida como de efeito calmante e ansiolítico e receitada para gestantes para controlar as náuseas e a tensão peculiar dos primeiros meses de gravidez.
Alguns meses depois, bebês dessas gestantes que haviam tomado Talidomida começaram a nascer defeituosos, sem braços ou pernas, fato que provocou pânico geral. Acredita-se que quase 100% das mulheres grávidas expostas à Talidomida (substância ativa) durante o período crítico (considerado do 21º ao 40º dia de gestação) geram bebês com alguma malformação.
Após esse desastre as recomendações nas bulas da maioria dos medicamentos contêm a advertência: “Mulheres grávidas e lactantes não devem usar este medicamento e homens que o estejam a fazer devem usar preservativo durante as relações sexuais, mesmo durante 30 dias após o término do tratamento”. Basta à grávida tomar 50 mg da substância que terá, com toda a certeza, um bebê malformado.
A Food and Drug Administration (FDA ou USFDA sigla do inglês), explica que de 1997 a 2001 houve um risco maior à saúde das mulheres do que a dos homens em problemas nas válvulas do coração, arritmias cardíacas potencialmente fatais e falência hepática. Acrescento que a mortalidade por infarto do miocárdio é 50% maior nas pessoas do sexo feminino. A crença popular descreve ser a mulher mais resistente à dor física. Estudos científicos mostram serem as mulheres realmente mais resistentes à dor, embora os homens expressem menos desconforto, mas, mesmo assim, usam drogas analgésicas em maiores quantidades, em comparação com as mulheres.
Será bom ressaltar ser o sexo uma categoria biológica, enquanto gênero é uma distinção sociológica. Gênero é a construção cultural das diferenças sexuais entre homens e mulheres.
Como veterano profissional da saúde, pergunto: Por que as mulheres não lutam também contra essa discriminação do sexo feminino nas pesquisas médicas? Seria porque os testes farmacológicos teriam menos impacto midiático do que o assédio por um macho? Certamente a supressão de um dos sexos nas pesquisas pode prejudicar os resultados de um medicamento, além de ter efeitos adversos.
Digo isso sem machismos ou feminismos.
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SIMPLESMENTE FANTÁSTICA, DR. MERALDO. COMENTO NESTE COM O QUE ESCREVEU NO SEU OUTRO ARTIGO, MULHER:
“Certeza possui este escriba de que, além das explicações sociológicas, antropológicas, econômicas e políticas, há fortes questões inconscientes, na espécie humana, que não permitem a explosão do feminino em sua plenitude psicossomática.
Ou seja, que não permitem à mulher tornar-se inteira de corpo e de alma.”