“Afirmar que Waack é racista faz tanto sentido quanto acreditar que Lula é inocente”. Por Augusto Nunes
“Afirmar que Waack é racista faz tanto sentido quanto acreditar que Lula é inocente”
Por Augusto Nunes
… incontáveis brasileiros sabem que o país seria muito melhor se houvesse mais gente provida das virtudes que sobram em William Waack…
Publicado no Blog de Augusto Nunes, na Veja online, edição em post de 9 de novembro de 2017
Conheci William Waack há quase 50 anos, quando nossos caminhos cruzaram na Escola de Comunicações e Artes da USP.
Trabalhamos juntos nas redações de VEJA, do Jornal do Brasil e do Estadão. Convivemos sempre em fraterna harmonia.
Orgulho-me da amizade inabalável que me une a um homem exemplarmente íntegro, um parceiro extraordinariamente leal, um profissional que pode ser apresentado como modelo a todo jornalista iniciante. Repórter visceral, excepcionalmente talentoso, William tornou-se o melhor correspondente de guerra do mundo. Exagero? Confiram a cobertura que fez da queda do Muro de Berlim, da insurreição popular que derrubou a ditadura de Ceausescu na Romênia ou da primeira Guerra do Golfo. Os textos que assinou em jornais e revistas lhe garantem uma vaga perpétua no ranking dos grandes nomes da imprensa.
Os livros que publicou reescreveram a História. Nestes tempos escuros impostos aos trêfegos trópicos pelos governos de Lula, do poste que fabricou e do vice que o dono do PT escolheu, William tem sido um dos pouquíssimos jornalistas de televisão irretocavelmente altivos. Manteve a independência, a autonomia intelectual, o respeito à ética, a paixão pela verdade. Sempre viu as coisas como as coisas são. Sempre contou o caso como o caso foi.
Agir assim em países primitivos é perigoso. E no Brasil, como ensinou Tom Jobim, fazer sucesso é ofensa pessoal. Era previsível que, por duas ou três frases ditas fora do ar, virasse alvo do exército dos abjetos. As milícias a serviço do politicamente correto, os patrulheiros esquerdopatas, os perdedores congênitos, os cretinos fundamentais e os idiotas de modo geral — esses não perderiam a chance de atacá-lo.
Vão todos quebrar a cara. Primeiro, porque afirmar que meu velho amigo é racista faz tanto sentido quanto acreditar que Lula é inocente. Depois, porque incontáveis brasileiros sabem que o país seria muito melhor se houvesse mais gente provida das virtudes que sobram em William Waack.
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Augusto Nunes – É jornalista
Armação é armação.
Conveniência é conveniência.
Interesses são interesses.
Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
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1. Episódio: O ator global José de Abreu cuspiu numa mulher e no marido dela num restaurante e, julgando-se um “herói” assumiu o que fez, ao divulgar no Twitter: “Acabei de ser ofendido em um restaurante paulista. Cuspi na cara do coxinha e da mulher dele. Não reagiu! Covarde. Advogado carioca…”. No domingo seguinte José de Abreu foi ao “Programa do Faustão” para justificar o seu ato. Portanto, com anuência da Globo, que lhe cedeu valiosos minutos da TV para que fizesse publicamente sua defesa e marketing pessoal. Afinal, um “herói” também tem o direito de cometer um ou outro lapso comportamental. Logicamente, José de Abreu não foi repreendido. É compreensível que a Globo assim tenha agido, afinal o José de Abreu sempre demonstrou fidelidade à “Causa” e, em particular, à “Causa Global”.
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2. Episódio William Waack: falando “fora do ar”: Indícios que vem se acumulando ao longo dos últimos tempos demonstram que esse episódio veio bem a calhar para os interesses da Globo, preocupada pela audiência e faturamento que vem despencando. Enfim, esse episódio “William Waack” veio de encontro com a “fome com a vontade de comer” e levou a Globo, em desespero para reverter a queda de audiência e faturamento, a apelar em alto e bom som e em imagem “HD”, além de preparar o terreno para se livrar do alto salário William Waack, para demonstrar o quanto “A Globo é visceralmente contra o racismo em todas as suas formas e manifestações. Nenhuma circunstância pode servir de atenuante.”
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3. Ora, cuspir em cidadãos e “gargantear o heroico feito pela Causa” no Twitter, um ator global pode. Desabafar sussurrando uma palavra e demonstrar o que pode ser entendido como preconceito, não pode. Enfim, nesse caso envolvendo William Waack, a Globo deu claros sinais que é pelo Totalitarismo e, consequentemente, estimula o policiamento total, até dos pensamentos e desabafos incidentalmente ocorridos por lapsos de comportamento e resultantes dos mais íntimos conceitos e preconceitos que todo e qualquer humano tem o Direito de concordar ou não, até de formular apenas para o seu próprio íntimo. Se uma pessoa, seja qual o caminho, aceita e compartilha ideais, tem coragem e responsabilidade para assumir seus atos, tem todo o direito de compartilhar aos seus próximos e, se for o caso e circunstâncias, divulgar e debater. Ora, ora! Que raios é essa tal “liberdade de expressão” (e de “imprensa”) tão “defendida” pela Globo e todos os outros veículos da “mídia”? Apenas “faz-de-conta”? Desbragada hipocrisia?
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4. O que é preconceito? Pior que preconceito, seria a hipocrisia?
5. Concluindo, pergunto à Globo Que tal o José de Abreu substituir o William Waack no “Jornal da Globo” e, na GloboNews, no “Painel”?
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AHT
10/11/2017
AHT, concordo com suas observações. Não justificando ser a favor de racismo, muito pelo contrário, algumas expressões utilizadas pela grande maioria dos brasileiros e, em algumas regiões mais frequentes, há sempre um ar pejorativo em certas palavras por conta da situação em questão. A comparação entre William Waack e José de Abreu é pertinente, tendo em vista que o segundo foi intensamente incensado pela Globo e pelo Faustão principalmente, como se sua atitude não fosse de toda deplorável. Ao William não deram a oportunidade de se explicar, se arrepender ou chutar o balde! Parece que voltamos aos tempos da Ditadura quando as patrulhas estavam soltas à caça de culpados por isso e aquilo. Se xingar pessoas desse cadeia, metade dos brasileiros seria presa pelos “elogios” que reservam à nossa vergonhosa classe política, com pouquíssimas exceções.
Concordo com tudo que diz Augusto Nunes. E já adianto: a Globo News já perdeu depois que deixou o Jornal das 10 nas mãos de Renata Lo Prete. Agora afunda dez vez ao se privar do melhor repórter político da TV. A injustiça vai doer mais na Globo que em William Waak
Prezados. Lembram-se de 2009? Lula, sem medo de parecer ridículo – e, pior, de ser – discursou sobre a crise financeira da época, e proferiu seu parecer de expert em tudo: os problemas econômicos do mundo deviam-se, claro, à “gente branca de olhos azuis”. Justificou o inteligente arrazoado adicionando que “não conhecia nenhum banqueiro negro”. Alguém notou que aquilo constituía uma pérola do mais puro racismo? Racismo oficial, no caso! Na grande imprensa, quase ninguém. Triste país, este. Não demorou muito e todos nós, não petistas, fomos chamados de “elite branca”, sendo-nos atribuída a origem de todas as injustiças nacionais. Racistas e cínicos, Luta e seus energúmenos (de cujo time faz parte o desqualificado ex-Globo que denunciou Waack) desejam um país unicolor – marrom. William Waack deve se orgulhar de seus desafetos. Atestam suas qualidades. De minha parte, desde já estou fuçando os canais da TV à procura de Waack. Em breve, competente e digno que é, comandará algum bom telejornal novamente. O Jornal da Globo era, de fato, a única coisa dessa emissora que eu via regularmente. Doravante, pode sumir do ar. Ninguém em casa vai saber.
“Fomos chamados de “elite branca”, sendo-nos atribuída a origem de todas as injustiças nacionais” – você está sugerindo que a origem das injustiças nacionais são os negros e os índios?
“Desejam um país unicolor – marrom” – É isso que somos. Ou você realmente acredita que os brasileiros são “brancos”?
Concordo inteiramente. Digo mais: a categoria não pode abandonar, a irresponsáveis narcisistas, nem à própria Globo, um jornalista que sempre dignificou o lugar de fala da profissão.
“Fomos chamados de “elite branca”, sendo-nos atribuída a origem de todas as injustiças nacionais” – você está sugerindo que a origem das injustiças nacionais são os negros e os índios?
“Desejam um país unicolor – marrom” – É isso que somos. Ou você realmente acredita que os brasileiros são “brancos”?