Mulher. Por Meraldo Zisman
MULHER
MERALDO ZISMAN
… Acredito que a ciência da Psicanálise ou, se desejarem, a Psicologia Profunda demonstra que a espécie humana é bissexual. E que, para assumirmos o nosso sexo, não se faz necessário denegrir o do outro.
A luta da mulher principia, desde quando bebê, pela busca de sua identidade, em um mundo previamente marcado e demarcado, que insiste em colocá-la em segundo plano. Vai muito além, do que pensam os ingênuos, de ser a questão feminina um mero problema de gênero.
Como pessoa, a mulher deve inscrever sua luta, seja na sociedade, na profissão, na política, no trânsito, no trabalho, e em todos os recantos da vida social, para impor a competência da condição feminina. Qualquer que seja o debate, ela deve lutar por seus direitos, sem exaltar ou denegrir o homem desde que são, por natureza, círculos complementares e não antagônicos.
Acredito que a ciência da Psicanálise ou, se desejarem, a Psicologia Profunda demonstra que a espécie humana é bissexual. E que, para assumirmos o nosso sexo, não se faz necessário denegrir o do outro.
…acredito que as lendas foram inventadas a fim de abrandar o nosso psiquismo (o conjunto das características psicológicas de um indivíduo, ou o conjunto dos fenômenos psíquicos ou processos mentais, conscientes ou inconscientes), para atenuar uma circunstância crítica, aliviar a inveja, a voracidade…
Platão (428-347 a.C.) em seu Banquete menciona que, primariamente, o ser humano possuía quatro braços, quatro pernas, duas faces, além de genitália dupla: feminina e masculina. Júpiter, temendo o poder de tal criatura, resolveu dividi-la ao meio, transformando-a em homem e mulher. A partir daí o desejo maior do ser humano passou a ser o de encontrar sua outra metade, para, em um amplexo de desejo, voltar a ser e estar juntos.
A Arqueologia mostra que muitas divindades são repintadas e concebidas através de figuras hermafroditas. Na Bíblia, o mito da bissexualidade foi alterado, quando Eva passou a ser oriunda da costela de Adão. Sem desejar entrar nos méritos religiosos, acredito que as lendas foram inventadas a fim de abrandar o nosso psiquismo (o conjunto das características psicológicas de um indivíduo, ou o conjunto dos fenômenos psíquicos ou processos mentais, conscientes ou inconscientes), para atenuar uma circunstância crítica, aliviar a inveja, a voracidade, a onipotência geradora de preconceitos, tendo no caso, como resultado, a desvalorização do feminino e a exaltação do masculino. Permita-me agora, leitor, divagar, brevemente, para defender este meu ponto de vista.
Uma das profissões mais antigas do mundo, excetuando-se a prostituição, é a de esposa. Ela inicia pela sujeição da menina ao pai e, depois, ao marido. Em outras palavras, o poder paterno será delegado, em fase posterior, ao marido.
Em pleno século XXI, apesar da emancipação feminina, ocorre uma duplicação da jornada de trabalho. E, por mais complexa que seja a atividade profissional de uma esposa, as tarefas domésticas cabem a ela. Galgar altas posições profissionais, fora do âmbito doméstico, não é garantia de mudanças do papel da mulher dentro do lar. Percebe-se que, enquanto o homem ganhou o mundo, a mulher continua tendo portas e janelas como limitantes, e seus sonhos de ganhar o céu esbarram no próprio telhado.
Certeza possui este escriba de que, além das explicações sociológicas, antropológicas, econômicas e políticas, há fortes questões inconscientes, na espécie humana, que não permitem a explosão do feminino em sua plenitude psicossomática.
Ou seja, que não permitem à mulher tornar-se inteira de corpo e de alma.
Meraldo Zisman – Médico, psicoterapeuta. É um dos primeiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Vive no Recife (PE).
PARABÉNS, Dr. Meraldo: “Sem desejar entrar nos méritos religiosos, acredito que as lendas foram inventadas a fim de abrandar o nosso psiquismo (o conjunto das características psicológicas de um indivíduo, ou o conjunto dos fenômenos psíquicos ou processos mentais, conscientes ou inconscientes), para atenuar uma circunstância crítica, aliviar a inveja, a voracidade, a onipotência geradora de preconceitos, tendo no caso, como resultado, a desvalorização do feminino e a exaltação do masculino. Permita-me agora, leitor, divagar, brevemente, para defender este meu ponto de vista.”